Após cruzar os braços por sete horas e bloquear 23 dos 31 terminais de ônibus nesta quinta-feira (5), os motoristas do transporte público de São Paulo chegaram a prometer a mesma ação para esta sexta-feira (6).
Nesta quinta-feira, o presidente licenciado do SindMotoristas (Sindicato dos Motoristas e Trabalhadores em Transporte Rodoviário Urbano de São Paulo) e deputado federal, Valdevan Noventa (PSC), havia falado em “paralisação total” e “começo de uma batalha”.
Como consequências, usuários de aplicativos de transporte denunciaram a alta dos preços das corridas, estações de metrô superlotadas e trânsito caótico. A Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) registrou índices de congestionamento acima da média durante a paralisação. Por volta das 17h, o órgão registrou 112 km de engarrafamento (a média é de 57 a 95 km). Cerca de 40 minutos depois, as métricas eram de 113 de trânsito, com média de 63 a 99 km. Às 18h, meia hora depois do anúncio do término do protesto, 120 de entupimento de veículos, para uma média de 67 a 105 km.
Na tentativa de reduzir o caos que se instaurou na capital, a prefeitura suspendeu o rodízio. Dessa forma, os veículos com as placas final 7 e 8 puderam transitar no centro expandido entre 17h e 20h. Nesta sexta, o rodízio também foi suspenso – a ação vale para carros com final 9 e 0.
Enquanto os ônibus não retomavam a circulação, os usuários improvisavam jeitos de retornar para casa. À espera da linha Cohab Educandário, cinco pessoas que não se conheciam até então tiveram tempo de fazer amizade e estavam articulando um plano para dividir um Uber, já que iriam na mesma direção. Parte desse grupo recém-formado, a copeira Edineide de Jesus, 33, havia saído do trabalho na Vila Olímpia de trem até o terminal Pinheiros e precisava continuar viagem até sua casa no Jardim João XXIII. “Amanhã nem saio de casa, a menos que a empresa pague o Uber. Não vou ficar no prejuízo. Já coloquei isso para minha supervisora no nosso grupo de Whatsapp.”
O motivo da paralisação, segundo a categoria, é a gestão de Bruno Covas (PSDB). O sindicato se manifesta contra o que considera o “desmonte” do transporte público e exige o pagamento da PLR (Participação nos Lucros e Resultados) por parte das empresas responsáveis pelo serviço na cidade, além da redução do número de ônibus no sistema. De acordo com a entidade, havia transferência desse dinheiro prevista para esta quinta, o que não teria ocorrido. Ainda segundo o sindicato, 450 veículos foram retirados de circulação e a previsão é de que outros 1.000 sejam retirados recolhidos até o fim do ano.
A administração pública não travou somente uma briga com os motoristas, mas com a Justiça. Desde 2013, a licitação de ônibus vem sendo questionada. No dia 24 de maio, o Judiciário considerou o prazo de 20 anos na prestação do serviço como institucional. A alegação é de que a alteração do prazo (de 15 para 20) estabelecida no contrato não poderia ter sido feita por meio de emenda parlamentar, pois é matéria exclusiva do Executivo. Outro ponto destacado pelo Tribunal de Justiça é que a lei original tratava, unicamente, de concessão dos terminais de ônibus, e não do serviço de transportes. A licitação paulista é uma das maiores do país, totalizando R$ 71 bilhões.
O sistema que a prefeitura quer implantar resume a redução do número de ônibus. O projeto, anunciado no dia 24 de abril, prevê diminuição de 146 linhas de coletivos da cidade e uma perda de 646 veículos em operação. Atualmente, são 1.339 linhas e 13.591 ônibus. Por sua vez, a prefeitura diz que irá aumentar a oferta de lugares disponíveis e eficiência e reduzir custos.
Na noite desta quinta-feira, o TRT (Tribunal Regional do Trabalho) concedeu uma liminar determinando que o transporte público seja mantido em no mínimo 70% nos horários de pico da manhã (6h às 9h) e da tarde (16h às 19h). Nos demais horários, a determinação é de que se mantenha no mínimo 50%. No caso de não cumprimento, a multa diária será de R$ 100 mil reais. O sindicato prometeu acatar a decisão.