Quase uma semana após ser mordido no rosto por um cachorra, em um restaurante no bairro Itaparica, em Vila Velha, o pequeno Miguel, de apenas 1 ano e 8 meses, ainda se recupera do susto que levou no último sábado (26).
De acordo com a mãe do menino, a estudante Thalita Ferraz, de 21 anos, Miguel ficou traumatizado e não pode sequer ouvir um latido que já fica assustado. Segundo ela, o trauma tem atrapalhado até o sono da criança.
“Se ele escuta um latido, já sai correndo. Uma vizinha nossa tem uma cadelinha e ela ia sempre no nosso portão para mexer com ele. Agora quando ela chega, ele já sai correndo, chorando e me abraçando. Às vezes, à noite, ele acorda assustado também e chorando”, relatou.
A estudante também disse que o filho ainda precisa tomar medicamentos e mais vacinas contra a raiva. Atualmente, Miguel tem tomado um antibiótico e um remédio para controlar a febre. Além disso, precisa tomar mais seis doses de vacina antirrábica — já tomou quatro até agora.
“Tem sido muito complicado dar os remédios para ele e aplicar as vacinas. Ele chora muito para tomar o remédio, cospe. E a vacina precisa ser aplicada na pele, então ele não pode se mexer. Então ficam três pessoas para segurar ele e, mesmo assim, não conseguem direito”, contou.
Além disso, segundo Thalita, o filho apresentou reações à vacina. “No dia do ocorrido, ele estava um pouco resfriado. Então a médica alertou que ele poderia ter algumas reações. E realmente teve. Ele tem tossido bastante, está com dificuldade para dormir à noite. Fizemos exame e não é covid. É reação à vacina mesmo”.
Sobre a dona da cachorra que atacou o menino, Thalita diz que ela tem cumprido com os pagamentos que se comprometeu a fazer. “Ela pagou a consulta no dia. E eu tenho mantido contato com ela e repassado todos os gastos com transporte, para levá-lo ao médico”.
O que dizem os donos do animal
A reportagem do Folha Vitória entrou em contato com uma amiga dos donos do animal, que encaminhou uma nota com o posicionamento da família sobre o ocorrido.
Segundo a nota, a cadela foi surpreendida pelo menino, que teria chegado por trás dela, com as mãos em direção às orelhas do animal. Assustada, a cachorra teria empurrado a criança com a boca aberta, o que gerou as escoriações.
A nota diz ainda que os tutores do animal têm dado toda a assistência necessária à família da criança, no que diz respeito ao pagamento das despesas médicas.
Confira a nota na íntegra:
Ligamos para o restaurante para perguntar se permitiam animais, o que foi prontamente autorizado seguindo as normas de segurança que era manter na guia curta e não circular, o que é suficiente já que as mesas são bem afastadas e o espaço é amplo. Nossa cachorra é de porte médio, vira-lata, dócil, idosa, vacinada, constantemente monitorada por médicos veterinários e nunca apresentou nenhum risco, sempre convivendo bem com outras pessoas e animais. Inclusive, acabou de passar por um check up anual de rotina.
Ao chegar no restaurante, escolhemos uma mesa muito distante (10m ou mais) de outras mesas para que ninguém se sentisse incomodado. A cachorra ficou presa com os tutores na guia curta, praticamente embaixo da mesa, que estava distante de qualquer outra mesa e a mais de 10m da mesa onde estava a família da criança com a mesma.
Os atendentes chegaram, atenderam, serviram e a cachorra nunca esboçou nenhum comportamento de ameaça, pelo contrário.
Em um dado momento fomos surpreendidos pela criança que veio correndo. A criança chegou por trás da cadela e foi com as mãos em direção às orelhas para, segundo relatos da família em outros veículos de imprensa, para apontar o animal. A cadela se assustou e empurrou ela com a boca aberta o que acabou gerando as escoriações.
Quando o pai da criança se aproximou e a pegou, notamos as escoriações, socorremos, tentamos pagar a conta da família, pagamos a nossa, nos encaminhamos imediatamente junto com a família para o hospital, pagamos a consulta particular de emergência no valor de R$350,00. Aguardamos na recepção até o final do atendimento.
Quisemos ir na farmácia para comprar os remédios, porém eles estavam com pressa. Deixamos então nosso contato para que eles enviassem a nota dos medicamentos posteriormente para que pagássemos, o que já foi feito (no valor de R$46,49), e nos colocamos à disposição. Mantivemos contato e mais tarde a família da criança nos ligou para passarmos os nossos dados para a vigilância epidemiológica, o que foi feito. A família entrou em contato no dia seguinte para informar que estava tudo bem e, posteriormente, para informar os valores do transporte (Uber) para as vacinas, que também foram pagos.
Apesar de todas as normas de segurança terem sido observadas pelos tutores do animal, infelizmente a criança se aproximou desacompanhada, por trás do animal, assustando-o. Lamentamos profundamente o ocorrido e prontamente nos mobilizamos para a resolução do infortúnio.
Relembre o caso
Segundo a família, Miguel brincava em um pula-pula no estabelecimento, no último sábado, e foi atacado pela cachorra logo após descer do brinquedo. Em seguida, foi levado para um hospital particular do município, com ferimentos no rosto.
“Ele estava no pula-pula brincando e nos vídeos que me mandaram, o pai estava o tempo todo do lado dele. Depois meu telefone toca e falaram assim para mim: ‘olha, você tem que ir para o Hospital Santa Mônica, porque um cachorro arranhou o Miguel’. Me falaram assim porque estou grávida, de licença, e estou em uma fase difícil da minha gestação. Quando eu cheguei na porta do hospital, que eu vi a foto do rosto do meu filho, eu comecei a tremer e fiquei desesperada”, contou Thalita à reportagem da TV Vitória/Record TV.
A avó da criança, a feirante Elisângela Cristina Fernandes, disse à reportagem da TV Vitória que viu quando a cadela mordeu o menino. Segundo ela, tudo foi muito rápido.
“Meu filho ajudou ele a descer do pula-pula e ele correu em direção a um caminhão. Ele passou ao lado da mesa dessa família que estava com cachorro. Foi aí que o cachorro abocanhou o neném no rosto. Ainda bem que meu filho estava junto e puxou o Miguel, senão poderia ter feito um estrago maior”, relatou.
Segundo a mãe da criança, a dona da cachorra disse que segurava o animal pela coleira, mas que não conseguiu evitar que ele partisse para cima do menino.
Thalita disse ainda que a versão divulgada pelos donos do cachorro à imprensa, de que Miguel teria mexido na orelha da cachorra, é diferente da versão que eles apresentaram no dia do ocorrido.
“Ela disse que ele estava na coleira, do lado dela, só que não estava preso. A coleira dele estava solta. A dona do cachorro falou que eles tinham acabado de chegar de viagem e a cachorra é idosa. Por isso, pode ter acontecido alguma coisa, pode ter saído da rotina dela. Na hora que ele parou para olhar para trás e falar com o pai dele ‘papai, o caminhão’, o cachorro avançou nele”, contou a estudante.
Após receber atendimento médico e ser vacinado contra a raiva, Miguel está tendo que tomar remédios. Thalita agora cuida para que o filho se recupere logo.
“A gente fica muito mal, porque ele é um neném. Se para a gente já é doído, imagina para ele. Ele estava brincando, foi ver o caminhão, que é a paixão dele, e o cachorro vai lá e ataca”, lamentou.