Mais de 80% dos jovens que moram em áreas de alta vulnerabilidade do Espírito Santo, querem estudar, ter uma qualificação profissional e conseguir um emprego. A informação foi confirmada através de um diagnóstico feito pelo Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN), em parceria com a Secretaria de Estado de Direitos Humanos (SEDH) e Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo (FAPES). A pesquisa foi lançada na manhã desta quinta-feira (26), durante uma coletiva no auditório da IJSN, em Vitória.
Durante oito meses, mais de 6 mil crianças, adolescentes e jovens, com idade entre 10 e 24 anos, e que abandonaram os estudos, foram entrevistados nos municípios de Vila Velha, Serra, Cariacica, Vitória, Cachoeiro de Itapemirim, Linhares, Colatina, São Mateus e Pinheiros. Eles são moradores dos 25 bairros atendidos pelo Programa de Ocupação Social.
Entre os que foram ouvidos, 89% pretendem voltar a estudar, com 41% deles buscando alcançar o curso superior; 83% desejam fazer cursos de qualificação profissional, 75% sonham em abrir o próprio negócio e 99% reconhecem que o trabalho é importante para sustentar a família e garantir a educação dos filhos.
Do total de entrevistados, 50,5% são mulheres e 49,5% são do sexo masculino, com idade média de 20 anos e mais de 80% se declararam negros e pardos. O levantamento revela ainda que a renda domiciliar per capita desses meninos e meninas é de apenas R$ 294 por mês, 38% dos jovens estão casados ou vivem juntos e, 43% deles, já têm filho. A formação precoce da família é confirmada também pela média de idade na qual os entrevistados tiveram filho, que é de 17 anos.
De acordo com a diretora-presidente do Instituto Jones dos Santos Neves, Andrezza Rosalém, foi importante identificar, durante a pesquisa, como é a vida desses jovens. “Para propor ações para esse público, é necessário primeiro entender seu universo. A pesquisa precisava apontar o que eles gostam, como se relacionam com arte, esporte, cultura e com quais atividades eles querem aproveitar o tempo deles. Conseguimos entender também o que eles esperam para o futuro”.
Educação e trabalho
Seis em cada dez jovens abandonaram a escola no ensino fundamental. Eles apresentaram baixa escolaridade e 75,5% já reprovaram pelo menos uma vez. Nos bairros Central Carapina e Barramares, o que chama atenção é a porcentagem de entrevistados que declararam não saber ler ou ter dificuldade, 17,5% e 14,8% respectivamente. Entre os principais motivos da evasão escolar estão a falta de interesse (32,7%), a necessidade de trabalhar (24,5%) e casamento e filhos (22,4%). Entre as mulheres o número é ainda mais alarmante, pois 96% pararam de estudar por causa do casamento ou de filhos.
Entre os ocupados, a idade em que os entrevistados começaram a trabalhar foi 15 anos. Quase 70% deles são empregados e pouco mais de 28% atua por conta própria. Mais da metade não possui carteira assinada e recebe abaixo de um salário mínimo, em média R$ 792.
Apesar da precarização dos postos de trabalho, 40% do público alvo da pesquisa afirmou já ter feito algum curso de qualificação profissional. Mas há um distanciamento entre a qualificação e o emprego disponível, o que resulta em 77% de jovens que não trabalham ou nunca trabalharam na área em que cursaram a qualificação profissional.
Futuro
Quase 97% dos jovens acreditam que o estudo é muito importante. A maioria também acredita que é preciso saber aproveitar as oportunidades e trabalhar duro, com persistência. Mais de 86% deles fazem planos para o futuro e a principal dificuldade para alcançar a universidade é a necessidade de trabalhar (21%), seguida pela falta de dinheiro (14%) e dificuldade de acompanhar as aulas (10%).