No portão da escola, uma criança se agarra ao pescoço da mãe e não solta de jeito nenhum, outra entra e nem dá tchau para a família. Cenas comuns no início do ano nas creches e escolas de Educação Infantil. O momento da separação, mesmo que por algumas horas, pode ser difícil para os pequenos.
Imagine só para as crianças que praticamente nasceram durante a pandemia, e tiveram pouco contato com pessoas diferente da família! Até mesmo quem frequentou as aulas presenciais no ano passado, pode sim, estranhar a volta às aulas depois dos meses de férias.
Tem sido assim para o pequeno Arthur, de 2 anos. Alguns dias ele vai mais tranquilo para a escola, em outros, entra chorando, mas logo se distrai com as brincadeiras. A família dele reconhece a importância do convívio escolar para o seu desenvolvimento.
“É muito evidente, o impacto positivo da escola no crescimento dele. O retorno às aulas, entendemos ser um etapa de readaptação, apesar dos choros, e pedidos dele de papai e mamãe, sabemos que ocorre muito em função do período de férias, quando ele passou mais tempo com a gente (pais) e com o avós. Estamos tranquilos, pois sabemos que é passageiro, e acreditamos que o diálogo em conjunto da família e a escola é essencial pra que ele retome aos poucos a confiança e fique mais tranquilo na escola. “, explica a mãe do Arthur, Camila de Belford Jobim Melo.
Rotina dinâmica para os pequenos
Na escola Novo Mundo, em Vitória, onde o Arthur estuda, a adaptação das crianças é feita de uma forma bem dinâmica. A cada meia hora, as crianças passam por várias atividades diferentes para que se sintam mais familiarizadas com a escola.
” A criança é ativa e precisa ser acolhida em todos os ambientes. Temos o momento da natação, movimento, dança, brincadeira, hora da historinha. Ela passa por vivências e vai se sentindo acolhida porque o adulto que está com ela continua dando segurança para ela em diferentes ambientes, explica a diretora pedagógica do Colégio Novo Mundo, Elaine Cristina Santana.”
Afeto em primeiro lugar
Mesmo com toda diversão, é comum ver uma criança ou outra chorando durante o período em que está na escola. Nessa hora, só um colo, um carinho para deixar a criança calma e segura.
“As crianças voltam meio chorosas depois das férias. Eu procuro trabalhar com muito amor, carinho, abaixar falar o mesmo tom, dou um brinquedo. Também fazemos muitas brincadeiras para que elas vejam a escola de uma forma lúdica”, explica a professora Alice Neves Santos, da escola Novo Mundo, em Vitória.
A importância do acolhimento individualizado
Ainda estamos em meio a pandemia e todas as mudanças provocadas por esse momento impactaram muito as crianças.
A coordenadora da Associação Brasileira de Psicopedagogia no ES, Cheila Mussi Montenegro, explica que esse tempo e espaço em que as crianças estiveram sem um convívio escolar rotineiro não pode deixar de ser considerado:
“Aquela criança que parou de ir à escola em março de 2020 não é a mesma que chega hoje, como se essa lacuna não estivesse existido. Em meio ás incertezas da pandemia, ouvir a criança e observá-la é uma forma boa de acolhimento. Cada uma delas vai chegar com uma necessidade diferente. Reconhecer o modo de cada uma se adaptar à rotina escolar é importante para o desenvolvimento na escola.”
Aluno acolhe aluno
Na rede pública estadual, as escolas de tempo integral, tem uma forma diferente de acolhimento no início do ano. São os próprios alunos que recebem os novos colegas e outros estudantes nos primeiros dias de aula.
O chamado Grupo de Acolhimento é formado no ano anterior, os alunos que desejam participar podem ser escolhidos para integrar a equipe. Durante as férias o grupo recebe um treinamento especial e aprende as dinâmicas de integração.
A primeira atividade é receber os alunos no primeiro dia de aula com um corredor de palmas. Não há quem não abra um sorriso com a acolhida. Daí em diante, os alunos envolvem os colegas em atividades para que se sintam parte da escola.
“Já que muitos são novos e não tem colegas na sala de aula, com as dinâmicas a gente consegue estimular a convivência”, explica Rafaela Brandão, aluna mediadora do Grupo de Acolhimento da Escola Estadual de tempo integral, Galdino Antônio Vieira.
A diretora da escola, que fica em Santa Rita, Vila Velha, Mariana Campanha, explica que esse acolhimento entre pares, ou seja, entre os alunos, é importante para que eles permaneçam na escola:
“Quando você faz esse acolhimento com o aluno que às vezes não teve tantas oportunidades, você acrescenta na vida acadêmica dele, cria vínculos com a escola e torna a presença dele na educação básica, firme e sólida”.
Confira as orientações da ´psico´pedagoga sobre a importância do acolhimento:
Dicas práticas para adaptação na escola
#1 Manter a rotina da criança e evitar mudanças, como retirada de bico e fralda, por exemplo.
#2 Evitar comentários sobre a adaptação escolar na presença da criança.
#3 Passar em frente à escola antes do início das aulas. Parar, olhar detalhes, conversar e, principalmente, ouvir os comentários com atenção.
#4 Conduzir a criança até a professora e a sala de aula caminhando, e não no colo. Sem dúvida, uma atitude que facilita o processo de despedida.
#5 Evitar sair escondido. Despedir-se de forma natural é a melhor alternativa.
#6 Se acaso a criança chorar, explicar que voltará para buscá-la. Nesse diálogo, sempre, demonstrar tranquilidade e segurança.
#7 Respeitar o horário de entrada e saída estipulado pela escola.
#8 Procurar os profissionais da escola em caso de dúvida ou insegurança.
Como a família pode ajudar
Outra cena comum em início de ano é ver pais e mães se escondendo em locais da escola, acompanhando o filho de longe para ver se ele vai chorar. Cada escola tem uma forma de acolher a família nesse momento mas em algum momento, a separação tem que acontecer para que a criança enfrente os desafios.
