CASO KAUÃ E JOAQUIM

"Eu não matei meus filhos, não sou um homicida", diz Georgeval Alves

Durante o depoimento, que durou quase duas horas, Georgeval revelou detalhes do que teria acontecido no dia 21 de abril de 2018

Thaiz Blunck

Redação Folha Vitória
Foto: Montagem / Folha Vitória

Georgeval Alves, acusado de matar e estuprar o filho Joaquim Alves, de 3 anos, e o enteado Kauã Butkovsky, de 6, prestou depoimento no júri popular durante a madrugada. O primeiro dia de julgamento, que durou 16 horas, teve início da manhã de terça-feira (18) e a expectativa é que a sentença seja proferida ainda nesta quarta (19). 

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Georgeval falou em plenário por quase duas horas e revelou detalhes do que teria acontecido no dia 21 de abril de 2018. Respondendo às perguntas do advogado de defesa, ele confessou que mentiu quando disse, na época do crime, que tentou entrar no quarto para salvar o filho e o enteado.

"Queria primeiro dizer por quê eu menti. Nesses três dias, antes do meu depoimento, começaram alguns burburinhos de pessoas postando coisas duvidando do fato de eu ter entrado no quarto. Isso começou a repercutir na igreja. Por que eu menti? Foi porque as pessoas começaram a falar que fariam diferente do que eu fiz naquele momento. Os pastores começaram a falar que eu não deveria passar a imagem de covarde e omisso. Eu passei a ficar com medo de ser julgado e menti por esse motivo. Não era bom para mim e nem para a imagem da igreja. O pastor queria que eu desse uma resposta para aquelas pessoas que diziam que eu tinha sido omisso. Eu não queria falar", afirmou Georgeval.

O réu disse ainda que se envergonha por ter mentido e reafirmou que não cometeu o crime. Ele destacou que ficou 5 anos sem poder contar sua versão, sendo vítima de ameaças e escutando mentiras em relação à morte das crianças. 

"Fiquei esse tempo todo sem poder falar, pelas ameaças que venho sofrendo. Me envergonho por ter mentido em relação a dizer que entrei no quarto. Eu deveria ter dito a verdade desde o começo. Eu tenho a perspectiva de futuro que posso provar minha inocência, de não deixar esse legado para os meus filhos de ser um monstro, um homicida, um abusador. Não cometi esse crime. Não incendiei nada, não matei os meus filhos. Não quero deixar essa história da minha vida assim. Eu não sou essa pessoa, não sou um homicida", disse.

"Cinco anos preso, sem poder falar e ouvindo muitas mentiras. Para mim, dói ouvir tantas mentiras. Eu não estuprei meus filhos, nem nunca abusei de ninguém. É a minha vida que está em jogo, a minha vida acabou. Eu não sou essa pessoa. Mesmo recebendo esse tipo de olhar, eu não aguento mais essa situação. Se eu soubesse que seria assim, teria entrado naquele quarto e morrido. Eu não pude falar em momento algum, não pude me expressar nada em momento algum", destacou o réu. 

Georgeval deu detalhes sobre o dia do crime

Questionado sobre o que teria acontecido no dia da morte do filho e do enteado, Georgeval detalhou, desde a noite anterior ao crime, até o momento do incêndio na casa da família. Ele reafirmou que estava sozinho com as crianças, já que a mãe dos meninos teria viajado para participar de um evento de dança da igreja. 

Foto: Andre Vinícius Carneiro
"No dia dos fatos, levei os meninos na escola e fui resolver algumas demandas da igreja. Depois, fui buscá-los e, na volta, paramos em uma sorveteria. Tomamos um sorvete, tirei umas fotos e mandei para Juliana, dizendo que só faltava ela. Recebi a ligação de um irmão da igreja ,que me chamou para ir na casa dele comer uma pizza. Fomos e as crianças ficaram brincando com os filhos dele. Não me recordo que horas voltamos para casa. Era um pouco tarde e eu estava bem cansado", disse ele.

O réu disse que guardou o carro na garagem e pediu para que os meninos fossem tomar banho. Enquanto isso, ele saiu para buscar algumas coisas no veículo, como as mochilas da escola e um drone, que ele havia dado de presente para o enteado, Kauã. 

"Coloquei o carro na garagem e logo mandei os meninos irem tomar banho. Eles tomavam banho praticamente sozinhos. Joaquim teve um sangramento nasal e, da porta do banheiro, eu falei para ele jogar água. Isso era muito comum, o nariz dele sangrava constantemente. Do nada começava sangrar. Como era algo comum eu não fiquei muito preocupado."

Depois do banho, Georgeval contou que eles tomaram achocolatado e foram assistir filme no escritório. Como Joaquim acabou dormindo primeiro, ele levou o filho até o quarto e o colocou na cama de baixo, ligou a babá eletrônica e o ar condicionado. 

"Kauã estava no escritório e não queria dormir. Eles queriam dormir comigo no quarto e eu não permiti. Juliana, nesse período, faz uma chamada de vídeo comigo e falou com Kauã. Depois, ele foi para o quarto e pediu para orar por eles. Oramos, fui para o meu quarto, tomei banho e dormi. Não me recordo se despertei por causa do cheiro da fumaça ou se foi pelo barulho na babá eletrônica. Aí sim, já acordado,  eu percebi a fumaça."

O réu contou que saiu no corredor e viu ainda mais fumaça, então bateu na porta do quarto das crianças, viu um vapor muito quente e não entrou. Ele afirma que correu para a sala e começou a gritar por socorro, e ao voltar para o corredor, já não conseguiu mais chegar perto do quarto em que os irmãos estavam. 

"Tentei a abrir a porta da sala e não consegui. Estava com muita falta de ar e com dificuldade de gritar. Consegui sair, fui para a garagem e comecei a gritar pedindo socorro, correndo de um lado para o outro. Eu não sabia se outro cômodo da casa estava pegando fogo. Comecei a ter muita falta de ar e vi essas pessoas que pararam em frente a minha casa e perguntaram o que estava acontecendo. Depois, algumas pessoas arrombaram o portão para entrar. Eu realmente estava apavorado e sem saber o que fazer. Estava com muito medo, desesperado para sair daquele lugar. Quando eu sai comecei a gritar no meio da rua só de cueca. Uma vizinha viu e me auxiliou me dando uma bermuda e a camiseta do filho dela. Eu ia entrar na casa e eles me impediram. Pegaram uma mangueira que tinha no quintal para tentar apagar o fogo", contou. 

Julgamento durou 16 horas e continua nesta quarta

O primeiro dia de julgamento teve início às 9h e terminou às 01:45 da madrugada. Foram ouvidas duas testemunhas de acusação e duas testemunhas da defesa, além do depoimento do acusado. 

Foto: Lucas Salazar / TV Vitória

Georgeval não respondeu a nenhuma das perguntas feitas pelos advogados de acusação, limitando-se somente a responder o que foi perguntado por seus advogados constituídos.

Apesar de ter passado todo o dia em Linhares, o réu foi levado de volta para Viana após o encerramento do Júri. Ele saiu em uma viatura, escoltado por agentes da Polícia Penal e deve retornar na manhã desta quarta-feira (19), para o segundo dia de julgamento. 

Com a colaboração de Mayra Bandeira e Suellen Araújo, da TV Vitória/Record TV. 

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