Mães, estudantes e professoras: as mulheres fortes que comandam as guardas municipais
Elas têm uma rotina de tirar o fôlego. Conheça a história e o dia a dia de Landa, Dayse e Laís, as comandantes das Guardas Municipais de Vila Velha, Vitória e Serra
Qual a imagem vem à cabeça ao pensar na palavra "comandante"? No dicionário, o adjetivo possui dois gêneros. Mas, nas guardas municipais de Vitória, Vila Velha e Serra, contrariando o que antes era exclusivamente atribuído aos homens, o adjetivo é só feminino.
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As comandantes Landa Marques (Vila Velha), Dayse Barbosa (Vitória) e Laís Araújo (Serra) têm realidades diferentes, mas se encontram no desafio diário de comandar as tropas sem deixar a peteca cair e, de quebra, com o batom retocado.
Lidar com a resistência de alguns guardas, ser mãe solo, fazer "malabares" entre vida pessoal e trabalho, com tempo para arrumar a casa, estudar, praticar atividade física e, ainda, não conseguir relaxar no final de semana.
Esses são alguns relatos das comandantes que, entre uma correria e outra, contaram com detalhes sobre a vida de ser uma mulher e líder de uma tropa ao Folha Vitória.
Veja vídeo das comandantes pelo repórter fotográfico Thiago Soares:
Neste Dia Internacional da Mulher, 8 de Março, os capixabas vão poder conhecer um pouco dessas três mulheres que, todos dias, buscam trazer mais segurança nas ruas das cidades mais movimentadas do Estado.
Filhos, mestrado e uma guarda inteira para tomar conta: conheça Landa Marques
Comandante da Guarda Municipal de Vila Velha desde o ano de 2021, Landa Marques está na corporação há 10 anos e trabalhava no patrulhamento nas ruas da cidade canela-verde.
Em pouco tempo de conversa, já dá para perceber que ela não tem medo de quebrar paradigmas. A filha caçula, de 7 anos, leva o mesmo nome: Landa. A comandante também é mãe do Leonardo, de 13 anos, e a rotina com os pequenos é elétrica.
"Todos os dias, pela manhã, tenho que preparar tudo. Eu preciso fazer com que o dia possa fluir sem a minha presença. Quando eu chego em casa, é o terceiro round. Colocar as coisas para lavar, ajudar no dever de casa e tudo mais. Eu e meu marido dividimos as tarefas, o que alivia um pouco. Mas eu não vou romantizar meu cansaço, eu gosto dessa rotina elétrica", contou.
Gosta tanto que, em meio à rotina de mãe e comandante, Landa mergulhou no mestrado. Ela, bacharel em Direito, ingressou na vida de pesquisadora na área de Segurança Pública e teve sua dissertação aprovada no final de fevereiro.
Além de mãe e agora mestre, outra versão de Landa precisa de uma dedicação e preparo diário: a de comandante. Ela não nega que houve resistência por alguns guardas na tropa quando assumiu o comando e destaca que o desafio é se relacionar bem com todos.
"O maior desafio para qualquer comando é a relação interpessoal. As pessoas não estão acostumadas a ouvir ‘não’, precisam entender que faz parte do processo. Quando eu assumi o comando, existiu resistência, como todo comandante. Mas eu nunca me importei com isso. Se a gente for esperar que todos concordem com a mesma coisa, a gente não faz nada. Eu ignorei essa resistência inicial e segui em frente. Foi uma mudança cultural na Guarda de Vila Velha. Não é fácil mesmo”, disse.
Mãe solo, Dayse Barbosa leva a filha para o trabalho e não tem medo de liderar
A tropa da Guarda Municipal de Vitória tem como comandante Dayse Barbosa, formada em Pedagogia, e que já está há 11 anos na corporação, passando por vários cargos.
Mas, além de Dayse, os guardas também precisam seguir a "ordem" da Marina, de 6 anos, principalmente quando ela quer entrar em alguma viatura.
“Nos meus intervalos, deixo minha filha na escola e, muitas vezes, nem faço horário de almoço. Tenho que fazer as atividades de casa com ela, preparar aquele lanchinho com amor e carinho. Eu até trago a Marina para o ambiente de trabalho. Mostro que ela pode ser o que quiser. A maior parte da minha vida é ser mãe”, contou.
Dayse mora com o pai, sua rede de apoio para ajudar com a filha. A rotina é corrida e os finais de semana também ficam comprometidos. É impossível se desligar dos acontecimentos da cidade.
No entanto, o desafio maior, segundo Dayse, é se ver, na maioria das ocasiões, como a única mulher.
"O ambiente de segurança pública é masculino e o de liderança, ainda mais. As mulheres são minoria. Muitas vezes me vejo a única mulher sentada em uma mesa com outros homens. Mas isso não me impede nem me limita. É uma conquista diária. É um desafio, mas é gratificante saber que a gente faz parte de uma história", desabafou.
Laís Araújo mudou o rumo da geração de professoras da família para ser comandante
A comandante da Guarda Municipal da Serra, Laís Araújo, era professora do ensino fundamental da prefeitura da cidade quando decidiu tentar o concurso da Guarda.
Ela veio de uma geração em que a mãe e as tias também comandam, mas dentro das salas de aula, como professoras.
"Eu vim da educação e a Guarda está sendo um sonho para mim. É gratificante ajudar as pessoas por meio da segurança pública. Liderar é saber fazer planejamento e, nisso, a Pedagogia contribuiu muito. Tenho que saber planejar e distribuir trabalho", explicou.
E as atribuições são várias: distribuição de efetivo, compra de equipamentos, atendimento à população e à mídia, melhorias nas estruturas de viaturas, entre várias outras sob a decisão de uma comandante.
É quase uma sala de aula, com as devidas proporções, onde a professora precisa dar atenção para vários alunos, pedir silêncio, escrever no quadro e até corrigir os deveres.
"Liderar a Guarda é cuidar de 10 coisas em um minuto. Sou muito respeitada entre os meus colegas. Eu acredito que exista, sim, um machismo velado, de alguém não querer assumir que é comandado por uma mulher. Mas, pelo menos comigo, não vivencio isso. Eu tenho o apoio da tropa, eles pedem sempre para eu continuar”, comenta.
FOTOS: Confira o ensaio fotográfico feito com as comandantes pelo Folha Vitória
