Cavalos abandonados são cuidados em presídio e ajudam crianças e idosos no ES
O projeto de equoterapia, premiado internacionalmente, acontece na Penitenciária Agrícola de Viana com crianças atendidas pela Apae e idosos de casa de repouso
“Uma via de mão dupla” é um termo popularmente usado para demonstrar quando algo bom é dado e também recebido em troca.
Assim pode ser classificado o projeto de equoterapia realizado na Penitenciária Agrícola do Espírito Santo (Paes), no Complexo de Viana, que é desenvolvido pelos presos com crianças atendidas pela Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) e também com idosos.
A equoterapia é um método terapêutico que usa cavalos para estimular o desenvolvimento da mente e do corpo. O projeto funciona desde 2014 na cadeia e já foi premiado internacionalmente.
Em Viana, animais que estavam abandonados passam a dar sentido ao dia a dia de todos que passam por eles: os presidiários, as crianças e os idosos.
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A reportagem do Folha Vitória esteve nos muros, ou melhor, entre as cercas do presídio agrícola, em um dia de atendimento às crianças. Viu de perto toda a dedicação e acolhimento recebido por meio do trabalho realizado entre os presos e as 102 crianças atendidas ao longo do ano.
Não são todas no projeto em um só dia. Elas são divididas em pequenos grupos que vão para o presídio para ter o contato com os cavalos.
Os internos que atuam no projeto foram capacitados para auxiliar nas atividades conduzidas por profissionais de fisioterapia.
A diretora da unidade prisional, Leizielle Marçal Dionízio, descreveu que o projeto atua em três vertentes sociais: as crianças da Apae, a qualificação dos presos e o resgate dos cavalos encontrados em vias públicas.
"Ele atua com as crianças especiais e com os animais, tratados por meio da mão de obra dos presos. Quando iniciamos o projeto, foi difícil de conseguir autorização porque até mesmo os juízes tinham medo de como os presos iriam atuar com as crianças. Mas seguimos nesses anos sem nenhuma intercorrência", descreveu.
A diretora também explica que são notadas grandes mudanças no comportamento dos presos que fazem parte do programa. Isso sem contar o baixo índice de reincidência criminal, ou seja, realização de novos crimes.
Os presos da Penitenciária Agrícola estão no regime semiaberto, são considerados de baixa periculosidade e muitos já têm autorização da Justiça para trabalhar durante o dia em empresas conveniadas à Secretaria de Estado da Justiça. Outros que não trabalham fora, atuam em projetos internos, como a Equoterapia.
"A gente de fato vê uma transformação na sensibilização ocorrendo e também temos os animais abandonados em vias públicas, que são trazidos para cá e tratados pelos presos", destaca Leizielle.
Presos fazem curso de qualificação
Durante as ações realizadas no presídio para integrar o projeto de equoterapia, os internos passam por treinamentos e curso de qualificação.
Dentre os cursos estão: doma, rédea, selagem, montaria e tratador. Todos ministrados pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar).
"Com essa qualificação dos apenados, temos presos que são qualificados e já foram contratados para realizarem o trabalho pela Apae", narra a diretora, que acrescenta que os detentos também são qualificados e instruídos para ajudar a tratar os cavalos.
"Cavalos estavam abandonados"
Segundo Leizielle, os animais utilizados no projeto são fruto de resgates, pois estavam abandonados em vias públicas. Por meio de uma parceria, realizada com o município de Viana, eles são recolhidos, levados para a penitenciária e tratados por meio da mão de obra dos internos.
"Esse trabalho também é feito por meio de um sistema que vai qualificar os presos para que esse tratamento seja realizado da maneira correta e devida", destaca.
Empresário doou cavalo de raça que o ajudou a sair da depressão
Além dos animais resgatados nas ruas, também está no presídio um cavalo de raça, a Mangalarga, batizado de “Prometeu”. Ele foi doado por um empresário que conheceu o projeto.
"Um empresário viu e conheceu o projeto através de uma reportagem. Ele entrou em contato com a unidade prisional, falou que o cavalo tratou uma depressão dele e, com isso, ao invés de vendê-lo, iria realizar uma doação para que o animal fizesse a diferença com as crianças", narrou a diretora.
Mãe percebe melhora no filho com o projeto de equoterapia
Essa grande diferença é nitidamente percebido pela Ingrid Gomes Rodrigues, mãe do pequeno João Lucas Rodrigues da Silva, 8 anos.
João, que tem Transtorno do Espectro Autista (TEA) e Transtorno Desafiador Opositor (TOD), recebe tratamento na Apae e tem melhorado de maneira significativa com as sessões de equoterapia na Penitenciária Agrícola de Viana.
"João mudou muito de comportamento após começar a fazer o tratamento com a equoterapia. Antes das sessões ele não sabia perder, não entendia o significado de 'não' e tudo isso foi trabalhado", descreve a mãe orgulhosa.
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