O presidente da Ucrânia, Volodymir Zelensky, agradeceu nesta sexta-feira, 25, a votação de uma resolução no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) condenando as ações da Rússia em seu país e exigindo a retirada de tropas.
A medida, proposta pelos Estados Unidos em parceria com a Albânia, contou com 11 votos favoráveis, mas foi barrada pelo poder de veto russo, prerrogativa como membro permanente do Conselho. A oposição de Moscou foi a única. Houve três abstenções, incluindo de China e Índia.
O Brasil votou de forma favorável à resolução. O representante do Brasil na ONU, Ronaldo Costa Filho, afirmou nesta sexta-feira que “estamos muito preocupados” diante de uma “ameaça sem precedentes à carta da ONU”.
O embaixador pediu a busca por uma solução diplomática, além do imediato fim de hostilidades e a retirada de tropas da Ucrânia. Segundo ele, “uma linha foi cruzada, e o Conselho não pode ficar parado” e a “paz na ordem internacional deve ser preservada”.
“À medida que a Rússia continua a atacar Kiev, o projeto de resolução é co-patrocinado por um número sem precedentes de estados membros. Isso prova: o mundo está conosco, a verdade está conosco, a vitória será nossa”, afirmou Zelensky em seu Twitter.
O presidente apontou os países que votaram pela resolução, incluindo o Brasil, e disse que os membros tentaram parar a Rússia e seus ataques à Ucrânia e a carta da ONU.
“O veto russo é uma mancha de sangue em sua placa no Conselho de Segurança, o mapa da Europa e do mundo. A coalizão anti-guerra deve agir imediatamente”, escreveu.
Zelenski diz que Rússia tentará tomar Kiev: ‘Destino do país será decidido’
O presidente ucraniano afirmou que o destino do país está “sendo decidido agora”, enquanto tropas russas se aproximam de Kiev na tentativa de tomar a capital. “Esta noite (de sexta-feira para sábado) será a mais difícil. O inimigo vem com tudo”, disse em pronunciamento aos ucranianos. “Devemos resistir”.
“Muitas cidades do nosso Estado estão sob ataque: Chernihiv, Sumy, Kharkiv, nossos meninos e meninas em Donbas, as cidades do sul”, listou Zelenski no discurso. “Peço atenção especial a Kiev. Não podemos perder a capital.”
Na mensagem, o presidente ucraniano acusou a Rússia de atacar escolas infantis.
“Não há nada que possa explicar por que os jardins de infância e a infraestrutura civil estão sendo bombardeados”, disse.
Zelenski também aproveitou para agradecer ao exército do país e afirmou que os militares são a última esperança frente à Rússia. “Fiquem firmes. Vocês são tudo o que temos”, declarou.
O presidente ucraniano foi visto nesta sexta-feira (25) nas ruas da capital, cercado por assessores, após boatos de que ele havia abandonado o país. “Estamos aqui. Estamos em Kiev. Estamos defendendo a Ucrânia”, disse Zelenski em um vídeo filmado na rua Bankov.
Na quinta-feira, Zelenski publicou um vídeo em que afirma ser o alvo nº 1 dos russos. “Eles querem destruir a Ucrânia politicamente destruindo o chefe de Estado”, disse. Oficiais americanos afirmaram ao jornal The Washington Post que o governo dos EUA está preparado para resgatar Zelenski, mas que até agora ele se recusou a sair.
Depois de tomar uma base aérea ao norte da cidade na quinta-feira, as forças russas estão agora perto da capital. Elas também estão avançando por duas rotas do norte e pelo menos uma do leste.
Em Kiev, sirenes, explosões e abordagem por tropas ucranianas
Nesta sexta-feira, o Ministério da Defesa da Ucrânia afirmou que o Exército da Rússia entrou no distrito de Obolon, a menos de 9 quilômetros do centro de Kiev, e os bombardeios aumentaram nas últimas horas. Em consequência das explosões, há fumaça preta nos arredores do rio Dnieper, que corta a capital ucraniana.
Os tanques governistas estão nas ruas, em sinal de preparação para a resistência armada. Autoridades ucranianas disseram que um avião russo foi derrubado e colidiu com um prédio em Kiev durante a noite, incendiando-o e ferindo oito pessoas.
A orientação do governo local à população é se manter em local seguro. A sirene de emergência já soou na capital ucraniana ao menos três vezes na quinta-feira. Trata-se do aviso para que todos se dirijam a bunkers ou abrigos, em razão do risco de bombardeio em massa.
As forças russas aproximaram-se de Kiev após avançar rapidamente de três eixos, no Norte, Sul e Leste da Ucrânia. As duas primeiras frentes dirigiam-se à capital no início da ofensiva, segundo autoridades de inteligência ucranianas.
Agências de notícias informam que o ataque começou com helicópteros, pouco antes das 4h locais (23h de Brasília). Sirenes de ataque aéreo soaram sobre a cidade de 3 milhões de habitantes, onde algumas estavam abrigadas em estações de metrô subterrâneas
Com ruas desertas e sob o som de bombas, moradores de Kiev que arriscam deixar suas casas em busca de um refúgio ou mesmo em rota de fuga da cidade tem se deparado com militares nas ruas. Quem tenta filmar o que está acontecendo é advertido de que não é permitido fazer o registro.
O repórter Eduardo Gayer, enviado especial do Estadão à Ucrânia, foi um dos abordados nas ruas de Kiev.
Na tarde desta sexta-feira, 25, ele deixou o hotel em que estava abrigado no centro da cidade. O jornalista foi orientado a buscar um ponto mais seguro.
O hotel já tinha sido abandonado pelos funcionários no dia anterior. Tropas da Rússia ocupam o país já estão próximas à capital.
Ao deixar o hotel, o jornalista foi abordado por militares. Ele não pode registrar as imagens da abordagem porque os soldados avisaram que era proibido filmar no local. O jornalista andava a pé pelas ruas filmando e descrevendo a situação. Após a abordagem, o jornalista continuou em busca do novo refúgio.
Assustados com invasão, ucranianos fogem em trens lotados para Polônia
Com a capital da Ucrânia sob ataque e temendo o confronto militar entre tropas de seu país e os russos, moradores de Kiev lotam comboios de trem que partem em direção à Polônia. Em busca de um local seguro, longe das bombas, os ucranianos se amontoam nas plataformas da estação à espera do embarque.
Um comboio que partiu no início da noite desta quinta-feira, 25, (ainda tarde em Brasília) levava famílias inteiras, jovens, crianças e idosos. A reportagem do Estadão acompanhou a fuga de Kiev até a Polônia.
Sem lugares marcados ou mesmo espaço nos vagões, ucranianos se espremiam até mesmo nos corredores, viajando em pé no trajeto que os levaria até a fronteira polonesa a 900 quilômetros de distância. Até Varsóvia, capital da Polônia, seriam 20 horas de viagem.
Em meio ao desespero para deixar às pressas o país e num embarque feito de forma improvisada, quem tinha alguma mala teve que jogá-la para dentro do vagão pela janela.
Quando o comboio se preparava para partir, ucranianos ainda recebiam pela janela garrafas de água mineral. Uma mulher avisava: “Garotos, temos que ir. Vocês já têm os documentos. Vamos partir”.
Após conversa com Macron, Zelensky diz que exclusão da Rússia da Swift foi apoiada
O presidente da Ucrânia, Volodymir Zelensky, conversou nesta sexta-feira, 25, com o homólogo francês, Emmanuel Macron. Em seu Twitter, o ucraniano disse que a exclusão da Rússia da Sociedade de Telecomunicações Financeiras Interbancárias Mundiais (Swift, na sigla em inglês), a introdução de sanções pessoais contra o presidente russo Vladimir Putin e o fornecimento de armas de defesa foram apoiados.
“Devo dizer que ele é um verdadeiro amigo da Ucrânia. Obrigado à França”, escreveu Zelensky.
Antes do Conselho Europeu, o ucraniano havia pedido que Macron pressionasse por maiores retaliações à Rússia no âmbito da União Europeia.
Embaixadora dos EUA na ONU: Rússia ameaça o sistema internacional como o conhecemos
A embaixadora dos Estados Unidos na Organização das Nações Unidas (ONU), Linda Thomas-Greenfield, afirmou nesta sexta-feira, 25, que a Rússia “ameaça o sistema internacional como o conhecemos”.
Durante a votação da resolução no Conselho de Segurança da ONU que condena a agressão russa na Ucrânia e pede a retirada de forças imediata e possibilidade de assistência humanitária noa país, a embaixadora disse que “países responsáveis não invadem seus vizinhos”.
Thomas-Greenfield lembrou que a Rússia ameaçou a Finlândia e a Suécia hoje (sexta-feira) em caso de entrada dos países na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). Segundo ela, nas cidades russas, pessoas estão se manifestando contra a invasão, mostrando insatisfação com a postura do governo local.
FMI diz que autoridades da Ucrânia solicitaram financiamento emergencial
A diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Kristalina Georgieva, afirmou nesta sexta que as autoridades da Ucrânia solicitaram financiamento emergencial ao organismo.
Em comunicado, a dirigente apontou que além da assessoria política contínua, o FMI está explorando todas as opções para apoio financeiro adicional, inclusive no âmbito do Acordo Stand-By existente para um valor em aberto de US$ 2,2 bilhões.
“Para além da Ucrânia, as repercussões do conflito representam riscos econômicos significativos na região e em todo o mundo. Estamos avaliando as possíveis implicações, inclusive para o funcionamento do sistema financeiro, mercados de commodities e o impacto direto em países com vínculos econômicos com a região”, avalia Georgieva.
“Estamos prontos para apoiar nossos membros conforme necessário, em estreita coordenação com nossos parceiros internacionais”, concluiu.
Comissário europeu diz estar confiante de que ações irão enfraquecer economia russa
O comissário europeu para Economia, Paolo Gentiloni, afirmou nesta sexta-feira, 25, que está confiante de que as ações adotadas pela União Europeia irão enfraquecer seriamente a economia russa.
Em entrevista à Bloomberg, o dirigente apontou que o bloco não pode “evitar pagar algum preço se decidirmos sermos fortes no apoio à Ucrânia contra as agressões da Rússia”. Ainda assim, disse estar pronto para tomar “a parte nas consequências econômicas que isso terá, especialmente no ponto de vista dos preços de energia”.
O italiano avaliou: “não pensamos que com sanções os ataques irão parar amanhã. Todos sabemos que será um confronto de médio prazo”.
Porta-voz diz que Ucrânia aceitou proposta para negociar cessar-fogo
Um porta-voz do presidente Volodímir Zelensky disse na tarde desta sexta-feira que a Ucrânia aceitou a proposta do presidente russo, Vladimir Putin, para abrir as negociações de um cessar-fogo. Os dois países agora discutem hora e local do encontro.
Tenho que refutar as alegações de que nos recusamos a negociar. A Ucrânia estava e está pronta para falar sobre cessar-fogo e paz – essa é nossa posição constante. Respondemos de acordo com a proposta do presidente da Rússia, Vladimir Putin. Sergei Nikiforov, porta-voz da Ucrânia, em sua conta no Facebook
“Quanto mais cedo as negociações começarem, mais chances haverá de restaurar a vida normal”, acrescentou Nikiforov.
Os russos entraram pelo norte, sul e leste da Ucrânia, em uma ofensiva que, segundo o presidente ucraniano, matou 137 civis —uma criança entre eles— e deixou mais de 300 feridos.
As tropas da Rússia chegaram à região de Kiev, nesta sexta-feira (25), e promoveram um cerco à capital ucraniana. Diversos bombardeios têm sido ouvidos na cidade desde a madrugada, o que levou parte da população local a fugir para países como Hungria e Romênia. Além disso, tiros foram relatados em várias áreas.
Casa Branca: Biden vai impor sanções sobre Putin e Lavrov
A porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki, afirmou que os Estados Unidos vão impor sanções diretas ao presidente da Rússia, Vladimir Putin, e ao ministro das Relações Exteriores do país, Sergey Lavrov.
Segundo ela, a decisão foi tomada de forma alinhada com os “parceiros europeus”. Mais cedo, o alto representante da União Europeia (UE) para a política externa, Josep Borrell, confirmou a inclusão de Putin e Lavrov na lista de indivíduos alvos de sanções.
Em coletiva de imprensa, Psaki disse que retirar a Rússia da Sociedade de Telecomunicações Financeiras Interbancárias Mundiais (Swift, na sigla em inglês) continua sendo uma opção e “está na mesa”. “Estamos tomando medidas alinhados com a Europa”, destacou.
Mais uma vez, Psaki afirmou que os Estados Unidos não vão enviar tropas para a Ucrânia, “evitando colocar os americanos em uma guerra”. No entanto, ela destacou que os EUA continua apoiando a Ucrânia e “considerando uma gama de opções para fornecer assistência ao país”.
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Psaki afirmou nesta sexta-feira que sanções ao setor de energia da Rússia “não estão fora da mesa” e continuam, portanto, sendo uma opção. Segundo ela, a crise na Ucrânia está mostrando que o mundo precisa diversificar suas fontes de energia.
Invasão começou após Putin autorizar os ataques
A invasão russa à Ucrânia começou na quinta-feira (24), após o presidente Vladimir Putin autorizar os ataques ao país vizinho. Eles aconteceram inicialmente nas regiões próximas à fronteira entre os dois países, como Lviv, Lutsk, Chernobyl, Kharkiv, Mariupol e Kherson.
Também houve ataques nas regiões separatistas de Lugansk e Donetsk, onde muitas pessoas não reconhecem o poder central da Ucrânia e são pró-Rússia.
Além disso, houve ataques à cidade de Dnipro, na região central. As tropas da Rússia também invadiram a Ucrânia a partir de Belarus, país aliado a Moscou. Portos e aeroportos do país foram atingidos pelos ataques.
Outra frente da invasão foi a península da Crimeia, anexada à Rússia em 2014. Houve ainda ataques a partir do Mar Negro, de onde os militares russos entraram na Ucrânia pela cidade portuária de Odessa.
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Governo da Ucrânia pede que povo use coquetéis molotov
Com a chegada das tropas russas à região de Kiev, capital da Ucrânia, o governo local fez uma convocação para todos os civis se alistarem para ajudar a combater o avanço dos militares do país vizinho. Além disso, encorajou moradores a fazerem coquetéis molotov.
“Precisamos de todos os recrutas, sem restrições de idade”, disse uma primeira mensagem publicada pelo Exército da Ucrânia em uma rede social.
A convocação, presumivelmente, vale também para menores de idade, e alcança homens e mulheres. Desde dezembro, todas as mulheres ucranianas “aptas ao serviço militar” entre 18 e 60 anos fazem parte da reserva em tempos de guerra.
Pouco depois, houve uma segunda convocação: “hoje, a Ucrânia precisa de tudo. Todos os procedimentos de adesão são simplificados. Traga apenas seu passaporte e número de identidade”.
Em sua conta no Twitter, o Ministério do Interior da Ucrânia disse que os moradores devem “preparar coquetéis molotov” para tentar deter os invasores. “Pedimos aos cidadãos que nos informem sobre os movimentos de tropas, façam coquetéis molotov e neutralizem o inimigo”.
Putin pede ao Exército ucraniano que derrube o presidente
Nesta sexta-feira, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, pediu ao Exército ucraniano que “tome o poder” em Kiev e derrube o presidente Volodmir Zelenski e seu entorno, a quem chamou de “neonazistas e viciados em drogas”.
Putin deu a entender que a saída do presidente da Ucrânia poderia precipitar o fim da invasão russa. “Tomem o poder em suas mãos. Acho que vai ser mais fácil negociar entre mim e vocês”, disse Putin ao Exército ucraniano em um discurso televisionado, pouco antes de ele se encontrar com seu conselho de segurança.
Apesar da fala de Putin, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse a repórteres que o governo russo havia concordado em realizar conversas com a Ucrânia, dizendo que o país está disposto a enviar uma delegação à capital de Belarus, Minsk, para conduzir o diálogo.
“Em resposta à oferta do presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, Vladimir Putin está pronto para enviar a Minsk uma delegação russa”, disse Peskov, acrescentando que os representantes incluiriam funcionários da defesa e dos ministérios das Relações Exteriores, assim como do gabinete presidencial.
Em uma declaração em vídeo nesta sexta-feira, Zelensky pediu a Putin que se reunisse para conversas. “Gostaria de me dirigir ao presidente da Federação Russa mais uma vez. A luta está acontecendo em toda a Ucrânia. Vamos sentar à mesa de negociações para impedir a morte de pessoas”, disse ele em russo em um vídeo publicado em seu canal no Telegram.
Em outro pronunciamento, Zelenski afirmou que a invasão russa é como um ataque da Segunda Guerra Mundial e que está disposto até mesmo a adotar um “status neutro” — o que, na prática, significaria o abandono da ambição de entrar na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).
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Com informações do Portal R7, Estadão Conteúdo e agências internacionais