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Médico assassinado lutou para estudar e era referência para a família

Prima e amigo falam sobre a perseverança de Aloísio Vieira Silva, que teve uma infância humilde, mas nunca desistiu do sonho de ser médico

Isabella Arruda

Redação Folha Vitória
Foto: Reprodução/Facebook

O médico Aloísio Vieira Silva, de 29 anos, que foi assassinado e teve o corpo encontrado na manhã deste domingo (26), no Centro de Montanha, na região Norte do Espírito Santo, contou com uma trajetória de vida digna de homenagens. De menino muito pobre, cuja família não podia sequer arcar com os custos dos livros, ele se tornou referência entre parentes, amigos e quem o cercava.

A corretora de imóveis e prima da vítima, Camila Silva, da mesma idade que Aloísio, relembrou que ele foi uma criança ativa, inclusive muito bagunceiro e que dava bastante trabalho quando pequeno.

“Ele aprontava bastante, sempre muito esperto e dedicado. Morou pouco tempo com meus tios, que são os pais dele. Ele passou mesmo a infância e a adolescência com a avó, dona Mariquinha, que o criou junto com a tia Cida. Apesar de ativo, ele sempre foi uma pessoa muito determinada e de personalidade forte”, disse Camila.

Camila contou à reportagem que o primo sempre foi um excelente aluno e que tudo que se propunha a fazer, fazia com muito êxito. O jovem era conhecido pela determinação, tinha talento para pintar quadros, que até hoje estão na casa da avó. "Ele também sempre cozinhou muito bem, e parecia um chef, com um nível muito alto de qualidade", segundo ela. Como médico, conforme contou a prima, era excelente também.

“Ele nasceu em uma condição muito humilde, os pais dele trabalhavam em uma fazenda, então não tinha como estudar estando com os pais. Para vir para Lajedão, na Bahia, para estudar, era difícil, então ele ficou com a avó e a tia para continuar os estudos. Mesmo não tendo muitas condições para comprar livros, ele sempre se dedicava muito e todo mundo percebia esse perfil nele, até na escola era sempre muito elogiado”, relembrou.

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“Ele inspira, sempre será motivo de orgulho”

A prima de Aloísio afirmou que independente da ausência física dele, o orgulho sempre irá existir. 

“Ele inspira e me inspirou muito. Nada do que lhe falassem atrapalharia a chegar nos objetivos dele. Sempre quis ser médico, desde pequeno. Foi morar em Vitória, chegou a vir para Minas prestar vestibular. Na primeira prova ele não passou, todo mundo esperava que ele fosse desanimar, mas não desanimou. Passou a estudar mais ainda, dia e noite”, revelou.
Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal
Aloísio e a prima Camila

A corretora de imóveis também contou que o primo conseguiu uma bolsa integral para o curso, fazendo jus a ter sido sempre muito estudioso. Quando conquistou a vaga, com uma pequena ajuda de custo da faculdade, passou a fazer bicos para conseguir se manter, enquanto ficava na casa de uma tia.

“Ele nunca cruzou os braços, foi para cima e correu atrás. Falo até que ele corria na frente. Aloísio se formou em 2020, muito novo, e aquilo foi um grande orgulho. Ele sempre vai ser minha referência de vida, meu exemplo. Às vezes, se precisássemos saber de alguma coisa, não íamos ao médico, a gente ligava para ele. Tínhamos um médico na família e isso era o máximo”, continuou.

Amigo destaca determinação de Aloísio

Para um grande amigo do médico, Gleicom Neves, hoje advogado, Aloísio era uma pessoa incrível, que superou grandes dificuldades e que alcançou enormes conquistas.

“O conheço desde muito novo, estudamos juntos no ensino fundamental, fomos grandes amigos. Ele se tornou médico graduado pela Ufes, é exemplo de determinação, perseverança e força de vontade. Ele mostrou que é possível superar obstáculos e alcançar objetivos, desde que se tenha coragem, foco e muita dedicação. Ele é orgulho e a inspiração de todos em Lajedão, na Bahia”, ressaltou.

Entre os sonhos do rapaz, segundo o amigo, estava uma ida para os Estados Unidos, para a qual se preparava tirando o visto. A ideia dele era passar o aniversário lá, no início de junho.

“Também estava juntando dinheiro para fazer residência em Psiquiatria em São Paulo e tinha acabado de montar sua sala comercial para clinicar, na avenida Fernando Ferrari. A história dele é muito linda. Lembro que, por volta da pré adolescência, ele apenas estudava. Enquanto os outros brincavam, lá estava Aloísio em cima de um pé de árvore com um livro estudando. O sonho dele sempre foi ser médico e conseguiu”, disse Gleicom.

Também segundo Camila, o médico sempre sabia prescrever medicamentos com prontidão diante das necessidades familiares. “Era muito inteligente, de uma inteligência incomum, com um dom para a medicina. Sempre deu suporte para a família, ajudou os pais. E sempre vinha em Belo Horizonte para a gente sair. Esteve aqui há pouco tempo, tiramos várias fotos”, disse.

Aloísio também colecionava hobbies. “O que ele mais gostava de fazer era viajar, viajava muito depois que se formou. Vinha aqui para a gente sair pra comer sushi, ir jantar, provar culinária nova e amava tomar um vinho socialmente. Era uma pessoa cheia de vida, amava cozinhar, era o chef da família e estava sempre rodeado pela família. Para a minha avó, por exemplo, ele ligava todos os dias, era muito família”, acrescentou.

"Essa pessoa não é um ser humano"

Segundo relatou Camila, a família até agora não acredita que o pior aconteceu. “É doloroso ver a forma brutal com que o meu primo foi morto. Para mim essa pessoa não é um ser humano, não tem coração e é extremamente frio. Eu não estou acreditando, o vi sendo enterrado por videochamada, mas é difícil acreditar. Minha avó está passando mal o tempo todo, era como o filho dela, minha tia também”, pontuou.

A prima narrou que o caixão do médico chegou por volta de 1h20 desta segunda-feira (27), em Lajedão (BA). A família estava tão abalada que o sepultamento precisou ser antecipado das 16h para as 11h30.

“Foi uma perda gigantesca e o que mais dói é que minha tia, quando foi buscar o corpo dele, com o pai dele, depois da perícia, viram que foram dadas 12 facadas. Ele foi também estrangulado, então foi muito pesado e doloroso. Imaginamos que ele tenha sofrido, dá uma angústia e está sendo muito complicado”, frisou.

Para Gleicom, amigo de Aloísio, é uma uma série de emoções e sentimentos que fica, incluindo tristeza, saudade, dor, choque, descrença e até mesmo raiva. “Mas quando lembro do exemplo da determinação, da perseverança e força que ele teve em alcançar e mostrar para todos que era capaz de conseguir, eu apenas sorrio”, declarou.

O sentimento que fica para a família é de injustiça, já que foi levada a vida de uma pessoa que estava no auge, que tinha muito pela frente. 

“Estamos sem estruturas, levaram o nosso médico, que lutou a vida inteira para estudar e crescer, sem nem ter condições para isso. Tudo foi Deus e o esforço dele. Sempre vou lembrar com muito amor, porque é meu maior exemplo. Sou muito apaixonada por ele. Estou vivendo esse momento com muita dor”, declarou Camila.