“A história de São José de Anchieta não acabou. Ele continua trabalhando nesta terra”. A afirmação do padres Jesuítas que trabalham no Espírito Santo se refere ao único homem, que viveu e morreu em solo capixaba, a ser reconhecido como santo pela Igreja Católica. O legado de Anchieta continua vivo, mesmo após os 422 anos de sua morte, completados neste domingo (09).
Por este motivo e por ocasião das festividades do Santuário Nacional de Anchieta, na cidade de mesmo nome, a manhã desta segunda-feira (10) foi de celebrar mais um fato histórico. Alguns dos padres que vivem no Santuário estiveram no Palácio Anchieta, em Vitória, para celebrar uma missa no local onde foi enterrado o corpo do santo. A última vez que um evento do tipo foi realizado no local, foi há 202 anos.
De acordo com o padre Nilson Marostica, reitor do Santuário de Anchieta, a data foi escolhida em alusão ao dia em que a igreja celebra a memória do santo e pela importância que São José de Anchieta tem para a história do Espírito Santo e para o Brasil. “Achamos por bem lembrar essa passagem de Anchieta pelo Espírito Santo, pois aqui ele foi provincial, nessa casa [Palácio de Anchieta], ele foi superior do colégio também. Essa celebração é muito significativa, porque agora ele é declarado santo e tem um significado de resgate histórico da figura de Anchieta, que morou aqui passou por aqui. Um santo passou aqui”, disse.
São José de Anchieta, jesuíta espanhol, veio para o Brasil na comitiva de Duarte da Costa, em 1553, e aqui atuou na catequização de índios e evangelização durante a segunda metade do século XVI. Foi também teatrólogo, historiador e poeta. Além disso, é o único santo que viveu e morreu em terras capixabas. Sua importância cultural, histórica e religiosa para o Espírito Santo é imensurável.
O espaço onde foi celebrada a missa é pequeno e, por este motivo, poucas pessoas estiveram presentes. A liturgia do dia falava sobre a devoção à Maria, fato que fez o reitor do Santuário lembrar do carinho que São José de Anchieta tinha para com a mãe de Jesus. “Anchieta tinha devoção à Nossa Senhora da Conceição, Nossa Senhora da Assunção e a Nossa Senhora da Saúde, para as quais ele dedicou diversas igrejas construídas no Brasil. No início de sua vida religiosa, ele fez um voto à Maria e prometeu fazer um poema dedicado a ela. O poema foi feito com quase seis mil versos. Ele começou escrevendo na areia da praia, decorando e, só depois, passando para o papel”, contou o reitor durante a homilia, que é a reflexão realizada no momento da celebração.
Na oportunidade o vice-reitor do Santuário, padre Bruno Franguelli, fez o lançamento de seu Devocionário, um pequeno livro de orações devotas, de sua autoria, o ‘Devocionário de São José de Anchieta – Apóstolo e Padroeiro do Brasil’. A obra possui biografia, imagens, novena e também algumas orações do santo como, a Oração do Manto, que o protegia das intempéries, a Bênção da Água de Anchieta, a Bênção da Rosa, a Meditação do Santo Rosário, com textos extraídos das valiosas composições do Apóstolo do Brasil, principalmente do “Poema da Virgem”.
No áudio abaixo, padre Bruno relata um pouco da importância de São José de Anchieta para a cultura, para a educação e para diversas áreas no Espírito Santo. Ele também comenta um pouco sobre o devocionário dedicado ao santo. Ouça:
Junto com os padres que celebraram a missa no local, estava um pequeno relicário onde está guardado um pequeno fragmento do osso de São José de Anchieta.
Jesuítas no Espírito Santo
Diante de uma história que guarda a memória dos primeiros padres Jesuítas a pisar em terras capixabas, o trabalho permanece até os presentes dias. Atualmente, o Espírito Santo conta com seis padres que trabalham em duas paróquias: em Anchieta, onde fica o Santuário Nacional dedicado ao santo, e em Iconha, no Sul do Espírito Santo. “Nós temos o trabalho de fé e alegria que são escolas de educação popular. É um trabalho no mundo todo e aqui em Vitória nós temos também. Temos também as Escolas Família, chamada de Mepes, Movimento de Educação Popular no meio rural. Esses trabalhos são levados por jesuítas e leigos”, explicou o reitor do Santuário.
Veja algumas fotos da Missa em memória de São José de Anchieta, realizada no Palácio Anchieta em Vitória. Após a missa, houve o lançamento do Devocionário de São José de Anchieta e uma oração em uma capela do Palácio Anchieta.
Festa de Anchieta
O dia de São José de Anchieta é celebrado em 9 de junho, data em que se faz memória de sua morte. Neste ano, as festividades no Santuário Nacional começaram no dia 6 e seguem até o dia 15 de junho, quando será celebrada a missa principal da festa. “Estamos fazendo uma novena e, nesse ano, a participação está surpreendendo, porque muita gente está buscando as celebrações. Após as missas, temos a quermesse e estamos fazendo em estilo junino, resgatando a memória das quadrilhas e fazendo o povo retomar aquelas as tradições e outras atividades também”, contou o reitor do Santuário.
Dentre a programação do evento, um dos momentos mais marcantes, segundo o reitor, aconteceu na noite deste domingo, quando índios de Aracruz participaram da festa. “Foi um grupo de, aproximadamente, 40 índios. É uma tribo que Anchieta evangelizou e eles existem até hoje. Os índios entraram triunfantes dentro da mesma igreja que antigamente entravam”, contou.