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Ataques a escolas: especialistas alertam para bullying, acesso a armas e fóruns

Nesta quarta-feira (05), um homem armado matou quatro crianças em uma creche em Blumenau, em Santa Catarina

Maria Clara Leitão

Redação Folha Vitória
Foto: Divulgação / Corpo de Bombeiros Militar de Santa Catarina

O aumento gradativo dos casos de atentados em escolas pelo Brasil, acende um alerta para a importância do debate sobre a segurança das instituições e a saúde mental. Nesta quarta-feira (05), um homem armado matou quatro crianças em uma creche em Blumenau, no estado de Santa Catarina. 

Desde o ano de 2011, quando foi registrado o massacre na Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, no Rio de Janeiro, o Brasil teve ao menos outros 12 ataques em creches e escolas. Entre alguns emblemáticos estão: o massacre de Suzano no Rio de Janeiro, ataque em Aracruz, no Espírito Santo e o ataque em Saudade, também em Santa Catarina. 

Segundo o especialista em Segurança Pública, Raphael Pereira, em entrevista para a TV Vitória/ Record TV, os casos não são isolados e sempre trazem reflexões quanto às atitudes que devem ser tomadas: para prevenir, mitigar e evitar que mais tragédias ocorram no Estado e no país. 

"Esses ataques não são de hoje, eles aconteciam com mais frequência em outros países, mas atualmente são vistos no Brasil. Eles possuem entre alguns fatores à serem ressaltados desde o fanatismo religioso, falta de diálogo e até a inimputabilidade", destaca. 

O especialista ressalta que o Brasil ainda não possui uma diretriz nacional que cuide das ocorrências referentes aos ataques nas escolas. "Essa é uma situação que tem se tornado cada vez mais comum e não perpassa apenas pela segurança pública", explica. 

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Além disso, ele descreve a necessidade urgente da inclusão de elementos de prevenção e segurança dentro das escolas, assim como da integração da segurança pública, dos órgãos de inteligência e da sociedade. "É importante que sempre ocorra a fiscalização das redes sociais e os cuidados com possíveis vítimas e criminosos". 

Raphael Pereira também explica que, não há limites geográficos para os massacres, sendo lembradas ações ocorridas em Suzano, no Rio de Janeiro, no município de Aracruz, no Espírito Santo e agora Blumenau, em Santa Catarina. "Em todos esses casos, as investigações relataram algum motivo ou conexão com o caso anterior", finaliza o especialista. 

"As crianças dão sinais", diz psicóloga 

"A maioria dos indivíduos - que realizam os atentados - dão indícios e possuem um histórico de comportamentos 'antissociais"", é dessa forma que a psicóloga Anne Daltro inicia a sua participação no programa Fala ES da TV Vitória/ Record TV. 

A especialista explica que os pais podem ficar atentos a alguns sinais apresentados pelas crianças e adolescentes durante as interações. "Mesmo que isso não seja uma regra que elas vão cometer alguma ação, é importante observar e analisar os sinais que são apresentados". 

"São crianças ou adolescente que tentam manipular situações ao redor; utilizam de chantagens e mentiras com os colegas e até mesmo com familiares. Eles geralmente sofrem bullying ou são os agressores. Vale também observar momento em que as crianças parecem muito nervosas, falam que 'vão matar ou morrer', até mesmo as que estão se isolando de situações sociais", ressalta Anne. 

Além disso, segundo a psicóloga, é essencial que os pais ou responsáveis tenham uma boa comunicação com a escola dos filhos. "Deve ser realizado um 'intercâmbio' de informações e conhecimento, principalmente quando são notados comportamentos diferentes ou não convencionais". 

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"A violência tem se tornado mais frequente" 

A doutoranda em Educação da Universidade Federal de Campinas (Unicamp), Danila de Pietro, destaca que a violência está se tornando uma situação mais frequente não apenas nas escolas, mas em ambientes familiares e domésticos. 

"Temos observado a banalização do uso da violência como estratégia de interação social: ao invés de negociarmos ou aprendermos a conviver com os diferentes, temos o oposto. Vemos uma imposição até mesmo por meio da força, para impor o modo de viver e opressão dos mais fracos", destaca. 

Segundo Danila, é perceptível que os ataques vêm ocorrendo de forma pontual. "Do ano de 2018 para cá, eles estão se tornando mais frequentes, tivemos uma alta no segundo semestre do ano passado, o que nos deixa preocupados". 

Dentre os fatores apontados para as principais causas do aumento estão: os intensos casos de bullying, ações extremas radicalizadas como o acesso a armas, maior compartilhamento de informações em fóruns, imposição de ideias e a falência do diálogo entre escolas e responsáveis. 

"É necessária a criação de uma rede de promoção de convivência mais amistosa, principalmente nesses tempos mais complexos. A família, escola e sociedade precisam de uma maior integração, para que esses discursos de ódio não sejam ampliados e que possamos evitar novas tragédias", finaliza o especialista.

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