O medicamento a base de Canabidiol tem gerado polêmica entre pacientes e médicos. A substância, que é encontrada na maconha, não é regulamentada no Brasil, mas em alguns casos o paciente pode conseguir liberação para importação. Foi o que aconteceu com a capixaba Giovanna Guisso, de 12 anos.
Na semana passada os pais da menina foram buscar o medicamento em São Paulo e aguardavam apenas as doses corretas, indicadas pela neurologista da filha, para iniciar o tratamento. Mas não são todas as pessoas que sofrem de epilepsia, como a menina, que podem utilizar esse tipo de substância no tratamento.
De acordo com a neurologista e professora da Multivix, Soo Yang Lee, o paciente, a família e os médicos precisam ter muito cuidado. “A nossa indicação é que o paciente procure primeiro um neurologista especializado, no caso, em epilepsia. Se ele não tiver acesso no Estado, pode procurar em outros lugares”, afirmou.
Comprovação
Segundo a neurologista, mesmo com casos excepcionais em que o medicamento vem apresentando melhora no paciente, ainda não é comprovado cientificamente que ele resolve todos os problemas, como algumas pessoas já acreditam. “Se o médico concordou com o uso e acredita que vale a pena, a pessoa ou o responsável pode entrar com o pedido na Anvisa. Acredito que ainda pode demorar para que esse remédio seja regulamentado no país. Isso porque muitos estudos ainda precisam ser feitos”.
Soo Yang explicou que para haver uma comprovação científica é necessário ter estatísticas e estudos a longo prazo, que não é o caso dessa substância. “Ainda não se sabe o que pessoas que fazem o uso desse medicamento podem ter de efeitos colaterais a longo prazo”, destacou.
Câncer
O remédio hoje é bem mais aceito para pacientes com câncer, por conta da intensidade da dor. De acordo com a professora, muitas vezes a morfina já não funciona e os médicos recorrem ao Canabidiol. “Para esse tipo de doença, o medicamento já foi mais estudado e é mais aceito. Mesmo assim, precisa de uma análise do médico”, alertou.
Testes
Tentar todos os recursos antes de optar pelo uso do Canabidiol é a recomendação da neurologista. “A meu ver, o médico precisa testar todos os remédios possíveis e doses máximas suportadas pelo paciente. Tentar realmente todos os recursos disponíveis no país. Minha opinião daqui a um tempo pode até mudar, mas no caso de epilepsia, eu tentaria até a cirurgia. Acredito que o Governo ainda tenha medo de dependência química, e esse seria um dos possíveis fatores do medicamento não ser bem aceito e de toda a cautela”, apontou.
Liberação
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou 58 pedidos de importação excepcional de medicamentos a base de canabidiol neste ano. De acordo com a agência, 74 solicitações foram feitas em todo o Brasil.
A Anvisa explicou que as autorizações de importação são fornecidas de acordo com a prescrição médica para cada indivíduo. Para solicitar a autorização excepcional para a importação de produto, o solicitante deve preencher um formulário específico e juntar alguns documentos como o laudo médico, a prescrição e o termo de responsabilidade e esclarecimento.
Os modelos destas documentações e as orientações estão disponíveis no site da agência (www.anvisa.gov.br). Basta o solicitante clicar em medicamentos, medicamentos controlados, importação excepcional de medicamentos controlados sem registro no Brasil Pessoa Física.