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IBGE: mais de 23% da população do ES vive em situação vulnerável

Preocupada com essa realidade, a cidade de Vitória passou a oferecer suporte de profissionais especializados às pessoas que vivem neste cenário

Foto: Ana Carolini Mota
Com a música o seu José tenta encontrar conforto para a dor da saudade da esposa

Uma sensação de vazio preenchida pela música. É assim que tem sido a vida do aposentado José Pereira Salla. Dos 90 anos de vida, 71 foram ao lado da mulher, que morreu há três anos. E desde então ele segue em busca dos melhores acordes para ditar o ritmo da vida.

"A partida dela tirou uma parte de mim. Eu costumo não falar nada, fico quieto. Quando me sinto mais sozinho, eu pego minha sanfona, vou para o cantinho e fico tocando as músicas que ela gostava", conta José, entre uma música e outra.

Mas nem sempre o som que sai da sanfona é de esperança. É que a falta da companheira trouxe, além da saudade, outras mudanças de comportamento na rotina do aposentado: reclusão, ansiedade e nervosismo.

O aposentado decidiu manter todas as coisas da mulher como ela deixou. Mas quem disse que isso foi suficiente para matar a saudade? Ao longo desses três anos, as mudanças no comportamento do aposentado receberam um diagnóstico: depressão.

"Ver o meu pai sempre quietinho, no canto dele, despertou na família uma grande preocupação. Mesmo com o nosso apoio, faltava o suporte de profissionais que realmente pudessem entender a real necessidade dele. E foi um alívio pra gente conseguir essa ajuda", contou Maria da Conceição Pereira Oliveira, filha de José.

Depois de várias idas a hospitais, o suporte profissional que o José precisava veio por meio de uma iniciativa da Prefeitura de Vitória, o Serviço de Proteção Social Básica no Domicílio Para Pessoas Idosas e Pessoas Com Deficiência, o SAD. O serviço, lançado em janeiro, é uma ferramenta que complementa um trabalho que, muitas vezes, só o apoio da família não dá conta. Prevenindo possíveis ocorrências de risco social e até fortalecendo a convivência familiar e em comunidade.

"O SAD trabalha com a prevenção de riscos para esse público. As equipes trabalham para manter a qualidade de vida e a autonomia dessas pessoas. Tudo isso com a ajuda de profissionais que passam a identificar as necessidades de cada um", explicou Cinthya Schulz, Secretária de Assistência Social de Vitória.

A primeira fase do atendimento, a chamada aproximação, é feita com a atuação de psicólogos e assistentes sociais, que planejam o acompanhamento com base na necessidade de cada um. No caso do aposentado, por exemplo, as visitas são feitas semanalmente.

Foto: Ana Carolini Mota
O psicólogo Lucas Torquato e José Salla durante um dos acompanhamentos do SAD

"Desde a primeira visita nós procuramos identificar o tipo de atendimento cada pessoa precisa, quais os profissionais que vão fazer parte desse processo. Tudo isso respeitando a abertura de cada um, sem qualquer meio invasivo. O atendimento é sempre feito nas residências, mas sem quebrar a privacidade deles", disse Lucas Torquato, psicólogo social que atua no Serviço de Proteção Social Básica No Domicílio Para Pessoas Idosas e Pessoas Com Deficiência, o SAD.

O boletim "Desigualdade nas Metrópoles", feito com base nos dados do IBGE, e divulgado em junho do ano passado, aponta que 23,6% da população do Espírito Santo vive em situação de vulnerabilidade social.

Essas pessoas fazem parte das estatísticas de desemprego ou subemprego e que dispõem de poucos recursos para lidar com questões como renda, saúde, moradia, trabalho e educação. No âmbito da saúde, por exemplo, os problemas atingem as mais diferentes classes sociais da capital capixaba.

Além de José Salla, outros 62 usuários estão cadastrados no programa. Isso em apenas um mês de implantação do serviço, que é oferecido junto aos Centros de Referência de Assistência Social de Vitória (CRAS) e por meio de busca ativa dos profissionais.

Atualmente, 13 CRAS estão espalhados pela capital capixaba. Em cada ponto são oferecidos os serviços de Assistência Social, incluindo o SAD, além de orientações para o público, como explica a Secretária de Assistência Social de Vitória.

Foto: Ana Carolini Mota
Cinthya Schulz, secretária de Assistência Social

"Além das famílias que vieram após os primeiros atendimentos do SEAD, que também atua da mesma forma, mas com casos mais graves, as nossas equipes fazem uma busca ativa com base nos dados que estão cadastrados nos Cras de toda a capital. Vamos até essas famílias e oferecemos a ajuda necessária".


Outras 54 famílias estão no radar da equipe de Atendimento no Domicílio. O objetivo é intensificar a busca ativa por famílias que precisam desse atendimento, já que muitas estão impossibilitadas de chegar aos pontos de Assistência Social. Uma forma de possibilitar o suporte necessário pra quem mais precisa.

Para a família de José Salla, diagnosticado com depressão, contar com o SAD, novo serviço oferecido pela prefeitura de Vitória, traz uma alívio em saber que ele terá uma qualidade de vida melhor. "A gente não sabia como agir, ele não aceitava ajuda de ninguém. Agora, sabemos que ele tem o suporte que precisa, e o melhor, essa ajuda que recebemos é dado pelo município e no conforto da casa dele", frisa Maria da Conceição, filha do seu José.



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