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Golpe da formatura: tudo o que você precisa saber para não cair em uma cilada

Ouvimos especialistas que deram algumas dicas e orientações para os estudantes que estão organizando as comemorações de conclusão de curso

Foto: Reprodução/ Pexels/ Pavel Danilyuk

Uma denúncia envolvendo uma estudante da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo acendeu uma alerta em muitos alunos de graduação que sonham com a festa de formatura.

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Alicia Dudy Muller Veiga, de 25 anos, ganhou cerca de R$ 326 mil na loteria após realizar dezenas de apostas em alto valor entre abril e julho do ano passado. Ela é suspeita de ter desviado quase R$ 1 milhão arrecadados para a formatura da turma para uma conta pessoal e fazer cinco apostas.

Os golpes envolvendo festas de formatura não são incomuns. Há quase um ano, um homem suspeito de aplicar um golpe de R$ 1 milhão em mais de 120 universitários do Espírito Santo foi preso quando participava de um campeonato de jiu-jitsu em Vitória.

As investigações da Polícia Civil apontam que o suspeito fechava contratos de prestação de serviço, mas não cumpria. Segundo a polícia, em 2015 e 2016, onze comissões foram vítimas do suspeito. 

O homem cobrava entre R$ 6 mil a R$ 20 mil de cada estudante por um pacote completo, que incluía cerimônia religiosa e baile de formatura. Após o golpe, o suspeito fugia para não receber as intimações da Justiça.

VEJA ORIENTAÇÕES PARA NÃO CAIR EM GOLPES

Pesquise sobre a reputação da empresa 

Ao Folha Vitória, a advogada especialista em Direito do Consumidor, Nicolli Dutra, destacou que os estudantes devem sempre ficar atentos a reputação da empresa de formatura antes de contratar os serviços.

É primordial que a comissão obtenha referências com outras turmas de formandos que já utilizaram dos serviços da empresa de formatura, bem como solicitar a empresa a visita em uma das festas organizadas por ela“, disse.

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Um ponto importante, segundo a advogada, é buscar informações sobre a empresa que a turma pretende contratar na Receita Federal, no Procon e no Judiciário para saber se há registros de reclamações ou processos. Sites de reclamação e comentários nas redes sociais também devem ser levados em consideração.

Também é recomendado que os membros da comissão verifiquem o local da comemoração para ver como está sendo realizada a organização para o grande dia“, destacou Nicolli.

Escolha bem os integrantes da comissão de formatura

Antes de procurar uma empresa de formatura, a turma precisa escolher os representantes que serão responsáveis pela “ponte” entre os formandos e a empresa.

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A advogada lembra que é importante que a turma seja bastante diligente e cuidadosa ao escolher os membros para compor a comissão, pois serão eles os responsáveis por fechar os contratos e, posteriormente, fazer a prestação de contas para a turma.

Procurem escolher aquela pessoa que vocês terão certeza de que fará o melhor para a turma, que irá se dedicar ao máximo, que será criteriosa em suas escolhas, que prezará pela qualidade do evento, bem como deverá sempre manter os formandos atualizados em relação a todas as decisões“, frisou.

Comissão de formatura deve agir com transparência

A organização dos eventos, assim como todo o processo de escolha de local, buffet, decoração, é realizado pelos membros da comissão. 

De acordo com a advogada, todo o andamento da organização das festividades deve ser compartilhado com os formandos que participam do fundo de formatura — como é chamado a conta criada pelo grupo de alunos que optam e pagam pela realização das festas.

A comissão de formatura deve agir com transparência para que todos os formandos estejam cientes de como os recursos financeiros estão sendo ou pretendem ser utilizados“, disse.

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A advogada listou algumas estratégias que podem ajudar a comissão de formatura na organização dos eventos: 

— criem planilhas;
— estabeleçam metas;
— pesquisem para efetuarem bons negócios;
— atuem com seriedade;
— mantenham a proximidade com a turma.

Empresas e membros da comissão que não cumprirem contrato podem ser punidos

As empresas e os membros da comissão de formatura que não cumprirem com as cláusulas estabelecidas no contrato podem ser punidos criminalmente. 

O advogado criminalista David Metzker explica que o tipo crime varia de acordo com a forma e circunstância em que o golpe ocorreu.

Caso a empresa tenha usado de fraude para obter vantagem indevida, pode responder por estelionato. Isso é, se, por exemplo, a comissão entregar voluntariamente o dinheiro acreditando se tratar de um negocio legal, mas na verdade está sendo enganada. 

Já se alguém que detém a posse do dinheiro desvia da finalidade, poderá responder por apropriação indébita. A pena do estelionato varia entre 1 e 5 anos e da apropriação entre 1 e 4 anos.

Importante saber e conhecer o trabalho anterior da empresa de formatura, se teve algum problema, buscar contratos passados. Dentro da comissão, importante deixar claro quem será o administrador financeiro, obrigatoriamente duas pessoas para assinarem e firmarem compromissos e negócios, prestação de conta periodicamente“, destacou Metzker.

Caso haja suspeita de golpe, a orientação do advogado é que os formandos vítimas procurem imediatamente a delegacia especializada e, se possível, acompanhada de um advogado.

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A Polícia Civil também lembrou da importância das vítimas registrarem o boletim de ocorrência. É a partir do registro que os casos são investigados.

Sobre o homem suspeito de aplicar golpes em estudantes do Espírito Santo citado no início desta reportagem, a Secretaria de Estado da Justiça informou que ele continua preso no Centro de Detenção Provisória de Viana II.

Foto: Thiago Soares/ Folha Vitória
Gabriel Barros Produtor web
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Graduado em Jornalismo e mestrando em Comunicação e Territorialidades pela Ufes. Atua desde 2020 no jornal online Folha Vitória.