A tragédia das chuvas na região Sul do Espírito Santo, ocorrida nos dias 22 e 23 de março, deixou um rastro de destruição e o total de 20 mortos, 11.612 desalojados e 129 desabrigados. Mesmo com alerta de chuvas, elas foram superiores à média climatológica para o mês de março e “pegaram as autoridades de surpresa”.
Mas, segundo opinião de especialista na área, mesmo com a intensidade das chuvas, que superou o volume esperado, são necessárias ações dos órgãos públicos para evitar novas tragédias.
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É o que destaca o coordenador do Laboratório de Geomorfologia e Gestão de Risco de Desastres, da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Antonio Celso de Oliveira Goulart.
“São necessárias implementações de ações de planejadas de intervenções estruturais como obras em lugares sensíveis aos efeitos de riscos hídricos e geodinâmicos para reduzir o efeito desses eventos. Também ações não estruturais como definição de treinamentos à população e de segregação de áreas para ocupação residencial ou de equipamentos públicos”, descreve.
Além disso, é necessária uma maior aproximação entre os gestores municipais e os órgãos de planejamento do Estado e da União. “Eles tratam dos assuntos a essa questão, condição quase sempre manifestada de maneira reativa, raramente de uma forma proativa”.
Sirenes podem ser usadas como em outros lugares do Brasil
Em outras regiões com áreas risco espalhadas pelo Brasil, ao exemplo na região serrana do Rio de Janeiro, como Petrópolis e São Sebastião, em São Paulo, são presentes sirenes para alertar o “risco alto de deslizamento e inundação”.
O especialista narra que, é mais efetivo um sistema de alerta que se padronizem, ao invés de usar recursos que tenham múltiplas finalidades, como sinos. O artifício é utilizado em cidades do interior do Espírito Santo.
Entretanto, mesmo com o sistema de monitoramento e alerta, sem a participação das populações nos treinamentos simulados, os alertas são pouco eficiente ou não terão efeito, diante da ação das fortes chuvas.
“Mesmo o mais complexo sistema de monitoramento e alerta, sem a participação das populações nos treinamentos simulados, na definição dos papéis diante do protocolo de ação na situação, e da ação dos agentes municipais de proteção e defesa civil na coordenação de toda essa operação, até que o necessário apoio se apresente, torna-se pouco eficiente ou mesmo inóquo”, destaca o especialista.
Antonio Celso também descreve que, em todo caso, não se pode evitar a chuva, pode-se prever melhor as condições meteorológicas com ampliação dos sistemas de monitoramento, além da maior diversidade de equipamentos integrados a essa estrutura.
“A estrutura já conta com os radares, estações pluviométricas, e medições fluviométricas. Isso permitirá uma ampliação também na capacidade de se gerir essas situações críticas, tanto na prevenção como na recuperação dos espaços afetados”, narra.
O que diz o Corpo de Bombeiros sobre a situação?
O Corpo de Bombeiros Militar do Espírito Santo (CBMES) informou que a Coordenadoria Estadual de Proteção e Defesa Civil (Cepdec) atua com um plantão 24 horas realizando mapeamento, monitoramento, previsão e alerta de extremos meteorológicos, hidrológicos, geológicos e oceanográficos.
Ao longo da última semana, essas informações foram compartilhadas com Defesas Civis Municipais e demais órgãos que compõem o Sistema Estadual de Proteção e Defesa Civil, para prevenir e mitigar danos e riscos para a população.
“Para que esta resposta seja a mais rápida possível em casos de desastres, o Governo do Estado tem investido na estruturação do Sistema Estadual de Proteção e Defesa Civil (Siepdec), cuja finalidade é dotar o Espírito Santo de uma estrutura integrada de planejamento e análise e tomada de decisões antes, durante e após a ocorrência de eventos extremos”, ressalta.
Além disso, o Corpo de Bombeiros destaca serem implementadas ações como:
– Um sistema de monitoramento através do site ALERTA!ES, que coleta, armazena, trata e gerência dados a respeito das condições hidrológicas e meteorológicas que resultam, entre outros, no volume de chuvas e na vazão de rios por meio de estações pluviométricas, fluviométricas e meteorológicas. Com os dados adquiridos, são emitidos, de forma automatizada, alerta de chuvas por meio de boletins e mapeamento de áreas de riscos.
– Realização de cursos em proteção e defesa civil, na modalidade EAD e presencial, para os agentes estaduais e municipais, sociedade civil e interessados no tema de gestão de risco e desastres, bem como simulados e atividades para capacitação e experiência da comunidade para estarem prontos para um eventual desastre.
– Criação do Centro de Inteligência da Defesa Civil Estadual (Cidec) com investimento de R$ 56 milhões na construção e implantação do centro. Trata-se de um ambiente físico no qual convergem os dados e informações coletados que, processados e aliados aos conhecimentos operacionais, suportados por sistemas dedicados, formam a inteligência necessária ao gerenciamento dos riscos e desastres. O Centro reúne tecnologia de ponta, o que facilita ainda mais a integração entre vários órgãos em trabalhos de prevenção e resposta aos desastres.
– O Governo do Espírito Santo investiu mais de R$ 9.000.000,00 na aquisição de caminhonetes 4×4 e equipamentos Drones entregues aos municípios. Com isso é permitida mais qualidade e recursos em vistorias de risco, prevenção e resposta, com mais conforto e segurança para atuarem em locais atingidos por eventos adversos, bem como na prevenção, mitigação e recuperação dos municípios afetados.
– Aquisições de itens de ajuda humanitária como colchões, lençóis, travesseiros, cestas básicas, remoção de resíduos e telhas de fibrocimento para auxiliar os municípios em situação de emergência, por meio de atas previamente aprovadas, viabilizando a rápida aquisição em momentos de emergência.
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