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'Putin não é louco. É um líder autoritário sem freios', diz especialista

A avaliação é do historiador George Liber

Estadão Conteúdo

Redação Folha Vitória
Foto: ASSOCIATED PRESS ESTADÃO CONTEÚDO

Após a saída caótica dos EUA do Afeganistão, o presidente russo, Vladimir Putin, provavelmente acreditou ter uma janela de oportunidade para insistir em uma antiga demanda dele e da Rússia, a de consolidar a Ucrânia sob a esfera de influência russa. A avaliação é do historiador George Liber, em entrevista ao Estadão.

Putin foi motivado por uma noção de que o governo Biden está enfraquecido?

A retirada dos EUA de Cabul provavelmente inspirou Putin. Eu acho que as explicações do governo Biden de por que o Taleban assumiu tão rapidamente não convenceram. O presidente russo viu isso e parece ter acreditado que este era um bom momento para pressionar os EUA e a Otan sobre a Ucrânia. Putin tem um interesse de longa data em trazer a Ucrânia de volta para a esfera de influência russa. Ele imaginou que o Afeganistão enfraqueceu tanto o governo Biden que quaisquer declarações feitas por ele sobre a Ucrânia ou a Otan não seriam apoiadas pelos outros membros da aliança militar.

Por que a Ucrânia é importante para Putin e Rússia?

Bem, ambos estão entrelaçados com coisas diferentes. Não podemos esquecer qual é a formação de Putin, de oficial da KGB na Alemanha Oriental (Dresden). O que aconteceu foi que em novembro de 1989, depois que o muro caiu, os alemães orientais atacaram o quartel-general da Stasi. No entanto, quando chegaram ao complexo russo que abrigava a sede da KGB, o então tenente-coronel Vladimir Putin era o oficial sênior encarregado. Ele viu seu prédio ser cercado, sofreu a ameaça desses manifestantes que queriam invadir seu prédio. Então ele saiu e confrontou os manifestantes com uma metralhadora. E disse a eles que atiraria se viessem em sua direção. Tudo isso se tornou uma experiência traumática. Nisso, ele passa a associar a democracia ao caos. Depois de se sentir ameaçado em Dresden, então volta para São Petersburgo, se sente ameaçado pelo colapso da União Soviética. Agora que ele está no poder há mais de 20 anos, quer restabelecer a esfera de influência russa não apenas sobre ex-repúblicas soviéticas como a Ucrânia, mas em outros países do Leste Europeu. Mas há uma coisa que está no seu caminho, a Otan.

Existe alguma previsão de essa situação se dissipar?

A questão que surge é quais são os riscos que Putin vai correr? Não acho que ele seja suicida, nem louco. Como ele é um líder autoritário de um país que não tem freios e contrapesos sobre ele, pode fazer o que quiser. Ele controla a mídia estatal e pode explicar o que quiser ao povo russo e a esmagadora maioria vai acreditar nele. Se não há uma mudança e a mesma pessoa fica no poder por muito tempo, ela acumula amigos que só dizem o que ela quer ouvir. E não há ninguém verificando. Com o passar do tempo, Putin talvez tenha aceitado essa própria imagem inflada dele mesmo.

E sua popularidade?

É muito alta. Há (na Rússia) essa percepção de que o colapso da URSS criou uma Ucrânia e uma Belarus independentes e isso não é natural. A maioria dos russos foi educada para pensar que toda essa área era e ainda é uma única unidade.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.