TV Vitória 30 anos por Jeanne Bilich: "Trajetórias Entrelaçadas"
O Folha Vitória publica, nesta terça-feira (20), mais um artigo da coletânea de textos sobre a história dos 30 anos da TV Vitória. A jornalista Jeanne Bilich, que ocupou durante anos o cargo de editora chefe e de apresentadora da emissora, faz um resgate histórico a partir de sua experiência profissional e ressalta importantes conquistas da TV Vitória. Confira:
Trajetórias Entrelaçadas
Jeanne Bilich
Sim, poderá até parecer mentira - ou quem sabe estratégia de marketing pessoal ou ainda trivial inverdade - mas, afianço-lhe sagaz leitor do jornal Folha Vitória e, certamente, também, assíduo telespectador da TV Vitória, que assim não é. Pois, atesto-o eu - e se preciso for até em juízo - a plena e absoluta veracidade de haver experimentado, por muitos e muitos anos, certo e peculiar modo de “existir” em comum, tempo amalgamado pelo estreito e diário convívio profissional. Trajetórias entrelaçadas: TV Vitória & Jeanne Bilich. Acredite ou não, tantos os anos já escoados nas areias da ampulheta do tempo - mais de década! (2003-2014) - período em que voluntariamente “sumi” da tela da TV Vitória para trilhar caminhos outros e, ainda hoje, neste pós-moderno, veloz e tecnológico ano de 2014, incontáveis são as pessoas - jovens e maduras - que, com extraordinária frequência, abordam-me nas ruas, no trânsito, nos estabelecimentos comerciais para perguntar-me, com cativante sorriso, se não voltarei a aparecer na telinha do canal 6. A emissora “A Cara da Gente” - e que suspeito continua também a ser a minha (risos) - e que, agora, no correr deste ano, festeja os seus 30 anos “no ar”, levando confiável e isenta informação jornalística aos capixabas e, em paralelo, extensa e diversificada grade de programação local. Aliás, iniciativa pioneira da TV Vitória nestas terras do Espírito Santo.
E como me sinto?... Bem, confesso-lhe, sagaz leitor, embasada na franqueza & sinceridade que bem me caracterizam - seja na tela, seja na vida privada - que me sinto recorrentemente surpresa, feliz e lisonjeada, pois, o questionamento do público cimenta em mim a convicção que a revista jornalística Espaço Local - que estreou naquele distante junho de 1989, tendo permanecido por 10 anos consecutivos no ar, apresentado, diariamente ao meio dia, por mim - marcou, sim, o imaginário dos telespectadores, cristalizando-se na memória dos capixabas. E convencida estou que prêmio maior e mais valioso não poderia ser almejado, tanto da parte da TV Vitória, quanto da parte desta jornalista, uma eterna apaixonada pela Comunicação. Reafirmo: trajetórias entrelaçadas! Casamento profissional sólido e duradouro, pois não?... União embasada na ética, confiança, liberdade de expressão e, sobretudo, no respeito e amor correspondidos entre, digamos, os “cônjuges”: TV Vitória & Jeanne Bilich.
Pela “sala de visita” do Espaço Local passaram candidatos à presidência da República, ao governo estadual, ministros da área federal, secretários de Estado, senadores, deputados, magistrados, lideranças empresariais, sindicalistas, intelectuais de renome nacional - lembro-me da viva emoção ao entrevistar o Mestre dos Mestres, Darcy Ribeiro - bem como uma constelação de artistas que brilharam no cenário cultural do país - Walmor Chagas, Tônia Carrero, Arthur Moreira Lima, este último ainda a brilhar -, enfim, um colossal mosaico ou vitral luminoso composto por uma plêiade de políticos, atores, escritores e formadores de opinião da mídia local e nacional. Asseguro-lhe, sagaz leitor, embasada em sólida certeza que ficaram, sim, após tantos anos idos, os “perfumes” emanados dessa época, ou seja, da década 90 do século findo. Inaudito, do ponto de vista pessoal, realço uma vez mais, é a lembrança do Espaço Local ainda pulsar tão vívida na teia da memória do capixaba.
Já no correr do ano de 2001 - após ter estreado, tempos antes, como âncora do Jornal da TV Vitória, em parceria com o brilhante jornalista Boris Casoy, então, no comando do Jornal da Record, em São Paulo -, o diretor e amigo Fernando Machado, a quem carinhosamente (ainda) chamo de “eterno chefe”, convidou-me e num assomo de coragem aceitei assumir a função de Chefe de Redação da TV Vitória. Experiência árdua que, confesso, requereu de mim novíssimo aprendizado no manejo da área administrativa da Redação, desafio para esta comunicadora que sou e sempre fui, desde a minha estreia na imprensa, em 1974. Do “eterno chefe” aprendi preciosas e inesquecíveis lições. Quais? Teorias e exercício prático da arte de bem administrar uma equipe de jornalistas.
Aliás, equipe de profissionais da comunicação tão coesa, dedicada e brilhante que no ano seguinte, 2002, a TV Vitória conquistou o primeiro lugar - categoria “Melhor Reportagem de Televisão” - na concorrida disputa do “8º Prêmio Capixaba de Jornalismo”, graças à exibição da série “Corpo: Objeto de Consumo”, conjunto de cinco reportagens inserido no Jornal da TV Vitória. Orgulho e alegria pela premiação conquistada, não só para a Redação a quem coube idealizar, produzir e executar o marcante trabalho, bem como para os dirigentes, executivos e funcionários das diversas áreas da emissora. Ah... os “perfumes” do ofício da Comunicação!
E, assim, sagaz leitor, exercendo funções jornalísticas diversas, que se distribuíram por períodos diferentes, mas todos, sem exceção, vividos prazerosamente por mim, anos e anos acabaram por somar mais de década que, pouco a pouco, foi se escoando na Ampulheta do Tempo Vivido Em Comum, consolidando o casamento profissional: TV Vitória & Jeanne Bilich. Que, por inaudito possa parecer a mim e certamente também, agora, deverá parecer a você, sagaz leitor - ratifico de modo recorrente e, ainda, uma última vez -, se faz saudosamente lembrado pelo carinhoso público do Espírito Santo. E depois - ah, os mitos que circulam como (falsas) verdades -, ainda dizem que “o brasileiro é povo sem memória.” Se assim o é, no que concerne à nação brasileira, não saberia eu dizer, mas, juro-lhe que especialmente com o capixaba assim não ocorre. Autêntica exceção à regra!... Atesto-o eu, com granítica certeza.
Certo é que o avançar do tempo exige de tudo e todos - cidadãos comuns, empresas privadas e instituições -, “abertura” para celeremente captar e adotar as mudanças, inserir inovações, imprimir desvios corretivos de rotas, deixando, desse modo, vicejar e florir o NOVO. Oxigenação mais do que necessária, sagaz leitor! Lição preciosa e indispensável de sabedoria para bem navegar neste mutável e fugaz espírito do tempo ou zeitgeist contemporâneo. Só assim, em fidelíssima harmonia com o princípio filosófico de Heráclito, Panta Rhei - Tudo Flui, a TV Vitória e nós, ex-funcionários que, um dia, fizemos parte desta História - sim, com “h” maiúsculo! - podemos hoje celebrar o aniversário da TV Vitória, ponte de união entre o tempo passado e o tempo presente. Comemorarmos juntos a vitoriosa marca dos 30 anos “no ar” da emissora capixaba que foi e sempre será “A cara da gente”. E não custa realçar, ora em finíssima sintonia com este veloz, fragmentado, tecnológico e extraordinariamente mutável tempo presente. Ou pós-moderno, como o batizaram os historiadores.
Parabéns efusivos à TV Vitória, parabéns à jovem e competente equipe de jornalismo, parabéns à direção executiva e a todos os funcionários. Do passado e do presente. Para mim, foi um real privilégio haver participado da construção desta emissora de televisão, ainda que, lúcida e conscientemente, sabendo ter sido apenas mero ou nano fragmento de uma das páginas - ou seria nota de rodapé?... - do livro-memória da História da TV Vitória, hoje integrante da Rede Vitória de Comunicação. Um marco também na História do Espírito Santo!