Enquanto muitas pessoas passaram a noite de Natal compartilhando a ceia em família, muitas outras mal tiveram o que comer. Essa é a dura realidade para mais de 84 milhões de brasileiros que passam fome ou vivem com algum grau de insegurança alimentar.
No Espírito Santo, 3,6% da população vivia com menos de R$ 155 mensais por pessoa em 2019, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em 2020, esse percentual aumentou para 3,8%, o que representa 154 mil pessoas passando necessidade. Embora tenha aumentado, o valor ainda ficou abaixo da média nacional, de 5,7%.
Uma dessas famílias que encontram sérias dificuldades para conseguir ter o que comer é a de Viviane Monteiro, que mora com seus filhos e netos em uma pequena casa, ao lado de um valão, no bairro Flexal I, em Cariacica.
A família é grande e alegre, mas todos os dias precisa travar uma batalha contra a fome. “Hoje eles comeram um miojo”, contou Viviane à reportagem da TV Vitória/Record TV.
Hoje ela alimenta as crianças com o que ganha do Auxílio Brasil e com os bicos de pedreiro que o marido faz. Fome ela diz que não passa, mas graças à solidariedade de algumas pessoas.
“Eu sempre coloquei isso na minha cabeça, que fome a gente só passa quando tiver zero mesmo. Mas se eu tiver um fubá dentro de casa eu vou falar que não estou passando fome não”, afirmou.
A reportagem da TV Vitória teve acesso ao interior da casa da família. É uma residência simples, com paredes sem rebocos e muito improviso. Na cozinha, uma geladeira antiga serve como armário, onde é guardado o pouco que eles têm de alimentos não perecíveis, como arroz, óleo, canjiquinha e feijão.
Em uma outra geladeira, dessa vez ligada à energia, a família guarda os alimentos perecíveis. Mas também sem fartura. Apenas fruta, água e um frango.
‘Malabarismo’ para conseguir alimentar todos com pouca comida
Segundo os números da Pesquisa de Orçamentos Familiares, do IBGE, dos 84 milhões de brasileiros em vulnerabilidade, 27% vivem com insegurança alimentar leve, que é quando existe preocupação ou incerteza quanto ao acesso aos alimentos no futuro. Isso sem contar a perda na qualidade dos alimentos, para não comprometer a quantidade que será consumida.
Na pequena casa de Flexal, Viviane faz um verdadeiro “malabarismo” para que, mesmo com pouca comida, não falte nada para ninguém. “A gente se divide: um pouquinho para um e um pouquinho para outro. E assim vamos lutando”.
Apesar da situação difícil, as crianças, como quaisquer outras, esperam ganhar um presente do Papai Noel, por mais simples que seja. No momento em que a equipe da TV Vitória esteve na residência, as crianças ganharam uma caixa de bombom, que virou motivo de disputa entre elas.
“Pedir presente eles pedem, mas eu vou e explico para eles. Eu falo: ‘mas filho, a mamãe não tem condições de te dar presente”, lamentou Viviane.
E se a comida é pouca, o sonho de reformar a casa ou até comprar uma cama para os filhos vai ficando para depois. “Eu forro dois colchões e eles deitam aqui [apontando para o chão]. E o bebezinho dorme lá comigo”, contou a mulher.
Apesar de toda luta, o sorriso e a esperança por dias melhores continuam no rosto de cada um deles.
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Com informações da repórter Jéssica Cardoso, da TV Vitória/Record TV