Dificuldade na compra de equipamentos é justificativa do Governo do ES para atraso na entrega de novos leitos de UTI
Estado superou, nesta terça, os 350 leitos de UTI disponíveis para tratamento de covid-19, mas a promessa do governo era chegar a essa marca no fim de abril
O Espírito Santo conseguiu chegar, nesta terça-feira (5), à marca dos 355 leitos exclusivos para covid-19 disponíveis à população. Desse total, segundo o Painel Covid-19, da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), 215 estão ocupados. Com isso, a taxa de ocupação atualmente é de 60,56%.
No entanto, o governo estadual havia prometido disponibilizar 353 leitos de UTI para pacientes infectados pelo novo coronavírus até o dia 30 de abril, e o total disponível até o início da tarde desta terça era de 292 — 61 a menos do que o esperado. No início da semana passada, a rede pública contava com 177 leitos de terapia intensiva para covid-19.
A justificativa do governo para o atraso na criação desses novos leitos é a dificuldade de comprar equipamentos, já que eles têm sido amplamente procurados em praticamente todo o mundo.
"Nós temos um acompanhamento também dos leitos de UTI da rede privada, que está girando em torno de 54% a 60% de ocupação. Com uma diferença: na rede pública, nós conseguimos separar os leitos exclusivos para a covid dos leitos que atendem outras doenças", afirmou o secretário estadual de Saúde, Nésio Fernandes, durante uma coletiva de imprensa, na manhã desta terça.
Ainda segundo a atualização mais recente do Painel Covid-19, a região metropolitana possui hoje 262 leitos de UTI exclusivos para pacientes com coronavírus, sendo que 182 já estão ocupados. A taxa de ocupação é de 69,47%.
Somente no Jayme dos Santos Neves, na Serra, principal hospital de referência para a covid-19 no Espírito Santo, 166 leitos de terapia intensiva estão disponíveis para tratamento da doença, sendo que cerca de 84% deles estão ocupados. De acordo com o coordenador médico da UTI do hospital, Fernando Sad, casos suspeitos de coronavírus ficam no isolamento individual até a testagem. Os confirmados seguem para isolamento coletivo.
"[Isso ocorre] para eu poder ter leito suficiente para atender os suspeitos que estão vindo encaminhados para a gente. Se eu não conseguir fazer o giro de leitos, ou seja, liberar esses leitos de isolamento único e botar esses pacientes num leito que dê o suporte para eles, para que libere um leito de isolamento único, eu não tenho como receber os suspeitos externos. Então eu preciso ter um espaço para receber esses pacientes que continuam vindo. A gente está no pico da pandemia. A gente não saiu do pico ainda. Então continuamos recebendo essa quantidade de pacientes diariamente", afirmou.
"Todos os pacientes têm que ter, minimamente, uma dificuldade respiratória para ter indicação de UTI. Senão ou tem indicação de isolamento domiciliar, se não precisar de oxigênio, ou se precisar de volumes pequenos de oxigênio, indicação de enfermaria. Aqui [na UTI] são pacientes que precisam de grandes volumes de oxigênio ou que precisam de respirador mecânico", acrescentou.
Ainda segundo o coordenador médico, até o final de maio o Jayme Santos Neves deverá ter 250 leitos de terapia intensiva para covid-19. Esse número, segundo ele, já poderia ter sido superado, se houvesse equipamentos disponíveis.
"Espaço físico até tem, mas depende da chegada de equipamentos. Muita coisa não depende só de quem pede. Depende de ter disponível. Não é só o Espírito Santo que precisa, é o mundo inteiro", frisou.
Hospitais públicos
O atraso na entrega de novos leitos preocupa também quem trabalha em hospitais públicos que não são referência para pacientes graves da doença. O técnico de enfermagem Raimundo Xisto trabalha na UTI de um hospital na Grande Vitória e diz que o setor possui 16 vagas que permanecem todas ocupadas na maior parte dos dias, com ou sem pandemia.
"Existe sim a preocupação, porque a tendência dessa doença, de acordo com a estatística, é que os casos ainda aumentem, infelizmente. E a gente está vendo também que não está tendo aquele comprometimento da população com o isolamento social. Então a tendência é aumentar".
Atualmente a rede pública de saúde possui 649 leitos de UTI para outras enfermidades. A produção da TV Vitória/Record TV questionou, mas até a noite desta terça-feira a Sesa ainda não tinha informado quantas estão ocupadas. O coordenador da terapia intensiva do Jayme Santos Neves não descarta a possibilidade de o Estado ter de recorrer a elas para tratamento de covid-19.
"Existe essa possibilidade, porém não tem como a gente mensurar 100%, porque a gente não sabe. Realmente é trabalhar com o carro andando. Mas a gente está bem otimista. Conseguimos, em menos de dois meses, transformar um hospital geral em um hospital de terapia intensiva. Isso já foi um esforço muito grande e está funcionando", destacou.
Medico intensivista há 18 anos, Fernando Sad se mantém otimista com a oferta de vagas. E mais ainda quando fala das pessoas que saíram pelas portas da UTI com vida. Ao todo, 171 pacientes graves de covid-19 do Jayme Santos Neves já se despediram da terapia intensiva.
"A gente trabalha principalmente para ver o paciente indo embora. Mas a maior alegria é ver o paciente sair por essa porta melhorado. Curado ainda não 100%, porque os pacientes de CTI vão para a enfermaria ainda. Dificilmente daqui vão para casa direto. Nosso trabalho é tirar o paciente do risco de vida. Tirando dessa parte, aí a continuidade do tratamento é em enfermaria e domiciliar, até ele se recuperar", ressaltou.
Com informações da repórter Fernanda Batista, da TV Vitória/Record TV