O caso de um decorador suspeito de aplicar golpes, principalmente em noivas do Espírito Santo, começou a repercutir nas redes sociais nesta semana. Um grupo de quase 30 noivas decidiu se unir em uma rede social para denunciar o profissional e tentar recuperar os prejuízos que tiveram. Até momento, segundo a Polícia Civil, sete casos já foram registrados e estão sob investigação.
>> Quer receber nossas notícias 100% gratuitas? Participe do nosso grupo no WhatsApp ou entre no nosso canal do Telegram!
Uma das noivas registrou o boletim de ocorrência contra o profissional no início da semana. A mulher, que preferiu não se identificar, contou à equipe de reportagem do Folha Vitória que contratou os serviços do decorador para o seu casamento, marcado para julho deste ano.
“Já acompanhava os serviços prestados por ele pelas redes sociais e sempre achei tudo de muito bom gosto. Algumas noivas conhecidas também já tinham fechado contrato com ele, bem como noivas da mesma cerimonialista que a minha. Ao enviar o orçamento, ele insistia muito em um pagamento à vista. Utilizava inúmeros argumentos que, depois, descobri que também eram utilizados com praticamente todas as outras noivas. Ele me garantiu que o pagamento à vista seria a melhor opção, pois assim conseguiria um bom desconto com fornecedores de flores, por exemplo.”
Inicialmente, segundo a noiva, o decorador enviou um orçamento de R$ 17.400, alegando que se o pagamento fosse imediato, conseguiria reduzir o valor para R$ 13.800.
Ela decidiu pagar a quantia e, logo em seguida, foi surpreendida por alguns pedidos do profissional, tentando convencê-la a fechar contratos com outros fornecedores de itens que ele julgava necessário para compor a decoração.
“Realizei o pagamento à vista, e no mesmo dia, ele indagou que seria necessário já buscar um fornecedor de iluminação. Me prontifiquei a procurar em conjunto com a minha cerimonialista e, imediatamente, ele começou com o assunto de que era melhor ele mesmo tratar com os fornecedores”, contou.
E completou: “Por esta razão, deixei com que ele realizasse esses contatos. Ele me encaminhou um orçamento informando que o valor ficaria R$ 4.500 à vista, com promoção, solicitou o meu aceite e informou que eu poderia pagar diretamente à ele, que ele repassaria e firmaria o contrato. Diante do repasse, que foi feito por mim, solicitei que ele fizesse a alteração do nosso contrato para incluir esse aditivo e ele fez”, contou ela.
Os pedidos, no entanto, não pararam por aí. Segundo a noiva, além da iluminação, ele também cobrou por valores inerentes a plotagem e carpete. Com isso, ela fez o repasse à ele de mais R$ 1.800 (plotagem) e R$ 2.120 (carpete).
“O fornecedor da plotagem também nunca recebeu o repasse de tal quantia. O do carpete, ele nunca me informou quem seria. No total, até o momento em que descobrimos a suposta fraude, já havia realizado a ele o pagamento do total de R$ 22.220. Há umas três semanas, aproximadamente, antes de todo o estouro, ele ainda buscou contato comigo tentando me empurrar um mural de flores para os convidados fotografarem, no valor de mais R$ 3.000,00”, relatou.
Noivas desconfiam de esquema de pirâmide
O grupo acredita que o decorador vivia em um esquema de pirâmide, em que usava o dinheiro de um contrato para pagar o outro.
“Com o dinheiro da minha festa, pagava a decoração da festa de uma outra noiva que já havia pago há muito tempo, já que com o dinheiro que essa segunda noiva repassou a ele, ele na época, supostamente, usou para realizar a decoração de uma terceira noiva.”
Considerando os relatos e os últimos acontecimentos, elas desconfiam que ele tenha pedido o controle do esquema e passou a não ter dinheiro suficiente para entregar as decorações na forma como eram contratadas e pagas.
“Com isso, ele passou a realizar os casamentos de forma desprezível e começou a informar às cerimonialistas e noiva que não entregaria os casamentos por falta de dinheiro. Hoje, a 3 meses do meu casamento, e com um rombo financeiro de mais de R$20.000, tenho que correr contra o tempo e tentar buscar outro fornecedor disponível à realizar minha decoração, e pior, pagar mais R$20 mil por isso. É uma sensação de impotência que não dá para explicar. Uma pessoa totalmente sem escrúpulos, caráter e honra, que brinca com os sonhos de uma vida e não sente o mínimo remorso por isso”, desbafou a noiva.
Não cumpriu contrato de festa de aniversário
A publicitária e influenciadora Marceli Trancoso também foi uma das vítimas do decorador. Ela contou que já conhecia o trabalho dele há oito anos, quando o contratou para sua festa de casamento.
Na época, segundo ela, o profissional ainda era assistente de outra empresa, mas apesar disso, foi o responsável por montar praticamente toda a decoração da festa. Marceli contou que gostou muito do trabalho, tanto que decidiu o contratar novamente agora, para fazer o aniversário de um ano do filho dela. Foi aí que começou o pesadelo.
“Como tinha uma empresa por trás, não percebi que ele era tão irresponsável. Agora eu fechei a festa de um ano do meu filho, com seis meses de antecedência, e paguei à vista. As vítimas relatam mais ou menos a mesma coisa: o desespero por dinheiro à vista. Fiz o orçamento, ele mesmo atendeu, aí começou com um valor e foi caindo o preço até chegar na metade do valor. Ele falava que tinha que ser à vista, naquele dia, porque dizia ia fechar com os fornecedores antecipadamente. Hoje eu sei que foi fechado na semana da festa, me causando um desespero”, contou.
Tudo parecia certo para o aniversário acontecer, até que a publicitária começou a receber algumas ligações de conhecidos a alertando sobre o profissional, dizendo que ele estaria em São Paulo e várias noivas estariam o denunciando na polícia por aplicar golpes.
“Fechamos a decoração toda personalizada, com o tema de posto de gasolina do meu marido. Na semana da festa, comecei a receber uma série de ligações. Como ele me respondia no WhatsApp, comecei a cobrar para ver a decoração, então vi que ele foi fazendo tudo muito em cima da hora, de acordo com as minhas cobranças. Exigi que ele me passasse o contato de empresas terceirizadas que iam trabalhar na minha festa e aí descobri que ele realmente havia fechado na semana. Aquela história de pagar à vista para garantir o desconto com fornecedor 6 meses antes era tudo mentira”, relatou Marceli.
A festa dela foi realizada, mas não do jeito que estava esperando. Além da decoração, que segundo ela, foi bem diferente da que estava em contrato, alguns itens tinham medidas inferiores e, outros, nem chegaram a ser entregues.
“Ele não montou a decoração. Mandou uma equipe que não ´é especializada e a decoração ficou extremamente simples, uma decoração que eu não contrataria para o aniversário do meu filho. Me entregou tudo em medidas inferiores, como quantidades de mesas, quantidade de peças, não me entregou o pórtico de entrada da festa, nenhum dos 4 totens de chão que estavam inclusos, não me entregou nenhum adorno, nenhum lounge. Aprovei as artes de tudo e, no final, nada disso foi feito e ficou só no papel. As pessoas olham a foto e eu recebo muitas mensagens do tipo “ficou bonito”, mas eu sei como deveria ser, está escrito no contrato”, disse ela.
Não bastasse todo o transtorno antes do evento, no dia da festa, segundo Marceli, trabalhadores que prestavam serviço para o decorador ainda a cobraram o valor que não havia sido repassado à eles.
“Ele nunca mais me respondeu, não me deu explicação nenhuma, não me devolveu o dinheiro. Era uma pessoa que eu tinha um contato e certa simpatia. Depois que a festa já estava montada, os terceirizados dele começaram a me procurar pedindo dinheiro, sendo que eu já tinha pago tudo à vista. Então, além de ser lesada, sofri essa tentativa de chantagem e apelo emocional. Foi um pesadelo o que passamos.”
Outro caso em 2017: buquê com flores murchas
Assim como a Marceli, a empresária Roberta Nunes também relatou problemas com o decorador. No caso dela, foi referente a entrega de um buquê, contratado para seu casamento em 2017.
“Eu trabalho com alta costura infantil e noivas, e acabei conhecendo ele através de pessoas que já tinham feito trabalhos com ele. Eu me casaria em Aracruz, então não foi viável, na época, ele ser o decorador, mas fechei com ele o buquê. Mandei a foto e especifiquei que queria ele de orquídeas brancas e “desconstruído”. Paguei por esse trabalho e dias antes do meu casamento ele me mandou uma foto de outro buquê, diferente do que eu queria”, contou.
Roberta disse que, ao receber a foto, explicou ao profissional que o buquê que ela queria era outro e, até então, ele afirmou que faria. No dia do casamento, no entanto, o buquê chegou e ela viu que ele não havia mudado nada do que foi solicitado.
“O buquê que chegou era exatamente esse que ele havia mandado dias antes, todo colorido e murcho, com as flores queimadas e mortas. Eu entrei em choque, liguei pra ele e ele se fez de desentendido. Eu tive que tirar orquídeas da minha decoração para fazer meu buquê e ele não devolvia o meu dinheiro. Sempre inventava uma história e eu via que era mentira, porque estava em shows, viagens. Fiquei tão mal de ansiedade que um advogado me recomendou deixar para lá, pelo bem da minha saúde”, disse ela.
Polícia orienta que vítimas registrem ocorrência
A Polícia Civil orienta que outras possíveis vítimas registrem a ocorrência para que tome ciência junto às investigações que estão em andamento.
“A população pode denunciar através do Disque-denúncia (181) qualquer tipo de irregularidade, ilegalidade ou repassar informações que ajudem as polícias na elucidação de delitos ou infrações”, diz a nota.
O outro lado
A equipe de reportagem do Folha Vitória tentou contato com o decorador através de ligações e mensagens, mas não obteve retorno. O espaço segue aberto para manifestação.