O número de usuários de drogas na Grande Vitória é crescente. Segundo o governo do Estado, de janeiro de 2020 até o mês de novembro, foram atendidos no Centro de Acolhimento e Atenção Integral sobre Drogas (CAAD) quase 2.000 pessoas e realizados 9.434 atendimentos.
A recuperação é um processo penoso para os dependentes, mas os centros de reabilitação têm desempenhado um papel importante no resgate das pessoas do vício das drogas, seja por meio de serviços com equipes especiais ou mesmo com conscientização em grupos.
No Espírito Santo, a Fazenda Esperança, localizada em Muribeca, na Serra, é uma uma instituição filantrópica e sem fins lucrativos que trabalha na recuperação de jovens e adultos com dependência química e substâncias psicoativas. O trabalho é realizado sob responsabilidade do casal voluntário Marize Coutinho de Oliveira e Eliemar Geraldo Negris de Oliveira.
O método da comunidade terapêutica contempla alguns aspectos importantes. De acordo com a coordenadora, o diferencial é a vida em família. “Aqui nós trabalhamos em cima de um tripé: convivência, espiritualidade e trabalho. São eles que cozinham, ensinando um ao outro os próprios dons. Na fazenda, eles aprendem a amar o irmão, aquele que não é igual a você. Não importa quem matou, quem roubou. Aqui somos todos iguais,” diz Marize.
A casa de recuperação conta com unidades em todo o país. Na convivência e no trabalho diário, os responsáveis pelo projeto contam que têm notado um aumento significativo no número de usuários de drogas nos últimos anos.
“É notório na nossa sociedade de hoje que o que assola o mundo são as drogas. Atendemos pessoas que vêm de família de todas as classes sociais: advogados, médicos, policiais”, contam os coordenadores.
Ramon é uma das pessoas acolhidas pelo centro. Ele conta que começou cedo no vício e conta parte do que viveu enquanto estava nas ruas. Após um longo tratamento, hoje ele é um voluntário do abrigo.
“Logo depois da maconha, eu conheci a cocaína. O momento em que você se dá conta de que está viciado, é quando você passa a ter atitudes incoerentes, como pegar dinheiro dos pais escondido, dar pequenos golpes em pessoas próximas. Você passa a viver uma vida de escuridão completa, passa a frequentar a rua, a morar na rua, ficar em buracos abandonados, sujos, usando drogas. Você vai se isolando”, conta.
De acordo Luciana, esposa de Ramon, ele dormia várias noites fora de casa por conta das drogas. O período foi se estendendo, até ele ficar quase uma semana sem voltar. “Quando ele ficou no fundo do poço, sem saída, vendo que nem o irmão dele estava aguentado ele, Ramon procurou ajuda na Fazenda”, lembra Luciana.
O coordenador do projeto, Eliemar Oliveira, diz que o início do acolhimento é marcado por um período de reclusão, onde apenas a pessoa, com ela mesmo, busca pela espiritualidade. “É isso que vai dar a fortaleza para o usuário se manter sóbrio. O contato entre ele e Deus.”
Depois desse tempo em que a pessoa fica isolada, a família também é acolhida no processo de recuperação. Luciana conta como foi o período em que o marido decidiu procurar ajuda.
“A gente só pode visitar depois que o paciente está na fazenda por três meses. Acredito que esses meses são importantes para ele perceber a importância que a família tem e para a gente também. Nós, que somos família, acabamos ficando doente junto com eles”, disse Luciana.
Em 2020, a Fazenda Esperança acolheu cerca de 60 pessoas. De 2012, quando iniciaram os acompanhamentos, até o ano passado, foram 378 usuários acolhidos. Desse número, 86 concluíram o tratamento em 12 meses, e 41 estão no processo. Os coordenadores contam que o local vive de ajuda e da solidariedade das famílias.
“Aqui nós vivemos de providências. Existe uma contribuição da família, mas hoje, se nós temos 19 pessoas em tratamento, e se apenas seis contribuem, já é muito. O restante é por providência”, disse Eliemar.
APOIO
A Fazenda Esperança agora conta com o apoio do Instituto Américo Buaiz, que dará mais visibilidade ao local. Para Marize, o projeto é muito importante. “As pessoas ainda não têm noção do que é essa obra,” disse a coordenadora.
Eliemar também está bastante otimista: “Com essa ajuda, vamos conseguir ajudar muitas pessoas. É importante para a Fazenda, mas muito mais para aqueles que necessitam de apoio, que às vezes não conhecem a obra”.
Enquanto o poder público também trabalha para atender os dependentes químicos, a Fazenda Esperança segue sendo um braço de apoio na recuperação de tantas pessoas como o Ramon, que saiu do fundo do poço para hoje viver em paz.