CASO KAUÃ E JOAQUIM

"Georgeval matou as crianças", diz delegado do caso durante júri

Para Romel Pio Abreu Júnior, não há dúvidas de que o réu abusou sexualmente e matou o filho de 3 anos e o enteado de 6, em Linhares, em 2018

Foto: Montagem / Folha Vitória

O delegado responsável pelo caso Kauã e Joaquim, Romel Pio de Abreu Júnior, afirmou durante júri popular nesta terça-feira (18) que não há dúvidas de que o réu Georgeval Alves é culpado pelos assassinatos do filho e do enteado, ocorridos em 2018.

Convocado pelo Ministério Público do Espírito Santo (MPES), o delegado foi a primeira testemunha de acusação ouvida no Fórum de Linhares, no Norte do Espírito Santo.

Georgeval é acusado de estuprar, torturar e matar o filho Joaquim Alves, de 3 anos, e o enteado Kauã Butkovski, de 6. Ele está sendo julgado por duplo homicídio qualificado, tortura e estupro de vulneráveis.

De acordo com Romel Pio, inicialmente o caso foi tratado como um incêndio acidental, por isso, o Corpo de Bombeiros foi imediatamente acionado para periciar o imóvel. Para poupar os familiares do luto, evitou que Georgeval e Juliana Alves, mãe das crianças,  fossem levados para prestar depoimento.

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O que chamou a atenção do delegado foi o comportamento do réu em relação à perícia, uma vez que fez questão de acompanhar todos os passos da polícia e dos bombeiros no imóvel. Naquele momento, levou Georgeval para prestar depoimento, por notar estranheza na conduta do homem. 

A partir deste momento deu-se início à investigação com trabalho de perícia intenso e oitiva das testemunhas.

"Todo o trabalho da perícia e oitiva das testemunhas nos deixaram convictos de que se tratava de um crime e, por isso, pedimos pela prisão preventiva dele. Uma certeza de que ele havia matado e abusado sexualmente das crianças. Então, o indiciamos pelos crimes que está sendo acusado", relatou o delegado. 

Indiferença e comportamento frio

Logo após o depoimento do acusado, o delegado Romel Pio disse que notou outras discrepâncias no comportamento do réu. De acordo com ele, Georgeval manteve-se frio durante toda a conversa, ao contrário de Juliana, que se mostrava triste e abalada com a situação.

Durante o interrogatório, outra contradição: o réu afirmava ter tentado arrombar o portão da residência para salvar as vidas dos dois garotos, algo que foi completamente negado por testemunhas, que afirmam que em nenhum momento Georgeval tentou socorrer o filho e o enteado. 

"Todas as testemunhas disseram que ele, em nenhum momento, tentou auxiliar no socorro. Ele apenas apontou com gestos como essas pessoas deveriam fazer para chegar no quarto das crianças. Mas não foi junto".

Segundo o delegado, as próprias escoriações testemunhavam contra o réu, uma vez que nenhum ferimento grave era encontrado em seu corpo. A única lesão que ele apresentava era uma bolha na sola do pé que, de acordo com testemunhas, pode ter sido causada por ter corrido de um lado para o outro no dia do ocorrido.

O suspeito chegou a lanchar na companhia do delegado e da esposa logo após o incidente e, mais uma vez, de acordo com Romel Pio, a postura fria e a falta de qualquer sentimento estavam presentes durante a interação. 

"Lanchou de frente para mim enquanto noticiava de que forma os filhos tinham morrido. Isso sentando de frente para mim. Só demonstrou dor nos momentos que ele achava que deveria demonstrar", disse.

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Uma cena de horror

Durante o depoimento, o delegado compartilhou detalhes da investigação, que contou com uma força-tarefa, com três delegados, dois investigadores e 10 peritos na análise de provas. 

Ao entrar na casa, pela cozinha, encontraram o imóvel completamente revirado. Por conta da intensa movimentação de pessoas que tentaram socorrer as crianças após ouvirem os gritos de socorro, o imóvel estava uma bagunça, o que poderia comprometer as investigações.

O foco do incêndio, de acordo com Romel Pio, era exclusivamente o quarto das crianças, e que um agente acelerante foi utilizado para alastrar o fogo na casa, o que reforça a tese de que as crianças foram abusadas e agredidas em outro cômodo e que quando foram levadas ao quarto, já não ofereciam nenhuma resistência ao incêndio.

Um galão de combustível foi encontrado no interior do carro do acusado, um dos fatores que fizeram com que o delegado defendesse a autoria do crime. 

"Georgeval matou as crianças. Em nenhum momento durante meu trabalho quis culpar ninguém. Queríamos só descobrir a verdade. Fui advogado por 8 anos e sei como funciona esse trabalho, tanto é que demoramos a intimá-lo por entender o luto pelo qual passava. Mas, no trabalho de investigação, fui percebendo que a versão dele não se sustentava e, no final, não houve dúvida de que ele incendiou as crianças", disse o delegado.

Defesa interroga o delegado

Após o depoimento, a defesa de Georgeval pôde se dirigir ao delegado e indagá-lo sobre a investigação. Durante as perguntas, Romel Pio foi questionado sobre as testemunhas, que alegaram que Georgeval não prestou socorro às crianças.

Segundo a defesa, o réu teria gritado por socorro e por ajuda durante o incêndio. A indagação foi prontamente respondida pelo delegado, que afirmou que Georgeval agiu desta forma depois de perceber a aproximação de outras pessoas, mas que impossibilitou qualquer ajuda por parte delas.

Ainda segundo a defesa, Georgeval tentou tirar a própria vida após a morte das crianças, correndo e se jogando na BR-101, o que foi descartado pelo delegado como uma encenação. "Se quisesse se matar, teria entrado no quarto e tentado salvar os filhos. Não ter ido correr na BR", disse. 

A defesa ainda alegou que uma testemunha, que morreu durante o período de tramitação do processo, o perito Carlos Alberto ViIlhagra, afirmou que os ferimentos de Georgeval eram compatíveis com o calor, o que foi rebatido pelo delegado, que declarou que os ferimentos eram ínfimos.

Por fim, o delegado informou à defesa que desconhecia quaisquer alegações de maus-tratos por parte dos pais das crianças e que a única queixa que ouviu antes foi sobre Kauã, que reclamava de importunação por outro menino, mas apenas isso.

Durante todo o depoimento e interrogatório, Georgeval se manteve de costas para o público, vez ou outra, trocando uma palavra com os policiais penais que faziam sua escolta no tribunal. 


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