A participação das mulheres nas cooperativas do Espírito Santo tem crescido nos últimos anos, conforme aponta o Primeiro Anuário do Cooperativismo Capixaba. A publicação indica que, de 2017 para 2019, houve um aumento de 39,65% na inserção de cooperadas nas cooperativas do estado. Ainda em 2019, as mulheres representaram 58,5% do total de pessoas empregadas pelas cooperativas capixabas. Esses dados mostram que as mulheres chegaram para ficar, multiplicar conhecimentos e deixar legados na história do cooperativismo.
Exemplos de lideranças inspiradoras, a diretora de Recursos Próprios da Unimed Vitória, Dra. Karla Toríbio Pimenta, e a gerente administrativa e Agente de Desenvolvimento Humano (ADH) da Cooperativa dos Cafeicultores do Sul do Estado do Espírito Santo (Cafesul), Natércia Bueno Vencioneck, contam as suas trajetórias e conquistas no cooperativismo capixaba.
Dra. Karla Toríbio: a primeira mulher a integrar a diretoria da Unimed Vitória
A jornada da Dra. Karla Toríbio Pimenta no cooperativismo capixaba começou no ano de 1996, no Ramo Saúde. Na época, ela concluía o seu período de residência e, ao conhecer os princípios do modelo de negócio cooperativista, decidiu iniciar sua carreira profissional dentro dele.
Para a doutora, o diferencial do cooperativismo reside no fato de ele realizar um equilíbrio entre o processo democrático, a promoção de melhores oportunidades para todos, o fomento à coletividade – por meio de uma economia colaborativa – e o compromisso com o desenvolvimento econômico, o bem-estar social e o meio ambiente.
“Somos regidos por princípios nobres que visam olhar para todos ao nosso entorno e não apenas para os associados. Acredito muito que é isso que torna o modelo de negócio cooperativista um sucesso. Escolhi esse caminho há 24 anos por acreditar nele”, conta.
A filosofia cooperativista também teve efeitos positivos diretos sobre a carreira da Dra. Karla Toríbio. Eleita a primeira mulher na diretoria da Unimed Vitória, ela aprecia a difusão de valores como a ética, o respeito, a transparência, a liderança e o acolhimento em seu ambiente de trabalho.
“Sempre me pautei e me identifiquei com esses valores e, por essa razão, segui carreira no ambiente cooperativista. No atual momento de pandemia, em que todos fomos desafiados, esse ambiente fez toda a diferença no nosso jeito de cuidar”, relata.
De forma progressiva, nota-se que as mulheres têm encontrado mais espaço e oportunidades no movimento cooperativista. Em alguns casos, elas respondem à maior parte do quadro de colaboradores, como acorre no Ramo Saúde. De acordo com o Primeiro Anuário do Cooperativismo Capixaba, em 2019 elas constituíram 74,28% do quadro de colaboradores.
A diretora de Recursos Próprios da Unimed Vitória reconhece a importância de ampliar a liderança feminina para superar desigualdades no âmbito do trabalho formal. Partindo do índice exemplar de mulheres atuantes em sua cooperativa, Toríbio sente a necessidade de outras empresas, negócios e organizações também abrirem cada vez mais espaço para o público feminino.
“As mulheres se destacam por sua competência, comprometimento e por saberem dosar razão e sensibilidade na tomada de decisões. Elas são múltiplas, têm uma visão holística, perseguem metas e se dedicam à entrega. A área de saúde só tem a ganhar com a gestão feminina, que tem foco em processos, qualidade, segurança, compromisso com a melhor jornada do paciente e empatia, qualidades que só agregam aos times internos e fazem total diferença nos desafios do dia a dia”, avalia Dra. Karla Toríbio.
Gestões transparentes, que enxergam homens e mulheres com habilidades iguais e oferecem oportunidades de crescimento e desenvolvimento para todos são o caminho para um maior incentivo à liderança feminina.
Ciente dessas necessidades, o Sistema Unimed emprega, hoje, mulheres em diversos setores e, assim, promove a igualdade de gênero dentro das suas unidades. É o que atesta a diretora de Recursos Próprios da Unimed Vitória.
“No Sistema Unimed, as mulheres ocupam, hoje, 76% dos cargos de liderança. A gestão da qual participo junto com o diretor-presidente da Unimed Vitória, Fernando Ronchi, além de excelentes resultados operacionais e financeiros, entrega igualdade de oportunidades para todos os colaboradores”, diz.
Natércia Bueno: uma liderança que abriu as portas para outras mulheres em sua cooperativa
O contato mais próximo com o cooperativismo da gerente Administrativa e Agente de Desenvolvimento Humano (ADH) da Cafesul, Natércia Bueno Vencioneck, começou em 2009, no Ramo Agropecuário. Nesse ano, ela ingressou no quadro de colaboradores da cooperativa a convite do presidente do empreendimento na época.
Em outubro de 2008, a Cafesul havia acabado de conquistar a Certificação Fairtrade, que certifica negócios que estão de acordo com os critérios do Comércio Justo. Essa conquista fez Natércia Bueno perceber as oportunidades de evolução dadas a todos os integrantes da cooperativa de cafeicultores por meio de uma constante valorização do trabalho de qualidade realizado pelos cooperados e empregados.
Sua trajetória profissional foi permeada pela condução de importantes trabalhos dentro da Cafesul. Além e ocupar os cargos estratégicos de gerente Administrativa e Agente de Desenvolvimento Humano (ADH), ela ficou à frente de um projeto que valoriza e incentiva a produção de café especiais por mulheres no município de Muqui, na região Sul do Espírito Santo: o grupo Póde Mulheres.
“Por meio dessa missão que me foi dada, pude desenvolver um importante trabalho com o grupo de mulheres da Cafesul, o Póde Mulheres. Esse trabalho foi capaz de mudar o quadro interno de associados à cooperativa. De um total inicial de uma mulher, conseguimos ampliar o número para 19 associadas atualmente. Isso fora as aproximadamente 30 mulheres que estão em processo de cooperação à Cafesul”, explica.
No Ramo Agropecuário, os homens ainda são a maioria, respondendo a 87,83% do quadro de cooperados e 75,98% do de colaboradores, como consta no Primeiro Anuário do Cooperativismo Capixaba. No entanto, esses indicadores reforçam o valor de iniciativas pioneiras como o grupo Póde Mulheres e o trabalho conduzido por lideranças inspiradoras como Natércia Bueno.
“O Sistema cooperativista incentiva e apoia as atividades e trabalhos desenvolvidos por mulheres. Trago um exemplo real destacando a força que o cooperativismo sempre empenhou para a divulgação dos trabalhos desenvolvido pelo Póde Mulheres. Isso só agregou e fortaleceu o grupo, prova de que as cooperativas estão dando mais oportunidades para as mulheres mostrarem do que são capazes profissionalmente”, frisou.
A gerente Administrativa da Cafesul ainda ressalta o valor de uma habilidade desenvolvida por muitas mulheres: a de conciliar o lado racional com o emotivo nos ambientes de trabalho, qualidade essa que pode contribuir com o desempenho das cooperativas em termos de gestão, governança e desenvolvimento humano.
“As mulheres, em sua grande maioria, têm a capacidade de trazer para o seu trabalho habilidades muito importantes e genuínas. Em diversas situações, muitas vezes conseguimos ter a firmeza acompanhada de uma sensibilidade e capacidade de ter empatia em diversas situações”, conclui Natércia.