Um ano depois, o que se sabe sobre caso de jovem que teve intestino exposto em praia de Guarapari
Para a polícia, namorada do jovem é responsável pelos ferimentos. Já para os envolvidos, seus familiares e advogados, uma terceira pessoa estaria envolvida. O caso deve ir a julgamento em março
Gabriel Muniz Pickersgill viveu uma reviravolta em sua vida na madrugada de 16 de janeiro de 2022. O rapaz, que se preparava para viajar aos Estados Unidos, precisou mudar de planos após ter o intestino exposto na Praia do Ermitão, em Guarapari. O jovem estava acompanhada da namorada, Lívia Simões Paiva Pereira, mas ninguém soube explicar o que teria acontecido.
Desde o dia do ocorrido, Gabriel tem se dedicado à recuperação. Segundo o advogado Lécio Machado, que representa a namorada do jovem, Gabriel está bem. Ele ainda requer alguns cuidados de saúde, mas tem conseguido se alimentar normalmente e consegue trabalhar.
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O jovem e a namorada não se recordam de todos os fatos daquela noite. Gabriel e Lívia disseram em depoimento à polícia que não lembram de muitos detalhes do que aconteceu. Eles contaram que haviam bebido e usado LSD.
O casal, assim como suas famílias e advogados, defendem a hipótese de que o crime tenha sido cometido por terceiros. No entanto, para os investigadores do caso, os ferimentos teriam sido provocados por Lívia.
A jovem foi indiciada pela Polícia Civil e denunciada pelo Ministério Público do Espírito Santo (MPES) por lesão corporal grave. Os órgãos acreditam que, sob o efeito de drogas, ela teria provocado as lesões no namorado.
O titular da Divisão Especializada de Homicídios e Proteção à Pessoa de Guarapari, delegado Franco Malini, explicou os motivos que levaram a polícia a indiciar a jovem.
"Essa investigação não poderia se basear em provas testemunhais, porque apenas os dois estavam no local. A conclusão de que foi ela a responsável se deu quando foi confirmado que só estavam os dois. O segundo ponto, são as lesões que ela apresentava, típicas de ataque. Isso leva a crer que ela lesionou o rapaz, possivelmente deu socos no rosto dele e também fez o corte na barriga", disse.
A denúncia apresentada pelo MPES, no entanto, não esclarece o motivo pelo qual ela teria provocado o crime. Segundo o texto, Lívia teria feito os cortes "por motivação desconhecida e impulsionada pelos efeitos do uso das drogas".
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Por enquanto, ela é ré no processo. A previsão do advogado de defesa dela, Lécio Machado, é que a audiência do caso aconteça em março deste ano.
“O MPES não tinha feito nem exame de lesão corporal. Não tinha prova que o Gabriel tinha sido agredido. Isso atrasou o andamento do processo. Eles também estão com testemunhas a mais do permitido, e precisam definir quem será ouvido na audiência. Somente depois dessa definição, será possível marcar uma data definitiva, mas a previsão é que aconteça em março", pontuou.
Procurado pela reportagem, o Ministério Público informou que já cumpriu com as partes que lhe cabia.
Caso ganhou repercussão nacional após especulações sobre o que teria ocorrido
O caso aconteceu na madrugada de 16 de janeiro de 2022 e ganhou repercussão nacional no fim daquele mês, quando uma série de especulações sobre o que teria ocorrido começaram a surgir nas redes sociais.
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O advogado Lécio Machado destacou que, com a grande repercussão do ocorrido, Gabriel e Lívia precisaram se afastar das redes sociais. Apesar disso, ele acredita que as especulações não devam interferir no julgamento do caso.
"Não acredito que isso irá causar qualquer prejuízo no julgamento dos fatos. As histórias que surgiram prejudicaram muito a família, o Gabriel e a Lívia. Eles precisaram se afastar das redes sociais, evitam exposição pública, tentam se preservar por conta da repercussão", disse ao Folha Vitória na última semana.
Ao longo do ano, a advogada que representa Gabriel chegou a requerer na Justiça o sigilo do caso para evitar a exposição do cliente, mas teve o pedido negado.
Na decisão, o juiz Edmilson Souza Santos, da 2ª Vara Criminal de Guarapari, disse que não identificou "elementos de prova demonstrando que a saúde da vítima esteja prejudicada em detrimento de divulgações". O magistrado destacou também que o próprio Gabriel havia gravado um vídeo comentando o caso.
Na mesma semana, o jovem tinha publicado um vídeo nas redes sociais em que se pronunciou sobre os desdobramentos do caso. Ele defendeu a namorada, ré no caso, e afirmou que ela também foi uma vítima.
"É óbvio que minha namorada não tem nada a ver com isso. Assim como eu, ela é uma vítima desse acontecimento. Fica claro que tinha uma terceira pessoa que fez isso com nós dois. (...) Primeiro de tudo, nós fomos roubados, mas parece que isso não foi levado em conta", explanou no vídeo, que não está mais disponível.
Veja o que se sabe até o momento
O casal esteve na Praia do Ermitão, localizada no Parque Morro da Pescaria, em Guarapari, para participar de um luau que ocorreu entre a noite de 15 e 16 de janeiro.
Gabriel havia acabado de ganhar uma bolsa de estudos nos Estados Unidos e saiu para comemorar e se despedir da namorada. Os dois jovens ficaram cerca de sete horas no local, como mostraram imagens de videomonitoramento obtidas na época com exclusividade pela TV Vitória/Record TV.
O relógio da câmera de segurança marcava 21h01, de 15 de janeiro, quando o casal aparece caminhando pela lateral da Praia do Morro, que dá acesso ao parque.
O rapaz e namorada caminham em direção às pedras que dão acesso a uma trilha do parque. A entrada é alternativa e fica fora do portão principal, que estava fechado.
Nas imagens, é possível ver que o rapaz está com uma lanterna e carrega uma mochila nas costas. A jovem segue logo atrás dele.
Cerca de sete horas depois, a jovem aparece nas imagens pedindo ajuda ao vigia do parque, que não aparece no vídeo devido ao ângulo da câmera. Segundo fontes ouvidas pela TV Vitória/Record TV na época, dez minutos depois do pedido de socorro o vigia ligou para a central do parque e informou o ocorrido.
Às 4h26, a menina aparece ao lado do pai. Eles aparentam estar desesperados. O homem fala com alguém ao telefone. Às 4h42, a menina aparece nas imagens sentada em um banco. Ela usa o telefone para ligar para alguém.
Às 5h16, os socorristas do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e os Bombeiros chegam ao local. O rapaz, que já estava com o corte na barriga e sem parte do intestino, é socorrido. Por volta das 6h, ele é levado de maca para a ambulância.
Gabriel teve alta em 17 de março após ficar cerca de dois meses internado em um hospital particular na Serra. Poucos dias depois, ele precisou ser novamente hospitalizado depois que apresentou um quadro de infecção e febre. O jovem conseguiu se recuperar.
Em abril, a Polícia Civil indiciou Lívia. Segundo a polícia, a estudante combinou com a mãe que chegaria em casa até 1h, mas o horário passou e a jovem não chegou em casa. Diante disso, a mãe começou a ligar para ela, mas as chamadas só foram atendidas às 2h20.
"Por volta de 2h20, ela atendeu a ligação da mãe e, segundo ela, só foi possível escutar a voz da filha. Em alguns momentos, a mulher ouviu o rapaz falando "Praia do Ermitão", que foi como ela conseguiu deduzir o local que eles estavam", explicou o delegado responsável pelo caso, Franco Malini.
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A Justiça aceitou a denúncia apresentada pelo Ministério Público do Espírito Santo contra a estudante Lívia Lima Simões Paiva Pereira, de 21 anos. Com base na investigação feita pela Polícia Civil, o MPES considerou que a jovem foi a autora das lesões apresentadas no corpo do namorado.
No entanto, na denúncia do Ministério Público Estadual não foi solicitada a prisão da jovem, que deve responder ao processo em liberdade.
Ao acolher a denúncia, o juiz Edmilson Souza Santos deixou claro que o simples fato de aceitar a denúncia não significa que a ré seja considerada culpada.
Ele destacou que, ao receber a denúncia, estava apenas aceitando a acusação diante da prova de materialidade e de indícios de autoria. Disse ainda que, ao longo do processo, a ré poderá apresentar sua defesa e que somente após o proferimento da sentença é que se terá certeza sobre sua condenação ou absolvição.
"O recebimento da denúncia não significa que o(a) denunciado(a) será condenado(a), uma vez que o recebimento da denúncia é mero juízo de admissibilidade. Demais disso não se pode olvidar o princípio da presunção de inocência ou não culpabilidade", frisou o juiz.
Na época, o magistrado também lembrou que tanto a vítima como a ré constituíram o mesmo advogado, desde quando o caso começou a ser investigado pela polícia. Entretanto, como os dois ficaram de lados opostos no processo, o advogado Lécio Machado precisou escolher quem iria representar. Ficou definido que ele iria representar Lívia.
O que de fato aconteceu naquela madrugada ainda é um mistério. De um lado está a família dos envolvidos e seus advogados que defendem a participação de outras pessoas no caso, do outro estão as autoridades policiais que acreditam que a namorada do rapaz tenha o ferido.
Por quanto, a estudante segue como ré no processo penal e irá responder por lesão corporal grave. Se considerada culpada pela Justiça, a pena de reclusão pode chegar a 8 anos. A previsão é que a primeira audiência do caso aconteça em março.
O Folha Vitória procurou a advogada que representa Gabriel. Por mensagem ela disse que o jovem está bem de saúde e "tenta seguir com a sua vida e o seu relacionamento de forma natural".