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Volta às aulas: a adaptação de alunos e pais para iniciar o ano letivo de 2021

No Espírito Santo, aulas nas escolas particulares e públicas voltaram nessa semana. O período de retorno exigiu esforço e atenção redobrada

Thaiz Blunck

Redação Folha Vitória
Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal

Horário para dormir e acordar, provas, atividades de casa, reuniões...Embora a rotina ainda seja parecida em muitos aspectos, desta vez o ano letivo começa diferente, com mudanças, novos hábitos e regras que demandam ainda mais atenção e organização por parte das instituições, pais, responsáveis e alunos. 

Independente do nível de escolaridade, dar o “start” na rotina escolar já não é fácil. Imagina então bem no meio de uma pandemia? Neste momento, principalmente no ensino infantil, é necessário mais do que ajustar o despertador, arrumar os livros e a lancheira. Os pais precisam estar presentes e, sobretudo, passar segurança e estabilidade para os filhos. 

Foto: Bruno Menezes

A pedagoga e especialista em transtornos infantis, com formação e experiência nos Estados Unidos, Claudia Laet, explica que agora os adultos estão passando mais tempo em casa, com as crianças. Dessa forma, é inevitável que os filhos percebam os medos e as inseguranças que também afetam os pais. 

"Elas estão percebendo as instabilidades, os medos, e um dos principais problemas, independente da faixa etária, é o estresse. Os pais precisam conversar com os filhos, tentando passar pra eles segurança e estabilidade. Também é importante  passar que a interação social não é uma interação física. Na realidade, ela é visual, cognitiva, é uma comunicação verbal, através de sinais. Outro ponto importante é o restabelecimento da rotina, que as crianças e a sociedade perderam com o distanciamento", afirma.

Falando em rotina, desde o ano passado a bióloga Jane Karla Schaeffer vem se adaptando da melhor forma para acompanhar o filho nas atividades escolares. Felipe, de 8 anos, iniciou agora o 3º ano do ensino fundamental no Centro Educacional Vinicius de Moraes (Cevim), em Cariacica. 

“Precisei ficar a maior parte do tempo em casa, principalmente para ajudar nos conteúdos e atividades a serem apresentados durante as aulas online. Acredito que as aulas presenciais garantirão um ano letivo melhor que 2020, pois a interação professor- aluno de forma presencial é mais vantajosa para o aprendizado, já que a própria estrutura da escola garante uma maior concentração dos alunos”, conta. 

Foto: Divulgação | Cevim
Mais de 50% dos alunos da Escola Cevim retornaram para a aula presencial 

O modelo tradicional de ensino foi opção não só da Jane, mas de pelo menos metade dos pais de alunos da instituição. Segundo o diretor administrativo do Cevim, Leandro Quiuqui Julião, nos primeiros dias de aula já foi possível perceber um bom índice de retorno às aulas presenciais. 

"Mais de 50% retornaram de forma presencial. No caso de algumas turmas, vamos dividir e deixar um grupo uma semana na escola e outro em casa. As famílias que optaram por online provavelmente vão optar pelo presencial, porque a dinâmica na sala vai ficar com um distanciamento ideal, mais confortável e dentro do protocolo. Fizemos uma enquete pra ver quem queria e voltou mais do que imaginávamos. De segunda pra cá, as turminhas foram crescendo e a tendência é vir em massa", conta. 

Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal

As aulas do Felipe tiveram início nesta quarta-feira (3). Jane destaca que o engajamento da família neste momento de retorno é essencial para driblar os obstáculos. Para ela, é importante também deixar claro para as crianças que as escolas estão prontas para recebê-las.

“Fortalecer a relação afetuosa através do diálogo com os filhos ouvindo suas expectativas e sentimentos em relação a este momento se faz preciso. As adaptações da nova rotina incluem a criança dormir no horário habitual, passar segurança para o filho, mostrando a ele que a escola está preparada para recebê-lo com todas as medidas de segurança, e que este é lugar também de diversão e realização de momentos lúdicos. Isso o incentiva”, afirma. 

Essa também é a orientação da pedagoga Claudia Laert. Ela destaca que a família precisa ter criatividade para manter-se presentes na vida das crianças. E isso não envolve só a relação de mãe e pai com o filho. Através das atividades escolares, é possível também estimular a boa relação entre os filhos de idades diferentes. 

"Se você tem crianças de idades diferentes, pode colocar o mais velho pra fazer atividades com o mais novo, por exemplo, de uma forma lúdica. Nós temos que reinventar, tem que haver uma mudança de comportamento.  Se você lê um livro que seu filho está lendo e começa a conversar com ele sobre isso, é diferente, ele vai se sentir importante, vai sentir o gosto pela leitura. Eu acho que a covid-19 teve o lado negativo, mas também teve o lado positivo porque nos ajudou a repensar a vida familiar e os valores", destaca. 
Veja as dicas a pedagoga Claudia Leat para os pais neste período de volta às aulas!



CUIDADOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Para uma retomada segura, é necessário que pais e responsáveis conscientizem as crianças, para que eles mantenham o hábito de utilizar máscara, lavar as mãos e utilizar o álcool em gel também nas escolas. Segundo a psicopedagoga especialista em Gestão Escolar e Educação Especial, Ana Regina Caminha Braga, o cuidado deve ser redobrado, principalmente com alunos da educação infantil, já que é nesta fase que eles mais precisam de interação com crianças da mesma faixa etária.

"Mesmo em carteiras separadas, é comum que as crianças pequenas dividam materiais de forma espontânea, pegando o lápis ou o brinquedo do colega emprestados. Mas isso não poderá acontecer. Tentar manter o distanciamento social é importante. É preciso lembrar os filhos de que não pode abraçar e beijar os colegas, mesmo nos intervalos das aulas”, diz.
Foto: Divulgação

A psicopedagoga sugere ensiná-las o cumprimento com os cotovelos. Outra dica importante é pedir para que os pequenos façam seus lanches sentados, sem correr ou conversar muito próximos dos seus colegas, para evitar que gotículas se espalhem.

"A orientação, principalmente para a educação infantil, é uma conscientização prévia, porque a criança não tem tanta consciência do que está acontecendo. Os pais devem ser exemplos no sentido de usar máscara e ter todas as precauções. Eles podem também procurar materiais e vídeos didáticos para complementar isso. A criança gosta do abraço, gosta do toque. Quando se alimenta, às vezes oferece para o outro, então a escola deve pensar em tudo isso", explica. 

OUÇA | Dicas para preparar as crianças para a volta às aulas

Dicas da especialista para ajudar na volta às aulas presenciais:

1. Acostumar a criança a permanecer de máscara por tempo prolongado já dentro de casa para que ela consiga fazer o mesmo durante o período na escola;

2. Lembrar que o lanche, brinquedos e materiais escolares são individuais e não devem ser compartilhados;

3. Alertar diariamente sobre a importância do distanciamento social, para que evitem abraços, beijos e conversas próximas;

4. Ensinar o cumprimento com o cotovelo, para minimizar o toque;

5. Criar o hábito de lavar as mãos e passar álcool em gel periodicamente;

6. Se for necessário, buscar ferramentas lúdicas na internet para auxiliar no preparo das crianças, como materiais do Mauricio de Souza ou do Ziraldo.

COOPERATIVAS EDUCACIONAIS

As cooperativas educacionais do Espírito Santo também passaram por mudanças para iniciar o ano letivo de 2021. Na Cooperativa Educacional de São Mateus (Coopesma), ou Escola Alternativa Lago dos Cisnes, que conta com 540 alunos, as aulas também tiveram início nesta semana e já começaram alinhadas a essa nova realidade.

Foto: Divulgação

A estudante do 1º ano do Ensino Médio, Júlia Cesconete, de 14 anos, concluiu o ensino fundamental em 2020 de forma remota. Ela é aluna da Escola Alternativa desde os 6 anos de idade e comemorou o retorno às aulas presenciais. 

"É uma mistura de emoções bem grande poder voltar! Como a gente já está em preparação para o Enem, é bem importante estar presencialmente, pois tudo já está com foco nisso. As aulas voltaram segunda-feira e eu estou bem animada. Todos estão respeitando certinho o distanciamento, tem um 'x' onde as nossas carteiras ficam", conta. 

Para poder atender a todos os alunos, a cooperativa também adotou o ensino híbrido, com grupos estudando presencialmente durante uma semana e realizando os estudos online na semana seguinte. A diretora da Escola Alternativa Lago dos Cisnes, Zenilza Aparecida Barros Pauli, explicou que no caso dos alunos da 3ª série do Ensino Médio, como existe o Enem e os vestibulares, as aulas ocorrem 100% presencial. Para que isso ocorresse de forma segura, foi necessária uma divisão em duas turmas

"Foi um retorno gradativo, mas hoje temos todas as turmas. Porém, pela manhã, o modelo é hibrido, então tenho 50% dos alunos vem em uma semana e 50% na outra. Já no período da tarde, deu pra comportar bem. Nós montamos um comitê, fizemos um plano de retorno e começamos as mudanças físicas. É muito trabalhoso, é diferente de tudo aquilo que já vivemos quanto educador, mas tivemos muito cuidado e muito zelo, tanto com os nossos funcionários quanto com os nossos alunos e suas famílias", afirmou a diretora. 
Foto: Divulgação | Coopesma
Distanciamento entre os alunos na sala de aula na Escola Alternativa Lago dos Cisnes

Entre os procedimentos adotados pela instituição estão: organização das salas com o distanciamento; reinstalação dos ventiladores para circulação do ar; álcool em todos os portões de acesso; adoção de uma rotina de higienização; utilização das quatro entradas do prédio para evitar aglomeração; aferição da temperatura de todas as pessoas que acessam o espaço; e horário marcado para ida de entregadores.

ADAPTAÇÕES NO ENSINO SUPERIOR

No ensino superior, como a maioria dos alunos tem faixa etária acima dos 18 anos e já está familiarizada com a tecnologia, a adaptação foi um pouco mais fácil. Apesar disso, a mudança repentina na rotina provocou impacto - tanto positivo, quanto negativo - na vida dos alunos e professores. 

Foto: Divulgação

O estudante de ciências econômicas da Fucape Business School, Eduardo Brandão, de 19 anos, conta que a maior dificuldade no período de transição das aulas foi adaptar-se ao novo 'ambiente escolar', que passou a ser a própria casa. 

"A maior dificuldade foi a adaptação ao lar, tendo em vista que os membros familiares também estavam inseridos neste meio, cada um realizando a sua atividade diária, o que gerou diversos ruídos. Até encontrar o local onde eu pudesse aplicar os meus estudos de maneira eficiente e produtiva, demorou certo tempo", conta. 

Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal

Depois da adaptação, tudo fluiu bem e o que era novo tornou-se parte da rotina. O estudante, que agora cursa o 5º período, destaca que, apesar das dificuldades, o ano que passou foi muito crescimento, tanto no âmbito escolar, como profissional. 

"O ano de 2020 foi de grandes dificuldades, mas que teve também grande crescimento estudantil e profissional. Estou bem animado para esse novo ano letivo! Acredito que também teremos grandes ganhos." 

O professor da Fucape e doutor em Controladoria e Contabilidade, Aziz Xavier Beiruth, reforça o que o estudante pontuou, que apesar do período de transição, no segundo semestre de 2020 todos já estavam acostumados com as nova rotina.

As aulas na instituição tiveram início na última semana para os calouros, que ingressaram no primeiro período noturno. Já na próxima semana, todos os períodos retornam, com exceção do 1º período matutino.

Foto: Divulgação

"Na semana passada iniciaram-se as aulas do primeiro período noturno. A partir de semana que vem, voltam todos os períodos, com exceção do primeiro período matutino. A Fucape já adotou as medidas desde 16 de março. Nós não paramos e os nossos alunos não perderam nada em termos de aulas. Em um primeiro momento, até setembro, ficamos exclusivamente online. Depois, os alunos puderam escolher entre vir para a instituição ou ficar em casa. No presencial, temos 20% de alunos por turma e, caso haja necessidade, fazemos um revezamento", destaca.

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