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Cais das Artes: 13 anos de obras e mais de R$ 200 milhões investidos em um cenário de incertezas

A espera frustrante pelo centro cultural capixaba causa preocupações sobre o futuro da obra

Foto: TV Vitória/Reprodução

O Cais das Artes, um ambicioso projeto que prometia colocar o Espírito Santo no cenário internacional de Arte e Cultura, completou 13 anos desde o início das obras, acumulando um investimento de mais de R$ 200 milhões.

A situação atual da obra, no entanto, é marcada por atrasos, interrupções e incertezas, que têm deixado artistas, arquitetos e a população capixaba frustrados.

A trajetória do Cais das Artes é marcada por obstáculos que surgiram logo no início. A primeira construtora encarregada da obra, por exemplo, faliu apenas dois anos após o início do projeto.

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Uma nova empresa foi contratada em seguida, mas em 2015, suspendeu suas atividades e entrou em uma disputa judicial contra o governo. A situação se agravou em 2018, quando uma terceira empresa foi contratada, mas a judicialização e denúncias de irregularidades paralisaram de vez o projeto.

Foto: TV Vitória/Reprodução

Durante esses 13 anos, foram consumidos R$ 216 milhões dos cofres públicos, quase o dobro do orçamento original.

Recentemente, o Instituto de Arquitetos do Brasil no Espírito Santo inspecionou o Cais das Artes e encontrou materiais e equipamentos danificados pela maresia e pelo tempo, evidenciando a negligência e o abandono da estrutura. 

“Vimos equipamentos de climatização comprados que foram deixados, lógico, alocados em uma área coberta, mas que a maresia está denotando. Estruturas de concreto que não foram finalizadas estão com armadura expostas. Cobertura e estruturas metálicas estão expostas e sem o mínimo de manutenção preventiva”, relata o arquiteto – conselheiro IAB/ES, Greg Repsold.

O arquiteto responsável pelo projeto, o capixaba Paulo Mendes da Rocha, faleceu há dois anos sem ter a oportunidade de ver sua obra concluída, um fato lamentado por toda a categoria.

“Falar sobre a retomada do projeto do Cais das Artes é falar de uma forma que o Espírito Santo tem para agradecer por várias obras que este arquiteto fez em nosso Estado”, afirma a presidente do IAB-ES, Polyana Lima.

Foto: TV Vitória/Reprodução

A demora na conclusão da obra tem afetado diretamente a vida de artistas e gestores culturais, como o casal de artistas Lorena e Augusto, que se mudou para o Espírito Santo há 9 anos, esperando poder trabalhar no Cais das Artes. Porém, a expectativa se transformou em frustração diante da incerteza sobre a destinação da obra. 

“Eu não sou capixaba, não sou brasileira, mas estou aqui há mais de nove anos, trabalhando na formação de novos talentos. Obviamente, o Cais das Artes com um teatro de ópera, espaço para museu e apresentações é um espaço ideal para este tipo de trabalho”, lamenta a cantora lírica e produtora cultural Lorena Espina.

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Há rumores de que o espaço possa abrigar um laboratório de tecnologia e inovação. Para Augusto Caruso, cantor lírico e gestor cultural, a proposta não é a melhor opção.

“Tem que terminar a obra e direcionar para a cultura, pois sem cultura o país não vai para frente. Não é para a tecnologia. Ali é um lugar para se fazer cultura. Este projeto é internacional. O arquiteto que o fez pensava internacionalmente”, disse.

O que dizem os órgãos

O Departamento de Edificações e Rodovias (DER) afirmou que está buscando um acordo com a empresa responsável pelas obras para retomar as atividades e estabelecer um novo prazo para a conclusão.

Já a secretaria estadual da Cultura, destacou que o uso do espaço será debatido com a sociedade no momento oportuno, e que a prioridade é uma finalidade artística e cultural.

A Procuradoria Geral do Estado disse que está acompanhando de perto o caso, em conjunto com outros órgãos do governo, na busca por uma solução.

Diante das preocupações e da necessidade de transparência, a Transparência Capixaba sugeriu a criação de um Grupo de Trabalho para destravar a obra e aumentar a transparência.

O Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (CREA) também se posicionou, informando que realizou levantamentos e os enviou ao Governo do Estado, defendendo a necessidade de um acordo ser alcançado o mais rápido possível.

*Com informações do repórter Alex Pandini, da TV Vitória/Record TV