Um músico de Vitória procurou a polícia depois de se sentir ofendido com uma montagem publicada em uma rede social. Na imagem, Luiz Henrique Bita Meireles aparece com uma roupa de festa, mas é comparado com um garçom. Na mesma montagem, há a foto de um outro jovem, que, segundo o autor da postagem, estaria com um “look para cantar em casamento”.
A montagem com a comparação foi considerada racista por muita gente e viralizou na internet. “Quando a gente fala de racismo, a gente tem que parar de querer minimizar, parar de querer justificar com ‘ah, foi uma brincadeira’. Não. Foi uma violação de direito, não só a um jovem, mas como também à família que passa pela situação junto com ele”, ressaltou Drica Monteiro, do Movimento Negro Unificado.
Luiz Henrique conta que foi surpreendido pela foto na última quinta-feira (21). Segundo ele, a imagem causou tristeza a familiares e amigos. “A gente nunca pensa que vai acontecer com a gente. Fiquei meio constrangido e, logo após, minha mãe me ligou chorando e aí que eu fui cair em mim de que o negócio não era uma brincadeira e já passava dos limites”, contou o músico.
O outro rapaz que aparece na montagem é Guthy Ferreira, que também é músico de um grupo de pagode do Estado e conhece Luiz Henrique. Guthy disse que chegaram a suspeitar que ele tivesse sido o autor da montagem.
“Eu fui tão surpreendido quanto o Henrique. Só o que me deixou bastante chateado é que ninguém compartilhou de modo responsável, de modo que entenda-se que o Samba Júnior não tem nada a ver com isso”, afirmou.
O grupo de pagode do músico chegou a publicar uma nota de repúdio em solidariedade a Luiz Henrique. Além disso, internautas se manifestaram contra a imagem, considerada maldosa e racista.
A página que teria publicado a foto excluiu a postagem e, em seguida, escreveu que o que estava sendo questionado era a roupa e não o tom de pele. Em tom irônico, disse ainda que irá voltar com novidades e, quem sabe, a mesma foto.
“Aí fizeram uma postagem falando que ia ver se era racismo mesmo e que talvez ia voltar com a mesma montagem e fizeram um KKK e tal. Eu espero que a gente tenha um Brasil melhor, onde as pessoas respeitem a cor, a naturalidade, a religião, a opção sexual. E essas pessoas que fizeram, que eu não sei quem são, Deus vai perdoar”, declarou Luiz Henrique.
Denúncias
Em 2016 o Disque Direitos Humanos recebeu 479 denúncias de discriminação racial em todo o país. No ano seguinte, foram registradas 885 queixas. Em relação ao Espírito Santo, foram nove denúncias recebidas pelo canal em 2016 e cinco em 2017.
Para a coordenadora das políticas dos direitos da população negra de Vitória, Priscila Gama, os números do Estado não refletem a realidade. “Infelizmente o atendimento e o acolhimento aos casos de racismo nas delegacias, no judiciário de uma forma geral, pelo atendimento do poder público, ele é muito contraditório, porque a maioria desses atendentes faz com que as pessoas entendam que é uma simples injúria racial, que é um simples preconceito. E não, não é preconceito”, afirmou.
Quem sentir que sofreu alguma discriminação racial pode procurar a Secretaria de Cidadania, Direitos Humanos e Trabalho de Vitória para buscar orientação. “A gente espera que todas as pessoas que se sintam violadas nas redes sociais, em razão da cor da sua pele, em razão das suas características negroides, procurem sim a coordenação, a secretaria ou o Centro Especializado de Direitos Humanos, porque elas têm direito de serem ressarcidas moralmente, às vezes até materialmente, e acompanhadas”, frisou.