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O que está acontecendo com a água da Serra? Moradores relatam vestígios de barro e mal-estar

Em alguns bairros do município mais populoso do Espírito Santo, a água tem chegado com alteração na cor. Veja o que dizem a Cesan e o Instituto Trata Brasil

Redação Folha Vitória , Isabella Arruda

Redação Folha Vitória
Foto: Reprodução TV Vitória

Moradores da Serra sentem até hoje os efeitos das chuvas de janeiro. Com o aumento da turbidez no rio Santa Maria da Vitória, a água que chegava às torneiras em diversos bairros apresentava alteração de cor por causa dos vestígios de barro, quando não faltava. Fevereiro passou, não choveu e o problema, em pleno mês de março, ainda não foi resolvido.

Isso tem deixado moradores da cidade desconfiados com relação à qualidade da água. Alguns relatam até mesmo mal-estar após a ingestão do líquido.

De acordo com a Prefeitura da Serra, de fato o número de atendimentos por gastroenterite aumentou consideravelmente, embora não seja possível afirmar que o mal-estar vem sendo causado pela água. Veja nota do município:

"A Secretaria de Saúde da Serra informa que, na Unidade de Pronto Atendimento de Serra Sede, esse aumento foi de 320%, de 15 de janeiro a 27 de fevereiro. Comparando esse mesmo período em 2022, o aumento de casos da doença foi de 18%".

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De qualquer maneira, conforme destacou a médica infectologista Euzanete Coser, a água contaminada pode ser fonte de transmissão de várias bactérias, vírus e verminoses.

"Podem surgir surtos de gastroenterites virais ou bacterianas e transmissão de verminoses em caso de água que não esteja tratada adequadamente. Se a pessoa tiver um quadro de gastroenterite intenso e não for socorrida adequadamente, com hidratação oral ou venosa, pode morrer", afirmou.

Segundo a especialista, é muito importante manter uma boa qualidade da água que as pessoas ingerem e que vão usar no banho e na alimentação. 

"Podemos ter também protozoários ou coliformes fecais e contaminação por pesticidas e outros que causam doenças, além de diarreias infecciosas", disse a médica.

O que diz o Instituto Trata Brasil

Sobre o assunto da qualidade do abastecimento de água no município da Serra, o mais populoso do Espírito Santo, com mais de 536 mil habitantes, a reportagem do Folha Vitória conversou com a presidente executiva do Instituto Trata Brasil, Luana Siewert Pretto.

O instituto, que atua no país desde 2007, é uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip), formado por empresas que atuam nos avanços do saneamento básico e na proteção dos recursos hídricos do país.

Segundo a autoridade, o município capixaba em questão tem um bom índice de atendimento total, sendo que 95% da população tem acesso ao serviço de abastecimento de água.

Até 2033, existe a meta, no entanto, de chegar aos 99% da população atendida. Atualmente, o índice de coleta de esgoto na Serra é de 79%.

"E de toda a água consumida, apenas 38% dessa água é tratada. Então ainda há um desafio de tratamento de esgoto, para que um volume menor vá para os rios, atingindo as metas do marco legal até 2033, de 90% de coleta e tratamento de esgoto", disse Luana Siewert Pretto.

Em relação à importância de se ter a qualidade da entrega da água dentro dos padrões estabelecidos pelo Ministério da Saúde, ela esclareceu que isso é primordial para a população, porque existe uma série de doenças de veiculação hídrica associadas à própria água quando não está dentro dos padrões de potabilidade.

Da mesma forma, quando há contato com o esgoto sem tratamento, há risco de doenças, então é por isso que existe um rigoroso controle no processo operacional para que a água seja entregue na casa do cidadão dentro dos padrões.

"Obviamente as bacias hidrográficas passam por variações, por exemplo em virtude de chuvas ou contaminação, então, muitas vezes, o meio de tratamento precisa ser alterado para fazer a correta limpeza da água. Tudo isso traria saúde e qualidade de vida à população", sintetizou.

Moradores relatam diarreia e dores no corpo e na cabeça

"Eu tive sintomas de diarreia, dor de cabeça, dor no corpo, cólica na barriga e muita fraqueza no corpo", disse a moradora Rosemeire Santiago Madeira, de Praia de Carapebus.

Devido a insistência dos sintomas, Rosemeire optou por comprar água de galões. Dias depois, ela relatou ter notado a melhora do quadro de saúde de toda a família.

Dentre as pessoas que relatam esse mal-estar, há quem tenha pensado ter contraído dengue. A moradora do Residencial Jacaraípe, Jessyca Gonzaga Campos, passou por essa situação. No entanto, a doença foi descartada por exames médicos.

"Senti uma dor abdominal absurda, diarreia, falta de apetite, ânsia de vômito o tempo todo. Tive que tomar medicação, soro e precisei faltar minhas tarefas diárias, apresentando atestado para o trabalho. E aí me fica a pergunta: o que a gente faz?", questionou.

Além dos sintomas, em alguns bairros a água não chega. A moradora de Praia de Carapebus, Julia Lopes, comentou em entrevista para a TV Vitória / Record TV que a falta d’água é algo recorrente. E quando ela retorna, sai das torneiras mais escura e barrenta.

Em um vídeo gravado por um morador do bairro São Patrício, na Grande Jacaraípe, em 27 de janeiro, é possível notar a quantidade de sujeira que foi acumulada na caixa d'água da casa. De acordo com ele, o local foi limpo há menos de um mês. Veja:

Cesan informa que toma medidas para sanar o problema

Ao questionar a Companhia Espírito Santense de Saneamento (Cesan) a respeito da situação no município, foi informado que o acesso à água tratada em todos os 53 municípios capixabas em que a empresa está presente, foi universalizado no ano de 2009.

"A Serra tem cobertura dos serviços de coleta e tratamento de esgoto superior a 90%, assim como a capital, Vitória, o que é considerado universalizado pelo novo marco legal do saneamento. As obras do governo do Estado em ampliação e implementação de infraestrutura sanitária estão em andamento e, só em 2022, por meio da Cesan, foram mais de R$ 650 milhões em investimentos realizados e em andamento, o que deve antecipar em três anos o cumprimento das metas estabelecidas pelo novo marco, ou seja em 2030. Os dados de cobertura, atendimento e investimentos realizados pela Cesan são públicos e estão disponíveis no site da empresa", informou a Cesan, por nota.

No entanto, a companhia informou que já tomou as medidas necessárias para resolver o problema da alteração de cor da água que sai das torneiras nos bairros da Serra.

A Cesan também orientou, nesses casos, a realizar o descarte da água de qualidade duvidosa e entrar em contato com a empresa pelo número 115, para que a residência possa receber uma visita técnica.

Os moradores ainda contam com o direito de ressarcimento e podem solicitá-lo pelo WhatsApp (27) 99722-9291.

*Com informações da repórter da TV Vitória / Record TV, Thainara Ferreira.