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Incêndio que causou morte de irmãos na Serra foi provocado por 'gato' na fiação elétrica

De acordo com a polícia, apesar das ligações clandestinas, não há responsabilização criminal, em relação às mortes, para os responsáveis pelas crianças

Foto: Corpo de Bombeiros/Divulgação
Israel e Ícaro Storch morreram durante um incêndio na casa onde moravam, na Serra

O incêndio que resultou na morte de duas crianças, em agosto do ano passado, no Bairro das Laranjeiras, na Serra, foi provocado por uma série de irregularidades na fiação elétrica da residência onde ocorreu o fato. A polícia constatou até ligações clandestinas, que apontam para um possível furto de energia — o chamado "gato".

O inquérito sobre o caso foi concluído pela Polícia Civil e aponta que, apesar das ligações clandestinas, não há responsabilização criminal, em relação às mortes, para os responsáveis pelos irmãos Israel e Ícaro Storch, de 5 e 6 anos de idade.

A conclusão do inquérito aconteceu pouco mais de seis meses após o incêndio. Segundo o titular do 11º Distrito Policial, delegado Rodrigo Rosa, responsável pelas investigações, os laudos apontaram que os dois irmãos morreram carbonizados e que o incêndio foi uma fatalidade.

"As investigações demoraram um pouco porque a gente precisava aguardar a confecção dos laudos, tanto do Corpo de Bombeiros quanto da Polícia Civil, informações prestadas pela fornecedora de energia elétrica, laudo cadavérico para saber a causa das mortes. E, ao final, a gente concluiu que, infelizmente, foi uma fatalidade que ocasionou a morte das duas crianças", afirmou.

"O laudo cadavérico foi bem conclusivo em apontar que não houve outras lesões nas crianças além das causadas pelo fogo. Elas morreram, infelizmente, pela carbonização", completou Rodrigo Rosa.

O delegado explicou ainda que o furto de energia elétrica configura crime, mas ressaltou que a família das crianças não pode ser responsabilizada pelo que ocorreu com os irmãos, por se tratar de um acidente.

"O furto de energia é crime. A partir da notificação da concessionária, detectando a ligação clandestina e o laudo, eles encaminham para a gente e a gente instaura o inquérito, justamente para punir a pessoa pelo furto de energia. Agora, quanto à causa da morte das crianças, a gente não tem como responsabilizar as pessoas porque foi uma fatalidade mesmo. Foi mais pela ignorância do risco daquele tipo de ligação", frisou Rodrigo Rosa.

De acordo com a Polícia Civil, os peritos que estiveram no local encontraram diversas emendas na fiação, caracterizando possíveis ligações clandestinas.

"A fiação tinha várias emendas em torno da parede onde passava essa fiação. Além disso, a tubulação onde a fiação passava era uma tubulação plástica, tipo essas de fazer irrigação de jardim. E essa tubulação, quando pega fogo, ela derrete e fica pingando. Isso facilita a propagação do fogo", explicou o perito criminal Fernando Colnago Gonçalves.

Fogo pode ter começado em fiação dentro da parede do quarto

Os peritos também encontraram uma rachadura na parede do quarto dos irmãos e estranharam a fuligem. Para eles, há indícios de que o fogo começou de dentro para fora da parede.

"Havia uma rachadura na parede e tinha fuligem saindo da rachadura. Então nós resolvemos abrir essa parede e verificamos que toda a tubulação onde passava a fiação elétrica da casa estava derretida. Só que, como essa fiação estava escondida dentro da parede, não dá para a gente afirmar que foi por conta do incêndio. Aparentemente, parecia que ela tinha começado de dentro para fora", disse Gonçalves. 

Foto: Reprodução / TV Vitória
Peritos da Polícia Civil constataram fiação exposta e indícios de ligações clandestinas na residência

"Então nós verificamos uma outra tomada, que também estava dentro do quarto, e que também ficou exposta às mesmas temperaturas, e a outra tomada não apresentava as mesmas características. Ela estava íntegra. Isso mostrou para a gente que o fogo iniciou de dentro para fora da parede. Ou seja, iniciou na fiação elétrica que estava na parede e se propagou para o restante do quarto", completou.

Além disso, perto da tomada havia um guarda-roupa, que pegou fogo ao ter contato com o material da tubulação plástica que derreteu. Por isso, segundo as investigações, as chamas se alastraram tão rápido.

"Havia um guarda-roupa em frente a essa tomada e, possivelmente, depois que esse material entrou em ignição, ele escorreu e chegou até o guarda-roupa. Como o guarda-roupa é um material com bastante combustível — a madeira e a própria roupa que estava dentro — isso facilitou que o fogo se propagasse", frisou o perito.

Os peritos constataram ainda que a rede elétrica do imóvel estava sobrecarregada e que, dias antes, a geladeira da família havia apresentado um princípio de incêndio.

"Houve um princípio de incêndio na geladeira da residência, um ou dois dias antes do fato. Isso mostra para a gente que, de fato, a casa estava em sobrecarga. Além disso, não havia nenhum tipo de sistema de proteção na residência. Havia uma ligação clandestina e a ligação era direta. Não passava por nenhum tipo de disjuntor nem nada", destacou Fernando Gonçalves.

Relembre a morte dos irmãos que foram carbonizados

O incêndio que resultou na morte dos irmãos aconteceu na madrugada do dia 16 de agosto do ano passado. Além das duas crianças, a avó, de 62 anos, e a irmã dos meninos, uma adolescente de 15 anos, estavam na casa, que foi praticamente consumida pelo fogo.

Ícaro e Israel dormiam juntos no quarto que foi atingido pelas chamas. A avó e a irmã tentaram salvar os meninos e controlar o fogo usando panelas e baldes com água, mas o teto cedeu e caiu sobre eles.

Foto: Reprodução / TV Vitória

Ao chegar ao local, o Corpo de Bombeiros não tinha a informação da presença dos garotos dentro da casa. Quando ficaram sabendo, eles entraram na residência para realizar buscas, mas encontraram as crianças já mortas.

Vizinhos também tentaram ajudar no controle do fogo, mas as chamas estavam altas e não foi possível entrar no local.

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* Com informações da repórter Gabriela Valdetaro, da TV Vitória/Record TV 

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