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Variante inglesa do coronavírus no ES: cientista defende vacinação em massa para deter mutações

Virologista e professora da Universidade Federal do Espírito Santo defende que imunização da população é a maneira eficaz de barrar as mutações do vírus

Marcelo Pereira

Redação Folha Vitória
Foto: governo do ES

A notícia de que mais uma variante do novo coronavírus - considerada a mais contagiosa até agora - foi detectada no Espírito Santo traz preocupações com o avanço da doença e infecções no Estado. 

No último 24 de fevereiro, um estudo realizado pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e pela Rede Corona-Ômica, uma sub-divisão da Rede Vírus, comitê criado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), apontou que a variante originária do Reino Unido, conhecida como linhagem B.1.1.7 está presente em oito estados, incluindo o Espírito Santo, na cidade de Barra de São Francisco. 

A variante inglesa foi identificada em dezembro do ano passado por autoridades sanitárias do Reino Unido e é considerada mais contagiosa do que a versão original do novo coronavírus. Ela já se disseminou por 60 países, segundo informe da Organização Mundial de Saúde (OMS). 

Outras cinco variantes já haviam sido detectadas no Espírito Santo após exames de sequenciamento genômico na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). São elas:

- P1 e P2 (identificadas em pacientes vindos de Manaus);

- B.40 (identificada entre os primeiros casos do Estado, em período que não havia transmissão comunitária);

- B.1.1.33 e B.1.1.28 (mutações que circulam desde março de 2020, sendo as mais frequentes)

Sobre a variante inglesa, a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) respondeu que não foi informada sobre a presença desta variante e que aguarda o retorno da Fiocruz sobre a questão.

VACINAÇÃO BARRA MUTAÇÕES

Para a microbiologista,  virologista e professora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Liliana Cruz Spano, a presença das variantes torna ainda mais necessário a ampliação da cobertura vacinal na população.

"A vacinação é uma das estratégias mais eficazes para evitar que o vírus prolifere e sofra mutações. Infelizmente, ela está lenta no Brasil. A imunização serviria para controlar essa transmissão", destaca. 

A especialista esclarece que a natureza do vírus causador da pandemia já indicava que ele poderia sofrer mudanças. "Essas alterações ocorrem na chamada espícula do vírus, as proteínas da sua estrutura, em que ele se liga nas células de quem ele infecta. Inicialmente, comparado com o v´írus da influenza, achava-se que ele mudaria menos. Mas seu avanço pelo mundo inteiro e o contato inédito com populações favoreceram essa rapidez", explica.

EFICÁCIA DAS VACINAS

As mudanças das variantes podem influenciar na eficácia das vacinas. Liliana diz que há estudos permanentes em andamento e que algumas indústrias farmacêuticas já alteraram os imunizantes com a chegada das novas cepas.

 "A Moderna, por exemplo, já alterou sua vacina frente à variante da África do Sul", indicou. Ela diz que, caso seja necessário, modificar uma vacina é um processo relativamente rápido. 

"É por isso que a vacinação não deve ser, em hipótese alguma, descartada, mesmo com essas cepas. A ideia, com as imunizações, é sempre barrar a circulação, restringindo ao máximo o alcance dessas variantes", reforça.  Liliana acredita que o coronavírus veio para ficar, assim como o vírus da influenza. 

"À medida que a vacinação avançar e cobrir o máximo possível da população, chegaremos à estabilidade, com ele circulando mas sem o mesmo impacto que a gente observou nesse período de pandemia", ressalta.

Até lá, as medidas de prevenção precisam continuar. O uso de máscaras, álcool em gel e o distanciamento social, além da higiene frequente das mãos, não devem ser hábitos ignorados. 

SEM TRANSMISSÃO COMUNITÁRIA 

Em coletiva à imprensa na última segunda-feira (22) , o secretário de Saúde, Nésio Fernandes, afirmou que todos os casos de variantes são isolados no Estado. "Não há confirmação de transmissão comunitária no Espírito Santo. Acreditamos que, em breve, vamos confirmar que a P1 tem a transmissão confirmada no Estado, o que não tem nada a ver com o recebimento de pacientes de Manaus no Estado. Todos eles foram isolados e foram submetidos a exames e todos os trabalhadores que tiveram contato com eles também foram testados", lembrou. 

A transmissão comunitária acontece quando já não é possível rastrear qual a origem da infecção, indicando que o vírus circula entre as pessoas, independentemente de terem viajado ou não para o local de foco da mutação. 

Até o momento, a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) não confirma que houve transmissão comunitária em relação às cepas da Amazônia. Também não há registro das cepas da África do Sul e do Reino Unido. A Sesa espera retorno da Fiocruz. 


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