ES terá plano contra ataques para reforçar segurança nas escolas
De acordo com Alexandre Ramalho, secretário de Estado da Segurança, proposta inclui treinamento para a comunidade escolar e disque-denúncia próprio
O secretário de Estado da Segurança Pública no Espírito Santo, coronel Alexandre Ramalho, afirmou ao Folha Vitória na tarde desta quinta-feira (6) que o Estado vai ter um plano estadual para tratar de segurança nas escolas.
O assunto, ainda mais em evidência depois do ataque em uma creche em Blumenau (SC), nesta quarta (5), tem sido alvo de autoridades multidisciplinares. Por aqui, não será diferente: a ideia é apresentar o plano até o final de abril, o qual terá apoio da Secretaria de Educação (Sedu) e da Saúde (Sesa).
Segundo Ramalho, há um grupo estabelecido, chamado de Comitê de Segurança Escolar, que, nas palavras do secretário, congrega as forças de segurança, unindo Bombeiros, Polícia Militar e Polícia Civil.
“A PM tem o Programa Educacional de Resistência às Drogas e à VIolência (Proerd), os bombeiros têm a brigada que atende os jovens de 15 anos em diante; e ainda há o Papo Responsa, da Polícia Civil, que trabalha com os adolescentes no linguajar deles, então a área de segurança já tem alguma expertise. Mas teremos 15 grupos temáticos que, ao nosso entender, vai ajudar a dinamizar”, esclareceu.
Entre os grupos, Ramalho afirmou que há um específico para tratar de tecnologia, analisando quais as melhores opções a serem aplicadas no ambiente escolar, e um grupo de Inteligência, que também terá parceria com a Polícia Federal.
“Teremos um disque-denúncia exclusivo para as escolas, bem como pensamos em um código no Ciodes específico para levantar estatística. Também estamos planejando um fluxo para organizar quem vai fazer o quê, em que ordem, caso haja uma ocorrência, além de um núcleo dentro da PC para investigação nesses casos. Este pacote pretendemos encerrar no fim do mês, depois será apresentado o plano, de aspecto contributivo e participativo. A segurança pública não está sozinha, nem a educação”, continuou o secretário.
O bullying como causa de revolta e ataques
Ramalho também enfrentou o tema do bullying nas escolas, dizendo que os ataques têm direta relação com o que acontece dentro do ambiente de aprendizagem, como cenas de humilhação. “O estudante que é vítima acaba ficando recluso, sem querer ir para a escola e aí encontra apoio na deep e dark web”, pontuou.
Apesar de entender que não há receita de bolo, o secretário entende que o Espírito Santo está saindo na frente com relação ao restante do país.
Treinamento para a comunidade escolar
Em termos de treinamento para a comunidade escolar, ele afirmou que será oferecido curso de primeiros-socorros pelos bombeiros. “A ideia não é correr para sair, porque nessas ocasiões, se correr a pessoa vai ao encontro do atirador”, disse.
Uma das ideias, segundo Alexandre Ramalho, é identificar um local, como uma sala de aula, para que as pessoas se escondam em segurança.
“Teremos treinamentos periódicos, simulações e palestras. É preciso mudar também o ambiente interno, até para gerar uma devolutiva. Ensinar as pessoas como lidar com o pânico”, pontuou.
Inteligência Artificial
Uma ideia estudada é também a implantação de Inteligência Artificial nas escolas, por meio de robôs que possam avisar sobre pessoas com características determinadas, por exemplo: que entrem portando alguma arma, correndo, de máscaras ou bandanas.
“Seria como acontece com o cerco inteligente, que é uma ferramenta que tem ajudado a PC. O cerco passa algumas características suspeitas e a partir daí se acende um alerta. Algo parecido está dentro do grupo de tecnologia, que vamos alinhar no plano escolar”, acrescentou.
Questionado sobre se os ataques no país e no Estado têm se tornado uma “epidemia”, Ramalho afirmou que não usaria esse termo.
“Nem todas as informações que chegam são verdadeiras, mas de fato o número aumentou e precisamos considerar isso. É importante deixar o aviso para que, diante de qualquer comentário, informação, desenho de croqui, ameaça de invasão, falas sobre armas e simulacros, a que os alunos tenham acesso, imediatamente seja denunciado ao 181 para que qualquer ato seja evitado”, disse.
Também sobre o botão do pânico, o secretário afirmou que não entende como solução para o caso das escolas. “Assim como não entendemos o uso de viaturas, detectores de metais, entre outros. Isso torna o ambiente mais hostil. Uma coisa que sabemos é o que leva pessoas a cometerem esses atentados: o sofrimento”, afirmou.
Investimento em nível nacional
Após anúncio do ministro da Justiça, Flávio Dino, nesta quarta-feira (5), de que o Ministério fará investimento no valor de R$ 150 milhões destinado a um fundo nacional de segurança pública em escolas, Ramalho foi questionado a respeito de possíveis encontros com outros entes federativos para concluir a questão.
“Estamos esperando o ministro da Justiça definir as regras, como qual a cota para cada estado, por exemplo. Isso poderá ser uma forma de comprar o horário de folga do policial, que o motiva a trabalhar e acaba sendo muito benéfico”, declarou.
Quanto às forças de segurança saberem operar, em nível de inteligência, espaços na deep web, o secretário afirmou que é um assunto muito novo e que requer diálogo e instruções.
Especialista fala que nunca havia existido uma real preocupação com o bullying
O aumento gradativo dos casos de atentados em escolas pelo Brasil acende um alerta para a importância do debate sobre a segurança das instituições e a saúde mental.
Desde o ano de 2011, quando foi registrado o massacre na Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, no Rio de Janeiro, o Brasil teve ao menos outros 12 ataques em creches e escolas. Entre alguns emblemáticos estão: o massacre de Suzano no Rio de Janeiro, o ataque em Aracruz, no Espírito Santo, e o ataque em Saudade, também em Santa Catarina.
Segundo o especialista em Segurança Pública, Raphael Pereira, em entrevista ao Fala ES, da TV Vitória/ Record TV, os casos não são isolados e sempre trazem reflexões quanto às atitudes que devem ser tomadas: para prevenir, mitigar e evitar que mais tragédias ocorram no Estado e no país.
"Esses ataques não são de hoje, eles aconteciam com mais frequência em outros países, mas atualmente são vistos no Brasil. Eles possuem, entre alguns fatores, desde o fanatismo religioso, falta de diálogo e até a inimputabilidade", destaca.
O especialista ressalta que o Brasil ainda não possui uma diretriz nacional que cuide das ocorrências referentes aos ataques nas escolas. "Essa é uma situação que tem se tornado cada vez mais comum e não perpassa apenas pela segurança pública", explica.
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Além disso, ele descreve a necessidade urgente da inclusão de elementos de prevenção e segurança dentro das escolas, assim como da integração da segurança pública, dos órgãos de inteligência e da sociedade.
"É importante que sempre ocorra a fiscalização das redes sociais e os cuidados com possíveis vítimas e criminosos".