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Festa de Iemanjá em Camburi completa 40 anos

Fiéis do candomblé e da umbanda fazem homenagens à Rainha do Mar nesta quinta-feira (2). Orixá é celebrada também em Cariacica e na Serra

Marcelo Pereira

Redação Folha Vitória
Foto: Maresia/divulgação
Mãe Neia (com adja de prata na mão direita) comanda as celebrações de Iemanjá na praia de Camburi, que acontecem há 40 anos

As homenagens à Iemanjá, orixá feminina (divindade africana) do candomblé e da umbanda, vão movimentar Vitória, Serra e Cariacica nesta quinta-feira (2), dia dedicado à entidade.

Na Praia de Camburi, na Capital, no píer onde está a estátua da Rainha do Mar, a celebração comandada por Edinéia da Silva Cabral, a ialorixá Mãe Neia, completa 40 anos.

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A programação, aberta ao público, começa a partir das 15h, com apresentações culturais com roda de capoeira, samba e maculelê feitas pela Associação Desportiva e Cultural de Capoeira Barravento. O ponto alto é o recolhimento das oferendas pelos sacerdotes consagrados da casa de Mãe Neia e a entrega dos balaios às águas no meio da baía.

“É só gratidão porque essa celebração para Iemanjá, que cresceu em Camburi ao longo desses anos, é uma conquista nossa. Quanto mais a gente celebrar, mostrar ao povo nossa crença, convidando mais gente, mais a nossa fé vai ser respeitada”, comemora a sacerdotisa, responsável pela casa Nzó Musambu riá Kukuetu, sediada em Bairro de Fátima, na Serra.

Mãe Neia lembra que ela começou a homenagear a orixá na praia de Vitória, quando o píer nem existia, a partir de 1983. 

“Vinha aqui, fiz a oferenda do balaio. Apareceu gente não entendendo nada. Até veio a polícia, achando que estava tendo afogamento. Mas com o tempo e a persistências as pessoas foram entendendo o ritual e o amor por Iemanjá”, relembra.

Foto: Divulgação/PMV

Ela chegou ao Espírito Santo em 1982 vinda de Santos, no litoral paulista. Lutou para que as comemorações para Iemanjá fossem feitas no dia 2 de fevereiro, como pede a tradição das religiões de matriz africana.

“Quando cheguei, vi que faziam na noite de Ano Novo. Mas aí misturava religião com outras coisas. Tinha tumulto e bebida, o que confundia mais ainda. Hoje a gente conseguiu marcar a data correta. Me sinto feliz porque comecei um trabalho de conscientização e tive uma resposta bonita”, reforça Mãe Neia, que se tornou referência no Estado na luta dos direitos humanos e contra a discriminação religiosa.

Ela explica que Iemanjá é a mãe dos orixás, “mãe de todas as cabeças”, sendo seu reino o mar, que abarca tudo. “A gente diz que o mar é o maior dos reinos e o que não serve ele bota pra fora. É nesse sentido a entrega de oferendas, é uma forma da gente se integrar espiritualmente nesse grande reino e pedir as graças e que ele leve o que não presta para longe de nós”, comenta.

Dentro dessa vontade, Mãe Neia pede que as oferendas dos fiéis não contenham matérias como vidros, plásticos ou metais, "apenas presentes que se integrem e nutram a vida nas águas". “Pode levar flores, é o principal”, recomenda.

Festa em Vitória terá feira temática na praia

Além da celebração preparada por Mãe Neia, perto do píer, antes, haverá a partir das 9h uma programação que reúne várias casas de religião afro-brasileira, ocupando a areia da praia com barraquinhas com venda de comidas típicas, artesanato, além da ofertas das oficinas de samba de caboclo e atabaque.

A festa é realizada pela Prefeitura Municipal de Vitória (PMV), Casa Santa Rita de Cássia dos Impossíveis e os perfis Umbanda Capixaba e Umbanda no Espírito Santo, no Instagram. 

A iniciativa é que as festividades em Camburi passem a fazer parte dos calendários oficiais de eventos municipal e estadual, inclusive, ampliando a programação com carreata e procissão de terreiros.

Celebração para Iemanjá na Serra é contra o preconceito

Na Serra, os terreiros e casas de candomblé e umbanda se reúnem a partir das 16h, no antigo Bar Quintal, na orla de Jacaraípe. De lá, partem em procissão em direção à Praça Encontro das Águas, onde se encontra o Monumento à Iemanjá. Às 17h, haverá a entrega dos balaios. Às 18h, o Xirê dos Orixás, a roda de preces e de danças, seguido do toque de Umbanda e de apresentações culturais. 

Foto: Reprodução Facebook
Cerimônia de Iemanjá em fevereiro de 2022 na Serra: cerimônias e homenagens de fieis do Candomblé e da Umbanda, na Praça Encontro das Águas, em Jacaraípe, começa a partir das 17h

Além de celebrar a Mãe dos Orixás, o ato vai ser um basta à intolerância religiosa, segundo Ana Karolina da Fonseca Oliveira, coordenadora geral do Movimento de Juventude de Terreiro do Espírito Santo. 

“O monumento foi vandalizado em setembro de 2021. Mas nós estamos de cabeça erguida, para mostrar que a fé e o amor são mais fortes. Queremos fazer daqui um marco cultural para a cidade da Serra com a ocupação frequente dos fiéis das religiões de matriz africana e, inclusive, a criação de um píer para Iemanjá como já se tem em Vitória”, explica.

Foto: Reprodução / Facebook
Comunidade de fieis na Serra quer ocupação no Monumento à Iemanjá para evitar vandalismo

O monumento depredado é uma casa que abriga no interior uma imagem de Iemanjá. O imóvel foi arrombado, a imagem teve a cabeça retirada. Além de outros estragos, os suspeitos urinaram no local. Os fiéis registraram boletim de ocorrência na Polícia Militar. Foi feita, na época, uma manifestação no local. A estátua foi restaurada posteriormente pela Prefeitura da Serra.

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A festa para Iemanjá em Jacaraípe é organizada pela União Espírito Capixaba (Unescap) e pela Comissão de Povos Tradicionais de Matriz Africana, com apoio do Conselho Municipal do Negro da Serra (Conegro) e da Prefeitura Municipal da Serra (PMS). 

Obras na orla de Porto de Santana mudam local de cerimônia em Cariacica

Em Cariacica, cerimônia será mais breve devido a obras na orla de Porto de Santana. Mas os festejos não deixarão de ser feitos. 

"É uma obrigação que já mantemos há sete anos. Devido a intervenção que está sendo feita, vamos mudar o local para perto daquela academia popular, na altura da sede da Polícia Federal", explica o babalorixá Sandro Cabral.
Foto: Lucas Calazan/PMC
Os festejos para Iemanjá em Cariacica serão realizados na orla de Porto de Santana

Os fiéis se reúnem às 19h e farão uma roda de preces e de dança, antes da entrega dos balaios na Baía de Vitória. 

Foto: Lucas Calazan/PMC
Babalorixá Sandro Cabral explica que a cerimônia para Iemanjá em Cariacica já dura sete anos

Cabral acredita que, no próximo ano, com a revitalização da orla, haverá um espaço adequado para acolher a cerimônia.

Iemanjá é associada à Nossa Senhora das Candeias

Conhecida como a Rainha do Mar, nascida das águas, o nome de Iemanjá tem origem nos termos do idioma iorubá “Yèyé omo ejá”, que significa “Mãe cujos filhos são como peixes”. 

Por ser tida como a matriarca de quase todos os orixás, a divindade é associada à maternidade e à fecundidade, sendo uma das mais cultuadas e reverenciadas pelos praticantes de religiões de matrizes africanas. 

Iemanjá também é considerada protetora dos pescadores e jangadeiros. 

No sincretismo com o Catolicismo, ela é associada à Virgem Maria, sob os títulos de Nossa Senhora dos Navegantes e Nossa Senhora das Candeias.  

Como a festa desses títulos de Nossa Senhora são celebradas em 2 de fevereiro na Igreja Católica, os fieis da Umbanda e Candomblé terminaram por incorporar a comemoração de Iemanjá a esta data também.