Artistas ocupam obra do Cais das Artes e fazem vídeo cultural em protesto

Foto: Reprodução

Artistas protestaram pelo atraso nas obras do Cais das Artes, na Enseada do Suá, em Vitória, utilizando o que sabem fazer melhor: arte. Numa iniciativa do Instituto dos Arquitetos do Brasil - Departamento Espírito Santo (IAB-ES), artistas plásticos, músicos, arquitetos, videomakers, integrantes de grupos de dança ocuparam o canteiro abandonado de obras e fizeram vídeos mostrando o quanto o espaço é capaz de acolher suas produções. 

O material está nas redes sociais do instituto. A concepção desse projeto audiovisual tem a assinatura dos arquitetos Eduardo Pasquinelli, Otávio de Castro e Gabriela Greppe.

“O objetivo é mostrar o quanto esse espaço é importante para a comunidade e qualidade de vida do Espírito Santo, considerando ser breve a retomada e finalização da obra”, explica Pasquinelli. 

"Queremos alertar e somar esse debate mostrando que o uso é bem maior do que estamos acostumados ao dia-a-dia. Quando pronto, será, por exemplo, um atrativo de todos os finais de semana. As pessoas poderão aproveitar das atividades culturais, mas também se sentirão estimuladas a passarem no entorno do Cais, da praça, usufruindo também da paisagem e do entorno de lá", disse.

A ação quer questionar também a mudança de uso do espaço proposta pela Governo do Estado. Segundo o IAB, a gestão estadual quer minimizar a utilização do grande museu e do teatro para transformar em um espaço destinado à inovação e negócios.

Um dos vídeos da campanha dá ideia das dimensões do empreendimento cultural por dentro. Acostumado a ver somente o canteiro a partir da Praça do Papa, o público agora fica conhecendo a grandiosidade de seu interior e o impacto das obras paradas naquela área de frente para a baía de Vitória. 

A arquiteta e videomaker Nayara Carvalho, uma das integrantes da campanha e que produziu o vídeo, destaca o movimento como essencial para a cultura e crescimento da cidade. “Não fiz parte apenas por ser arquiteta, mas, pelo o que o Cais das Artes pode representar para o Estado. Quando a gente vê a integração com o lado da baía e com a cidade, o Cais se transforma. É uma delícia passar o tempo ali e fazer parte disso é uma sensação indescritível”, comentou. 

Em outro vídeo, a companhia de dança contemporânea Cia NegraO, formada por bailarinos negros, faz do espaço dos andaimes, dos blocos de concreto, sacos de areia e material de construção um grande palco para uma performance especialmente criada para o Cais.

Num terceiro vídeo, é a vez das artes plásticas darem o recado. O artista plástico e professor de Arte, Jorge da Silva Magalhães, o Jagall, transforma as salas ainda em obras em seu ateliê particular. Dali, ele contempla a paisagem, tendo do Convento da Penha ao fundo, enquanto pinta um quadro. Ele faz uma série de indagações: “Quantas exposições importantes já não teriam acontecido no espaço? Quantas peças teatrais? Quantos concertos? Quantas performances? Quantas expressões artísticas nestes últimos dez anos - pois a promessa original de entrega do Cais das Artes à comunidade era para o ano de 2012. O quanto esse projeto já não teria mudado a vida de muita gente, a suscitar novos artistas, alterando a vida na própria cidade, e impactado o estado, e reverberado para o país e o mundo", conclui.

Não é a primeira vez que o Instituto dos Arquitetos se manifesta querendo chamar a população para o atraso da entrega das obras. Em 25 de outubro do ano passado, eles fizeram uma colagem de um grande adesivo no tapume que cerca o canteiro de obras para deixar uma mensagem para a cidade. A data foi escolhida porque seria o aniversário de 93 anos do arquiteto e urbanista capixaba, Paulo Mendes da Rocha (1928-2021), que assina o projeto do Cais das Artes, falecido em maio.

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Relembre a "novela" do Cais das Artes 

A expectativa do Governo do Estado era de retomar com a finalização do empreendimento ainda no primeiro semestre de 2021. O projeto abrigará espaços voltados para a realização de shows e espetáculos de teatro, dança, concertos e exposições artísticas de renome nacional e internacional. Ele começou a ser construído em 2010 e está com as obras paradas desde 2015.

Em 2010, a gestão estadual esperava concluí-lo em 18 meses. No entanto, as obras foram paralisadas por duas vezes, devido a problemas apresentados pelas empresas contratadas.

O primeiro consórcio foi à falência em 2012. Uma outra empreiteira retomou os trabalhos no ano seguinte. Mas, em 2015, o consórcio entrou na Justiça contra o Estado, comprometendo a conclusão do projeto. Desde então, as obras estão paralisadas e a estrutura erguida até agora vem sofrendo com a degradação do tempo.

O que diz o governo sobre a obra

Segundo o Departamento de Estradas de Rodagem (DER-ES) a retomada das obras depende da conclusão de um acordo judicial entre o Estado e a empresa que assumiu a construção.

Em maio, o Folha Vitória publicou em primeira mão que a Justiça havia definido a data de 22 de maio como limite para que as partes chegassem a um consenso, suspendendo um imbróglio jurídico que envolvia outros cinco processos, segundo informações da Procuradoria Geral do Estado (PGE). Porém, nada foi concluído.

Procurado mais uma vez no dia do primeiro protesto do IAB, o DER-ES informou, por meio de nota, que "continua buscando um acordo junto à empresa orientado pelos órgãos de controle". 

A reportagem, na tarde desta quinta-feira (20), mais uma vez questionou o DER-ES sobre uma data para reinício das obras.  

A resposta veio nesta sexta-feira (21). O Departamento de Edificações e de Rodovias do Espírito Santo informou que, nesta semana, apresentou à Procuradoria-Geral do Estado (PGE), juntamente com a empresa vencedora do certame, um novo projeto de retomada da obra. 

Informou ainda que o Governo do Estado tem interesse urgente na retomada das obras por entender a importância do Cais das Artes.