Geral

Cavalos abandonados são cuidados em presídio e ajudam crianças e idosos no ES

O projeto de equoterapia, premiado internacionalmente, acontece na Penitenciária Agrícola de Viana com crianças atendidas pela Apae e idosos de casa de repouso

Foto: Thiago Soares/Folha Vitória

“Uma via de mão dupla” é um termo popularmente usado para demonstrar quando algo bom é dado e também recebido em troca.

Assim pode ser classificado o projeto de equoterapia realizado na Penitenciária Agrícola do Espírito Santo (Paes), no Complexo de Viana, que é desenvolvido pelos presos com crianças atendidas pela Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) e também com idosos. 

A equoterapia é um método terapêutico que usa cavalos para estimular o desenvolvimento da mente e do corpo. O projeto funciona desde 2014 na cadeia e já foi premiado internacionalmente.

Em Viana, animais que estavam abandonados passam a dar sentido ao dia a dia de todos que passam por eles: os presidiários, as crianças e os idosos. 

>> Quer receber nossas notícias 100% gratuitas? Participe da nossa comunidade no WhatsApp ou entre no nosso canal do Telegram!

A reportagem do Folha Vitória esteve nos muros, ou melhor, entre as cercas do presídio agrícola, em um dia de atendimento às crianças. Viu de perto toda a dedicação e acolhimento recebido por meio do trabalho realizado entre os presos e as 102 crianças atendidas ao longo do ano.

Não são todas no projeto em um só dia. Elas são divididas em pequenos grupos que vão para o presídio para ter o contato com os cavalos. 

Os internos que atuam no projeto foram capacitados para auxiliar nas atividades conduzidas por profissionais de fisioterapia.  

Foto: Thiago Soares/Folha Vitória

A diretora da unidade prisional, Leizielle Marçal Dionízio, descreveu que o projeto atua em três vertentes sociais: as crianças da Apae, a qualificação dos presos e o resgate dos cavalos encontrados em vias públicas.

“Ele atua com as crianças especiais e com os animais, tratados por meio da mão de obra dos presos. Quando iniciamos o projeto, foi difícil de conseguir autorização porque até mesmo os juízes tinham medo de como os presos iriam atuar com as crianças. Mas seguimos nesses anos sem nenhuma intercorrência”, descreveu. 

A diretora também explica que são notadas grandes mudanças no comportamento dos presos que fazem parte do programa. Isso sem contar o baixo índice de reincidência criminal, ou seja, realização de novos crimes.

Os presos da Penitenciária Agrícola estão no regime semiaberto, são considerados de baixa periculosidade e muitos já têm autorização da Justiça para trabalhar durante o dia em empresas conveniadas à Secretaria de Estado da Justiça. Outros que não trabalham fora, atuam em projetos internos, como a Equoterapia. 

“A gente de fato vê uma transformação na sensibilização ocorrendo e também temos os animais abandonados em vias públicas, que são trazidos para cá e tratados pelos presos”, destaca Leizielle. 

Foto: Thiago Soares/Folha Vitória

Presos fazem curso de qualificação 

Durante as ações realizadas no presídio para integrar o projeto de equoterapia, os internos passam por treinamentos e curso de qualificação. 

Dentre os cursos estão: doma, rédea, selagem, montaria e tratador. Todos ministrados pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar).

“Com essa qualificação dos apenados, temos presos que são qualificados e já foram contratados para realizarem o trabalho pela Apae”, narra a diretora, que acrescenta que os detentos também são qualificados e instruídos para ajudar a tratar os cavalos. 

“Cavalos estavam abandonados”

Segundo Leizielle, os animais utilizados no projeto são fruto de resgates, pois estavam abandonados em vias públicas. Por meio de uma parceria, realizada com o município de Viana, eles são recolhidos, levados para a penitenciária e tratados por meio da mão de obra dos internos. 

“Esse trabalho também é feito por meio de um sistema que vai qualificar os presos para que esse tratamento seja realizado da maneira correta e devida”, destaca.

Empresário doou cavalo de raça que o ajudou a sair da depressão

Além dos animais resgatados nas ruas, também está no presídio um cavalo de raça, a Mangalarga, batizado de “Prometeu”. Ele foi doado por um empresário que conheceu o projeto. 

“Um empresário viu e conheceu o projeto através de uma reportagem. Ele entrou em contato com a unidade prisional, falou que o cavalo tratou uma depressão dele e, com isso, ao invés de vendê-lo, iria realizar uma doação para que o animal fizesse a diferença com as crianças”, narrou a diretora.

Foto: Thiago Soares/Folha Vitória
O cavalo “Prometeu”, da raça Mangalarga, foi doado por empresário

Mãe percebe melhora no filho com o projeto de equoterapia 

Essa grande diferença é nitidamente percebido pela Ingrid Gomes Rodrigues, mãe do pequeno João Lucas Rodrigues da Silva, 8 anos. 

João, que tem Transtorno do Espectro Autista (TEA) e Transtorno Desafiador Opositor (TOD), recebe tratamento na Apae e tem melhorado de maneira significativa com as sessões de equoterapia na Penitenciária Agrícola de Viana. 

“João mudou muito de comportamento após começar a fazer o tratamento com a equoterapia. Antes das sessões ele não sabia perder, não entendia o significado de ‘não’ e tudo isso foi trabalhado”, descreve a mãe orgulhosa.

LEIA TAMBÉM: Estudante amputa pernas para receber R$ 6,5 milhões e acaba preso

Repórter do Folha Vitória, Maria Clara de Mello Leitão
Maria Clara Leitão Produtora Web
Produtora Web
Formada em jornalismo pelo Centro Universitário Faesa e, desde 2022, atua no jornal online Folha Vitória