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Estudante consegue cota racial em Farmácia na Ufes, mas não em Medicina

Bruno da Silva Nascimento relata que tentou contato com a Pró-Reitoria da universidade, mas disse que não chegou a ser atendido. Ufes não vai comentar

Guilherme Lage

Redação Folha Vitória
Foto: Thiago Soares/Folha Vitória

O estudante Bruno da Silva Nascimento, de 25 anos, iniciou os estudos do curso de Farmácia, na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) em 2018. Ele, que se autodeclara pardo, ingressou na universidade por meio do sistema de cotas para pessoas de baixa renda e pretas, pardas e indígenas (PPI). 

Naquela época, o estudante relata que a entrada na universidade não dependeu apenas da autodeclaração e da aprovação, mas também passar pela a banca de revisão, que deu o sinal verde para que o aluno desse início aos seus estudos no campus. 

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Acontece que ao passar novamente pelo processo, desta vez para cursar Medicina, o aluno teve sua vaga para cotas negada pela própria universidade. 

"Naquela época, a gente mandava a foto primeiro e quem eles tivessem dúvida, chamavam presencialmente. No meu caso, eu fui convocado pela banca. E ainda assim tive matrícula deferida, me matriculei em Farmácia. Este ano passei em Medicina pela mesma modalidade, tive entrevista com a banca racial, e negaram a matrícula", contou. 
Foto: Foto: Reprodução/ Arquivo Pessoal

Bruno relata que tentou contato com a Pró-Reitoria da universidade, mas que não chegou a ser atendido. De acordo com ele, atendentes da Ufes o recomendaram a entrar com recurso para tentar reverter a decisão da banca. 

O estudante afirma que entrou com dois recursos junto ao presidente da comissão e outro com o conselho universitário. Ele questiona o que teria mudado no processo de seleção de 2018 para cá.

"Como pode uma universidade, com base no mesmo critério, me negar apenas por causa da diferença de curso? Como eu troquei de etnia só por causa do curso?", indagou. 

Bruno relata que havia deixado de frequentar as aulas no curso de Farmácia para se dedicar aos estudos para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), para tentar uma vaga no curso de Medicina. 

Apesar disso, ele afirma que manteve a matrícula no curso aberta e, no início deste mês, a própria Ufes emitiu um atestado que confirma a entrada de Bruno na universidade por meio do sistema de cotas de baixa renda e PPI. 

"Eu achei bem estranho, porque deixei bem claro que já era aluno e no edital dizia que pode usar essas informações. Eu mantive a matrícula  justamente para evitar qualquer tipo de problema", disse. 
Foto: Foto: Reprodução/ Arquivo Pessoal

O estudante relata que ainda não levou o caso para a Justiça, mas caso o problema persista, não descarta levar o caso para o tribunal. "Não é um caso comum", afirma o jovem. 

O que diz a Ufes

Por meio de nota, a Ufes informou que enquanto o processo do Sistema de Seleção Unificada (Sisu) 2024 ainda estiver em andamento, a equipe da Pró-Reitoria de Graduação (Prograd) não vai manifestar sobre este ou qualquer outro caso específico. 

Ainda segundo a Ufes, desde a implementação do sistema de reserva de vagas, a Ufes, assim como as demais universidades, vem aperfeiçoando o trabalho de reserva de vagas.

Na mesma nota, a universidade explica que a avaliação étnico-racial para candidatos pretos e pardos é realizada de maneira presencial pela Comissão de Verificação de Autodeclaração, considerando única e exclusivamente o fenótipo negro (preto ou pardo): predominantemente a cor da pele, a textura do cabelo e os aspectos faciais. 

Veja o posicionamento da Ufes na íntegra: 

"Enquanto o processo do Sisu 2024 estiver em andamento, a equipe da Pró-Reitoria de Graduação (Prograd) da Ufes não se manifestará sobre este ou qualquer outro caso específico do processo seletivo.
No entanto, a Prograd informa que, desde a implementação do sistema de reserva de vagas, a Ufes, assim como as demais universidades, vêm aperfeiçoando o trabalho de reserva de vagas. Se antes bastava a autodeclaração, agora existe um processo misto de heteroidentificação, em que a autodeclaração é validada ou não por uma comissão avaliadora (todas as informações sobre como funciona a avaliação estão normatizadas pela Resolução nº49/2021).
Atualmente, a avaliação étnico-racial para candidatos pretos e pardos é realizada de maneira presencial pela Comissão de Verificação de Autodeclaração, considerando única e exclusivamente o fenótipo negro (preto ou pardo): predominantemente a cor da pele, a textura do cabelo e os aspectos faciais que, combinados ou não, permitem validar ou invalidar a autodeclaração.
Esse processo visa a coibir eventual destinação de vagas reservadas para quem não é alvo da política social, considerando possíveis fraudes, bem como declarações equivocadas devido a ausência de compreensão das questões raciais."

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