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Ensino híbrido: os desafios das escolas diante da metodologia que une presencial e online

O modelo educacional que combina o ensino presencial ao aprendizado remoto, utilizando ferramentas digitais, ganhou ainda mais evidência na pandemia

Thaiz Blunck

Redação Folha Vitória
Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal
Clara Alves da Costa Araújo, aluna da Escola Americana de Vitória, durante aula remota 

Com a pandemia do novo coronavírus e a necessidade de isolamento social para evitar a transmissão da covid-19, a transformação digital ganhou ainda mais força em diferentes setores. Na educação, por exemplo, a suspensão das aulas presenciais, em março, impulsionou a implementação do ensino híbrido, ou blended learning. 

Considerada uma tendência da educação no século XXI, a metodologia que ficou ainda mais em evidência nos últimos meses consiste na combinação de dois modelos de aprendizagem: o tradicional, que ocorre presencialmente dentro de um cenário que todos já conhecem, e o online, que conta com ferramentas digitais para promover o aprendizado.

Mas engana-se quem pensa que a modalidade é apenas uma fusão do online e offline. É necessário também personalizar o ensino. A psicóloga e psicopedagoga, Camila Nogueira, destaca os principais desafios do ensino híbrido e afirma que as escolas ainda estão em fase de desenvolvimento, buscando um modelo ideal que ofereça o melhor para os alunos, seja para aprender em casa ou na escola. 

Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal
Camila Nogueira, Psicóloga e Psicopedagoga

"É necessário construir um processo de ensino-aprendizagem que seja estimulante para a criança e ao mesmo tempo em conformidade com os desafios de um mundo em transformação. A interação dos alunos com os colegas é um fator extremamente importante para o desenvolvimento global da criança e a falta de estrutura, tecnologia e a qualificação do corpo docente também são alguns desafios encontrados. Acredito que todas as escolas estão se desenvolvendo para chegar ao ideal", destaca a psicopedagoga. 

A autonomia e a flexibilização, que permitem que o aluno escolha o ambiente e o horário para estudar, são algumas das vantagens da modalidade. Entretanto, quando aplicado na educação infantil, o ensino híbrido requer, dentre outros cuidados, uma supervisão por parte dos pais. A especialista enfatiza também que o dinamismo é fundamental para estimular os alunos. 

"É necessário uma educação dinâmica, principalmente na educação infantil, para que o ensino híbrido aconteça de forma estimulante e favorável para todas as crianças. Lembrando que o uso da tecnologia, principalmente na educação infantil, precisa ser orientado e monitorado pelos familiares", explica. 

A psicóloga infantil Galiléia Simões esclarece que a modalidade ainda é algo novo, visto que todos estão acostumados com o modelo tradicional de ensino. Por tratar-se de uma novidade, segundo ela, é normal que os pais, responsáveis e os alunos também fiquem com receio. 

OUÇA | Psicóloga infantil, Galiléia Simões, fala sobre o ensino h´íbrido

Diante da suspensão das aulas presenciais, Wanessa Souza Alves da Costa, mãe da Clara Alves da Costa Araújo, de 8 anos, acompanhou as mudanças da instituição de ensino da filha. Ela conta que foi surpreendida positivamente com a rapidez na adaptação ao 'novo normal'. 

“A escola surpreendeu, desde o inicio, pela questão da agilidade. A pandemia veio à tona no meio da semana, acho que em uma quarta-feira. Na segunda-feira seguinte, a escola já estava totalmente estruturada, com portal, exercícios e aula online ao vivo com professores. O que eu via nas outras instituições é que elas ficaram quase um mês sem nada e, quando retornaram, eram aulas gravadas, o que não entretém nada as crianças", conta Vanessa. 

A Clara, que agora vai cursar o 3º ano do ensino fundamental, é estudante da Escola Americana de Vitória. Para que o ensino híbrido fosse bem sucedido na instituição, alguns métodos foram desenvolvidos. Um deles, segundo a diretora pedagógica da EAV, Andrea Buffara, foi o desenvolvimento de kits de materiais para que as crianças pudessem fazer as atividades em casa. 

"A gente trabalha muito através de projetos e as crianças fazem muita coisa. Se o professor estava desenvolvendo um projeto, a gente mandava kit para casa. Quando o professor estava online, mostrando como fazer, a criança tinha a mesma coisa do outro lado e isso funcionou bem, principalmente com crianças pequenas. O espelhamento conseguiu prender mais a atenção e, com isso, a aula fluía melhor”, explica.

Apesar das adaptações para oferecer um melhor ensino híbrido, a diretora afirma que a previsão para 2021 é de um retorno 100% presencial. Ela destaca que o híbrido será reservado para a família que não tiver interesse em levar os filhos ou para algum momento em que seja necessário fechar a turma, por exemplo.  

“Foram estratégias desenvolvidas ao longo do tempo e fomos tentando ver o que funcionava melhor. No momento, a previsão é de voltar 100% presencial porque os pais querem essa volta. Ele é mais fácil e tem esse lado socioemocional também que é muito importante. A escola está bem preparada, em termos de segurança, para o retorno. Essa volta vai ser tranquila e temos o online para quando precisar. Mas pelo que a gente está percebendo, os pais querem mesmo o presencial”, pondera Andrea. 

Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal
Clara no 1º dia de aula após o retorno presencial

E a Vanessa, mãe da Clara, faz parte do grupo de pais da EAV que aguardam pelo retorno presencial. Ela destaca que, embora o ensino híbrido tenha sido bem elaborado, nada substitui o ensino presencial e essa retomada é muito importante para as crianças. 

"O olho no olho é insubstituível. A sensibilidade do professor para conduzir até mesmo os conflitos que possam existir entre as crianças é muito importante. Quando retornaram com o presencial, eu não pensei duas vezes antes de mandar a Clara. A escola seguiu prontamente os protocolos, a gente sempre tinha um feedback deles também. Acho que não substituiu o presencial e eu espero que a gente consiga manter a constância de ser sempre a aula presencial", afirma. 

Ensino híbrido e a personalização
Quando as aulas presenciais foram suspensas, o Felipe Monteiro Schaeffer, também de 8 anos, estava cursando o 2ª ano do ensino fundamental no Centro Educacional Vinícius de Moraes (Cevim), em Cariacica. Para não perder o ano letivo, foi necessário adaptar-se ao novo modelo de ensino. A mãe, Jane Karla Schaeffer, conta como foi da mudança e destaca o cuidado da instituição neste processo. 

Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal
Felipe, aluno do Cevim, realizando as atividades escolares em casa durante a pandemia
"Meu filho adquiriu papel de protagonista, fez-se mais autônomo e teve mais chance de aprender da maneira que melhor funcionou para ele. O professor guiou esse processo administrando conteúdos, atividades e incentivando a pesquisa. O que poderia ter sido um desafio, foi amenizado por uma adaptação do Cevim. Enquanto algumas escolas mantiveram um horário integral de aulas, o que torna o processo cansativo, o Cevim integrou dentro da carga horária, a aula presencial e o tempo para o aluno realizar suas atividades", conta Jane. 

A instituição, que atende alunos da educação infantil ao 9º ano do ensino fundamental, precisou se reinventar tornar aulas mais dinâmicas e estimular a participação dos alunos nas atividades. 

Foto: Divulgação | Cevim
Felipe e a professora Maylani Carolini no final do ano letivo de 2020

"A escola incentivou os alunos na participação de jogos envolvendo conteúdos específicos. Um exemplo é o Educacross, uma plataforma de aprendizagem de matemática e letramento criada para que os alunos se engajem e fiquem mais motivados. Superar desafios como o da pandemia nos torna mais confiantes. A metodologia de ensino híbrido é de ótimo resultado, porém, espero que as aulas presenciais retornem após a vacinação, pois também é de extrema importância para as crianças, a socialização", destaca a mãe do estudante.

O diretor administrativo financeiro do Cevim, Leandro Quiuqui Juliao, afirma que a metodologia de ensino já faz parte da nova realidade e será necessário trabalhar com ela. No entanto, algumas mudanças ainda devem ser feitas para oferecer uma experiência ainda melhor para alunos e pais que os acompanham nas atividades escolares. 

“Não tem como não ser mais híbrido, nós vamos ter que trabalhar com ele. Mas vamos tentar criar uma estrutura em que o professor vai transmitir a aula simultaneamente e quem está em casa vai ter um outro momento com ele, através de outras ferramentas, como e-mail ou WhatsApp, por exemplo. Muitas vezes as famílias não têm tempo de acompanhar simultaneamente, então é uma dinâmica que vamos resolver através de aulas que também serão gravadas. Assim, se o pai chegar a noite e quiser fazer a atividade com o filho, ele vai poder entrar na plataforma e ter acesso ao conteúdo", explica. 

Foto: Divulgação | Cevim
Leandro Quiuqui, diretor administrativo financeiro do Cevim

Para a educação infantil, no entanto, os desafios são ainda maiores. O diretor do Cevim destaca que, nesta fase, as crianças estão em processo de desenvolvimento não só pedagógico, mas também cognitivo, o que demanda ainda mais cuidado e atenção. 

“No caso da educação infantil, sempre vai ser mais difícil, Aqui na instituição, como trabalhamos com menos alunos na educação infantil, é mais fácil trabalhar com o ensino presencial. Não vamos trazer todos no mesmo momento, vamos fazer um rodízio, que ainda não está definido. A educação infantil requer cuidados. Para facilitar a vida dos pais, a gente fez aulas onlines, vídeos de atividades e deixávamos isso nas plataformas e nos grupos. Mas isso não nos dá o resultado que gostaríamos de ter. O híbrido não é a melhor opção", avalia. 

Volta às aulas

O ano letivo de 2021 já está perto de começar e as instituições de ensino privado estão prontas para receber os alunos novamente, seguindo os protocolos de segurança como distanciamento social, marcação de lugares, higienização, uso de máscaras e até mesmo algumas mudanças na estrutura. Mas como preparar as crianças e fazer com que o momento seja de tranquilidade e segurança? Veja o que diz a psicóloga e psicopedagoga Camila Nogueira.