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Crianças e redes sociais: saiba como proteger o seu filho de criminosos

Especialistas explicam de que forma os pais podem contribuir para a proteção dos filhos no ambiente virtual para evitar que atraiam atenção de mal-intencionados

Isabella Arruda

Redação Folha Vitória
Foto: Divulgação

Certamente o caso da menina carioca, de apenas 12 anos, que foi sequestrada e levada em carro de aplicativo para o Maranhão, reacendeu um alerta. Os mais de 3 mil quilômetros rodados ao lado de um homem de 25 anos, que conversava com a pré-adolescente havia dois anos, chamam a atenção para os perigos que a internet e as redes sociais oferecem.

Diante disso, a reportagem do Folha Vitória conversou com especialistas para entender de que forma os pais podem contribuir para a proteção dos filhos no ambiente virtual, inclusive controlando espaços digitais para evitar que crianças atraiam atenção de gente mal intencionada.

Sobre o assunto, o titular da Delegacia de Repressão aos Crimes Cibernéticos, Brenno Andrade, afirmou que, por mais simples que possa parecer, o mais importante é que seja criado um ambiente de diálogo dentro de casa, o que seria o suficiente para reduzir, em grande medida, o número de ocorrências policiais envolvendo crianças e adolescentes.

“Mas não é isso que acontece. Os filhos não se sentem confortáveis em falar com os pais quando um problema acontece. Os pais precisam criar esse ambiente para informar aos filhos que quando acontecer alguma coisa estranha na internet, eles sejam os primeiros a serem comunicados”, disse.

Segundo o delegado, o que se observa na unidade policial é que os filhos só comunicam à família quando a situação já está bastante grave.

“Algo que também pode ser feito é que os pais fiscalizem eventualmente o histórico de navegação de internet, para saber o que o filho está acessando. Outro ponto é deixar o ambiente do computador em algum local em que se possa passar e ver o que está sendo feito, e não em um local trancado. Os pais também devem informar às crianças sobre perfis que se passam por personagens de desenhos, atores, para na verdade atraí-las”, acrescentou.

Em relação a um possível controle do que o menor pode ou não acessar, Andrade afirma, inicialmente, que as redes sociais pedem limite de idade, contudo essa parte é facilmente burlável um mero clique.

“Mas, de tudo, o que acho que falta mais em casa é o diálogo. Percebemos que os pais estão às vezes mais conectados que as próprias crianças e deixam os filhos de lado. E, a partir do momento que não se interessa pelo que o filho faz ou olha, não dá atenção, alguém do outro lado da tela pode dar e pode ser um criminoso”, frisou.

Outra sugestão importante resgatada pela autoridade policial é uma regra que remonta a um passado longínquo: “A gente sempre ouviu dos pais e avós: 'Se você não conhece a pessoa com quem está falando na rua, também não deve falar com estranhos na internet'. Isso também deve ser aplicado na rede mundial de computadores”, destaca.

O que diz a psicologia sobre o acesso precoce à tecnologia?

Para entender o que a psicologia tem a contribuir sobre o assunto do acesso precoce à tecnologia, a reportagem do Folha Vitória conversou com a especialista em neuropsicologia, psicologia puerperal e sexologia, Daniella Sperandio.

“Existe uma preocupação muito grande por parte dos pais em tornar o acesso à tecnologia cada vez mais precoce. E não é de hoje que a gente os vê entregando telefone celular e estimulando o uso, porque falsamente entendem que a utilização de uma tecnologia tornará o cérebro mais desenvolvido”, pontuou a especialista.

Segundo Sperandio, o que os pais esquecem é que há uma grande janela de desenvolvimento da secretaria cerebral até os cinco anos de idade. “Antes a criança brincava com mobile, colocavam aquele quadradinho no círculo, tentavam encaixar. São atividades com tentativas, ensaios e erros, com o contato “olho no olho” como um elemento extremamente importante”, acrescentou.

À medida que um adulto apresenta uma tela ao filho, segundo a especialista, ele está, de certa forma, transferindo a ele uma tecnologia que tem respostas prontas, então os responsáveis pelos menores acabam não ensinando a capacidade da criança ensaiar coisas diferentes.

Para Sperandio, falta aos pais não só observar o que os filhos fazem, mas se engajar com eles. “Não basta ser um ‘cuidador de helicóptero’, como se estudou em Harvard certa vez, sendo um supervisor da criança. Mas é importante sentar ao lado dela e perguntar ‘o que você está fazendo? Com quem está conversando?’”, disse.

A psicóloga também citou uma pesquisa que mostra que 90% de todos os aplicativos se autodenominam “educativos”, mas jamais foram pesquisados, então pode não ser tão confiável assim ou tão produtivo como se pensa.

Falta ainda uma discussão do que seria um uso consciente das novas tecnologias. 

“Nunca esqueço de uma paciente de São Paulo que disse: ‘Não sei como isso aconteceu! Eu comprei um celular para falar com minha filha enquanto estava na escola e achei fotos eróticas nele'. Então ela foi atrás e descobriu que, na escola, como todas as crianças carregavam o celular no intervalo e a tia da recreação escrevia na lousa nomes de algumas músicas, elas iam atrás. Uma das músicas era 'A dança do pintinho'. E aí conteúdos variados passaram a aparecer por conta disso”, resumiu.

Por fim, a neuropsicóloga sintetizou: “Gosto daquela velha frase extraída do livro do Conde Drácula, que diz o seguinte: “O mal é uma porta cuja fechadura se abre pela parte de dentro”, pontuou.

Especialista em Sistemas de Informação comenta cuidados que se deve ter com os filhos no ambiente virtual

O gerente de Tecnologia Jackson Galvani, graduado em Sistemas de Informação e pós-graduado em Segurança da Informação, também trouxe perspectivas de cuidados que se deve ter com os filhos no ambiente virtual. Confira:

Conversar com os filhos sobre segurança na internet: é importante que os pais conversem com seus filhos sobre os perigos da internet e sobre como navegar com segurança;
Limitar o tempo de uso da internet: é importante que os pais estabeleçam limites de tempo para que seus filhos usem a internet, para que eles não fiquem expostos por muito tempo a conteúdos inadequados;
Monitorar o uso da internet: os pais devem monitorar o que seus filhos estão fazendo na internet, incluindo os sites que visitam, as redes sociais que usam e com quem estão conversando.
Ensinar sobre privacidade: os pais devem ensinar aos seus filhos sobre a importância da privacidade online e sobre não compartilhar informações pessoais com estranhos.
Utilizar ferramentas de controle parental: existem várias ferramentas disponíveis para os pais controlarem o acesso dos seus filhos à internet, como bloqueadores de sites e aplicativos de controle parental.

Mecanismos de controle parental

Segundo Jackson Galvani, existem vários aplicativos disponíveis para controle parental, que ajudam os pais a monitorar e controlar o acesso de seus filhos a dispositivos eletrônicos e à internet. Sobre o assunto, seguem alguns dos principais aplicativos:

Google Family Link: aplicativo gratuito do Google permite que os pais monitorem e gerenciem o uso de dispositivos Android de seus filhos, definam limites de tempo de tela e bloqueiem conteúdo inapropriado. Ele também permite que os pais configurem alertas de atividades suspeitas e rastreamento de localização;
Screen Time: os assuntos que são visualizados em sites, redes sociais e demais conteúdos podem ser monitorados pelo Controle Parental Screen Time. As palavras digitadas nos buscadores do navegador do celular são vistas dando maior controle aos pais sobre o que os filhos veem na Internet. É possível também controlar o tempo que o filho passa no celular. Na versão paga do app, os pais podem interromper imediatamente as atividades do celular monitorado, limitar recursos no horário de aula, ter um resumo diário das atividades e até mesmo dividir o monitoramento com outros perfis.
Qustodio: ajuda a monitorar o uso de dispositivos de seus filhos, bloquear conteúdo inapropriado e definir limites de tempo de tela. O aplicativo também oferece recursos de rastreamento de localização e alertas de atividades suspeitas.
Net Nanny: oferece recursos de filtragem de conteúdo, monitoramento de redes sociais e alertas de atividade para pais preocupados com a segurança de seus filhos online. Ele também permite que os pais definam limites de tempo de tela e bloqueiem aplicativos e sites específicos.
Norton Family: ajuda a proteger as crianças online, permitindo que os pais monitorem o uso da internet e o tempo de tela de seus filhos. Ele oferece recursos de filtragem de conteúdo, monitoramento de redes sociais e rastreamento de localização.
Kaspersky Safe Kids: este aplicativo de controle parental ajuda a proteger os filhos online, bloqueando conteúdo inapropriado, limitando o tempo de tela e monitorando a atividade online. O aplicativo também oferece rastreamento de localização e alertas de atividades suspeitas.

Por fim, Jackson reforçou o pensamento compartilhado também pelo delegado Brenno Andrade e pela psicóloga Daniella Sperandio: 

“Procure incentivar o diálogo aberto com o seu filho. É importante que os pais estimulem seus filhos a conversarem com eles sobre suas experiências na internet e a pedirem ajuda quando precisarem”, disse.
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