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Juíza morreu com doença rara e após aneurisma aos 63 anos

De acordo com o filho, Gladys Henriques Pinheiro foi diagnosticada com hemofilia adquirida, o que prejudicava a coagulação do sangue

Tiago Alencar , Marcelo Pereira

Redação Folha Vitória
Foto: Reprodução / Instagram

A juíza Gladys Henriques Pinheiro, titular da 1ª Vara da Infância e Juventude da Serra, que morreu neste sábado (13), tinha uma doença autoimune considerada rara. 

A informação foi dada por seu filho único, o procurador-geral da Prefeitura de Cariacica, Eduardo Dalla Bernardina, com exclusividade para o Folha Vitória.

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"Ela tinha uma doença popularmente conhecida como hemofilia adquirida. É como se fosse uma hemofilia, que ataca o processo de coagulação do sangue. Geralmente, a hemofilia é congênita. A pessoa já nasce assim, já fazem o diagnóstico e o tratamento é feito ainda criança. Mas a dela foi adquirida porque sem nenhuma doença de base ela adquiriu essa doença que é considerada autoimune", explicou, extremamente emocionado.

A magistrada estava internada há alguns dias no Centro Integrado de Assistência à Saúde (Cias), vinculado à Unimed, em Vitória. Ela sofreu um aneurisma e não resistiu, vindo a falecer durante a madrugada. 

Bernardina relembrou que a juíza sentia fortes dores e apresentava manchas roxas no corpo, de causa desconhecida. Ela chegou a fazer uma viagem de descanso com ele e com a neta, mesmo com o incômodo. O passeio que, duraria 12 dias, foi interrompido por Gladys no quarto dia porque as dores não pararam. 

"Quando voltou, ela foi a um hematologista. Foi feito uma investigação, com um exame específico de sangue no Hospital Santa Rita, em Vitória, e descobriu que ela tinha uma doença popularmente conhecida como hemofilia adquirida", descreve.

"Essas marcas roxas ela descobriu que eram feridas que se abriam mas não fechavam porque o sangue não coagulava. De imediato, ela começou um tratamento. Inclusive disponibilizado pelo Centro de Hematologia e Hemoterapia do Estado do Espírito Santo (Hemoes). Mas, ela já estava em um estado muito ruim", lamentou.

Filho conta como doença deixou mãe debilitada e como juíza morreup

O procurador lembra que a mãe passou mal em casa. Ao ir ao banheiro, desmaiou e acabou machucando a cabeça. 

"Ela foi direto para o Hospital do Cias, em Vitória. Chegando lá, fez os exames e não deu nada. Mas, ela estava com fortes dores e ficou internada. As dores, por causa da hemofilia, não passavam. Com esse quadro, foi para UTI para dar início a um tratamento específico. Contactamos a médica do Hemoes que é referência neste tratamento", narrou, acrescentando que a juíza teve "que ser medicada com um remédio de alto custo, fornecido pela rede pública por meio do Hemoes. Ela e a equipe do Hemoes fizeram um trabalho lindíssimo com minha mãe", disse.

Foto: Reprodução / Instagram
Eduardo com sua mãe em abril de 2021, em Brasília

A juíza estava bastante debilitada. Foi quando se constataram um aneurisma.
"Veio uma dor de cabeça. Quando fui para a hemodinâmica, foi constatado que ela estava com um aneurisma. Foi feito o controle desse aneurisma. Ele foi estancado com sucesso. No lugar do curativo, veio outro sangramento e veio mais forte. Ela passou uma noite muito ruim com muitas dores. Eu estava com ela. Nem morfina adiantou. Verificaram que havia outro sangramento. Foi pra hemodinâmica novamente. Saiu dali melhor mas os órgãos estavam muito afetados. Chegou um ponto que ela não suportou mais", recorda. 

Foto: Thiago Soares/Folha Vitória
Juíza foi sepultada no cemitério Jardim da Paz

O filho disse que tudo o que era possível foi feito, e que a magistrada chegou a ser intubada por causa do choque causado por muitas dores. 

"A despeito do trabalho extremamente profissional e brilhante do Hemoes e da equipe do Hospital Santa Rita, ela não resistiu ao tratamento. O corpo também não reagiu ao que era esperado com esse medicamento de alto custo. Todos os protocolos internacionais relativos a essa doença foram seguidos mas não adiantou", pontua. 

"Ela deu pai e mãe para muitas crianças"

O procurador diz que ficou conhecendo a extensão do quanto sua mãe era querida no sepultamento, ocorrido no cemitério Jardim da Paz, em Laranjeiras, na Serra.

Foto: Folha Vitória/Thiago Soares
Centenas de amigos e familiares estiveram em velório e enterro

"No velório dela, não ouvi pêsames. Ao me cumprimentar, ouvi muita gente falando: 'Sua mãe fez isso por mim', 'sua mãe me ajudou'. Para ela não tinha gente rica e gente pobre. Era extremamente humana, para ela todo mundo era igual. Hoje eu pude ver os feitos dela. Só lá na Serra, ajudou um projeto que atendeu de 40 para 700 crianças. Eles foram lá para agradecer ao que ela fez. Uma senhora me falou que ela havia ajudado o marido, que sofria de câncer. Eu via que ela estava sempre se preocupando com o bem-estar das pessoas", destaca.

Bernardina diz que a tristeza é grande mas fica a certeza de que ela fez a diferença na vida de muita gente. 

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"Minha mãe perdeu o pai cedo mas ela deu pai e mãe para muitas crianças. Isso me confortou muito, quando eu vi no velório aquela multidão falando o que ela fez", destaca.

A juíza morreu aos 63 anos e deixa, além de Eduardo, uma neta de 4 anos. 

Gladys Henrique Pinheiros foi reconhecida por sua atuação à frente da Vara da Infância e Juventude da Serra, onde desenvolveu um projeto de adoção tardia. A iniciativa, que buscava proporcionar melhores condições de vida para jovens e adolescentes, recebeu um prêmio da magistratura.

Além disso, atuou como juíza eleitoral, conduzindo as duas eleições na Serra: a municipal, em 2020, e a estadual e federal, em 2022.


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