Laudo de Georgeval não apresenta sinais de psicopatia
O documento é, para a defesa, providencial na tentativa de inocentar o réu das acusações de estupro de vulnerável, tortura e duplo homicídio qualificado
Às vésperas de um dos julgamentos mais emblemáticos da história capixaba, que foi adiado para a próxima terça-feira (18), a defesa de Georgeval Alves, 40 anos, apresentou um laudo psiquiátrico que aponta que ele não tem nenhum tipo de transtorno mental ou psicopatia.
O documento é, para a defesa, providencial na tentativa de inocentar o réu das acusações de estupro de vulnerável, tortura e duplo homicídio qualificado.
O laudo psiquiátrico divulgado nesta semana é composto por 136 páginas de alegações científicas sobre a condição mental do réu.
O documento foi produzido no mês de março e apresentado à Justiça às vésperas do julgamento que aconteceria no último dia 3 de abril. Em razão de irregularidades nos prazos, o laudo não foi aceito no processo naquela ocasião. Com a nova data, marcada para o próximo dia 18, a defesa espera usar desse parecer para absolver o acusado.
O documento tem caráter técnico e foi elaborado por uma empresa sediada em São Paulo. Nele, uma equipe de especialistas da saúde mental analisa uma série de testes e chegam a uma conclusão sobre Georgeval: que ele não conta com transtorno psíquico e que não tem traços de psicopatia ou qualquer outra doença mental.
Em vídeo gravado por Hewdy Lobo Ribeiro, psiquiatra forense, e exibido na TV Vitória nesta quinta-feira (13), ao serem analisadas entrevistas psicológicas, são procuradas funções afetivas, como alegria, tristeza, entre outros. "Nesses três campos de avaliação, nós descartamos de maneira objetiva", disse o médico.
Também em gravação apresentada ao programa Balanço Geral, da TV Vitória, a psicóloga jurídica Elise Karan Trindade afirmou que o acusado não tem características como falta de empatia ou algum transtorno. "Analisando toda a história de vida, esses traços não estão presentes em momento algum", pontuou.
O laudo é conclusivo a partir de técnicas diversas que envolvem testes psiquiátricos e psicológicos, como a "escala de hare". Neste caso, por exemplo, o pastor foi testado para ver se tem indícios de psicopatia e outros distúrbios de personalidade.
O teste é feito com base em 20 critérios, em que cada um vale 2 pontos no máximo. Para ser considerada psicopata, uma pessoa tem que ter uma pontuação mínima de 23 pontos. Georgeval obteve apenas 6.
A testagem foi realizada por meio de entrevistas online, que aconteceram há menos de um mês da prisão, sendo que Georgeval foi avaliado por meio de chamada de vídeo pela equipe forense em dois encontros de duas horas e meia cada. Além disso, pessoas próximas ao réu foram ouvidas pelos profissionais contratados pela defesa.
De acordo com a psicóloga, apesar de tudo, houve uma limitação de não fazer a avaliação presencial, então nem todos os instrumentos foram possíveis de usar online.
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A versão que Georgeval apresentou ao longo do processo também foi confrontada pela equipe da saúde mental.
Segundo a psicóloga, foram ouvidas fontes colaterais de informações, como amigos do pastor e a ex esposa Juliana Alves.
"A gente observa ele em toda a história de vida de acordo com coerência biográfica. Além de tudo, analisamos a questão da conduta. No sistema carcerário, ele nunca teve nenhum problema e, quanto às crianças, não há comprovação que não gostavam do pai e do padrasto", destacou.
Neste momento, fica a dúvida se nos próximos dias o juiz vai aceitar que o documento seja incluído no processo ou não.
Para a advogada criminalista Glenda Isanáia Jeanmonod Costa, qualquer documento que precise ser levado aos autos precisa ser levado com três dias de antecedência e, se a defesa não faz isso, o juiz não aceita.
Com relação à acusação, esta diz que usará do mesmo documento para reafirmar que se condenado, o documento só comprova que Georgeval sabia o que estava fazendo.
Defesa de Georgeval
A defesa do Georgeval Alves, no entanto, está convicta na inocência do cliente.
Segundo Pedro Henrique Souza Ramos, advogado do réu, a defesa não se opõe a que sejam expostas as provas, mas acredita de fato que o acusado não tenha nenhum transtorno.
Julgamento é remarcado e juiz multa advogados em R$ 260 mil
O júri popular que teria início no último dia 3 de abril, para condenação ou absolvição de Georgeval Alves, foi adiado para o próximo dia 18, às 9h, no mesmo Fórum Criminal de Linhares.
Além disso, foi mantida a prisão do acusado e negado o pedido de sigilo processual, além de ter sido arbitrada multa aos advogados. Sobre a tentativa de “desaforamento” do Júri, ou seja, de retirada do município de Linhares, o juiz negou o pedido.
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A decisão do juiz veio após a suspensão do julgamento, que aconteceu por volta das 10h45, após a defesa do réu, composta por quatro advogados, ter deixado a sessão de Plenário.
Em razão do abandono, o magistrado Tiago Fávaro Camata estabeleceu a multa de 50 salários mínimos por advogado, com prazo de cinco dias para que seja paga. O valor totaliza R$ 260 mil.
Georgeval vai a júri popular por crime cometido em 2018
O júri popular foi ocasionado por suspeitas de que Georgeval Alves teria estuprado, torturado e matado o próprio filho e o enteado.
Ele vai a júri popular quase cinco anos após o crime em que é acusado de ter estuprado e matado o próprio filho e o enteado. Tudo teria acontecido no dia 21 de abril de 2018, por volta das 2h, na casa onde moravam o réu e as vítimas, no centro de Linhares.
Contra ele pesam os crimes de duplo homicídio qualificado, estupros de vulneráveis e tortura. O caso causou muita comoção no Espírito Santo, tornando o julgamento do ex-pastor um dos mais esperados dos últimos tempos.
Diante da complexidade do caso, cujos indícios apontam para a presença de requintes de crueldade, é possível que o julgamento se estenda por dias, na avaliação de especialistas.
* Com informações da repórter Nathália Munhão para a TV Vitória | RecordTV