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Saiba se você é uma mãe ou um pai "tóxico" para o seu filho

Desqualificar a criança ("não vai dar certo para você", "deixa para lá, é melhor que eu faça isso") e insultá-la, são características de pais tóxicos, segundo psicólogos

Redação Folha Vitória

Redação Folha Vitória
Foto: Pixabay

Há alguns anos, a psicóloga argentina Camila Saraco percebeu que muitos dos pacientes que a procuravam tinham algo em comum: tiveram uma "criação tóxica".

Isso não significa que apenas um pai abusivo seja tóxico. "Existem tantas outras maneiras pelas quais os pais machucam, às vezes inconscientemente", diz a especialista em reportagem da BBC. 

Ela decidiu, então, criar um curso: "Pais Tóxicos", para ajudar a compreender quais comportamentos dos pais não são saudáveis, quais as consequências para os filhos e o que podem fazer aqueles que têm esses pais ou mães. Saraco ressalta que um genitor ruim não é necessariamente uma pessoa má. 

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O psicólogo mexicano Joseluis Canales, autor de vários livros, entre eles Pais Tóxicos: Legado Disfuncional de uma Infância, publicado em 2014, concorda com isso. Ele aponta que, às vezes, um pai é tão bondoso que não tem autoridade, algo que também é prejudicial para os filhos. Ainda assim, diz ele, "é importante entender que todos os pais cometem erros e isso não os torna tóxicos".

Dar amor e formação

O que então torna uma criação pouco saudável?

O autor destaca que os pais têm duas funções principais: “Dar amor aos filhos e formá-los para a vida”.

Alguns pais geram prejuízos porque deixam de fazer o primeiro. Outros porque falham no segundo.

Curiosamente, parece haver uma diferença de geração entre esses dois grupos.

Os pais dos chamados Baby Boomers e Geração X costumavam ter mais problemas na hora de dar carinho e apoio emocional aos filhos.

Saraco conta que vários de seus pacientes, com mais de 40 anos, apresentam problemas de baixa autoestima e sensação de insuficiência que geram conflitos no relacionamento, algo que ela atribui a uma educação deficiente do ponto de vista afetivo.

Por outro lado, nas últimas décadas, o dano muitas vezes é causado por pais amorosos que não sabem impor limites e superprotegem seus filhos, criando "filhos tiranos" que não sabem administrar suas emoções e sofrem porque ficam frustrados ao menor obstáculo.

A seguir, mostramos algumas das características dos pais tóxicos, segundo especialistas.

1. Abusivos

Sem dúvida, os pais que abusam sexualmente e são violentos com os filhos são os que afetam mais profundamente.

Mas não é necessário que um pai abuse fisicamente de uma criança para causar danos muito difíceis de curar, alertam os especialistas.

Agressões verbais e emocionais também são prejudiciais, apontam. Elas vão desde desqualificar uma criança ("não vai dar certo para você", "deixa para lá, é melhor que eu faça isso") a "insultá-la com palavras que ferem sua integridade, como chamá-la de 'idiota', dizendo que ninguém vai amá-la ou que se arrepende de tê-la tido."

Canales diz que “O risco é que tudo isso se torne uma voz interna”. E Saraco considera que, às vezes, "é mais fácil curar uma infância com agressões do que uma com abusos psicológicos".

"Há pais que se tornam violentos quando bebem. Nesses casos, a vítima pode entender que o pai bate nela quando ele se descontrola e que ele tem o problema. Por outro lado, se ele crescer ouvindo humilhação, ela a assimila como algo próprio".

2. Manipuladores

Outra característica de um pai ou mãe tóxico é a manipulação, que Canales chama de "abuso emocional".

“O eixo dessa forma de abuso tem a ver com a culpa. O adulto se faz de vítima na frente da criança para chantageá-la e conseguir o que quer”, descreve.

Saraco observa que esse recurso é mais visto em mães tóxicas.

“Acontece principalmente com filhas que moram com a mãe. A mãe não quer que formem casal para não saírem de casa, então ela começa com comentários e observações negativas sobre o casal, ou interferências que buscam separá-los", diz. "Isso faz com que a filha viva a relação com culpa."

3. Controladores

Esta é uma característica compartilhada por pais tóxicos de diferentes gerações. Mas quando antes os pais faziam restrições a seus filhos para conseguir sua submissão, hoje o fazem com a intenção de protegê-los.

“Antes, pais tóxicos se impunham, com limites muito agressivos, em vez de acompanhar a autonomia dos filhos”, diz Saraco.

Exemplos típicos são os pais que forçaram seus filhos a seguir determinadas carreiras ou seguir certas tradições familiares.

“O efeito no filho é que ele não consegue tomar decisões. Isso é muito visto em meninos que começaram a carreira, porque a desobediência aos pais lhes causava muita angústia, e depois de alguns anos eles abandonavam”, diz a psicóloga.

Hoje, a toxicidade envolve superproteger os filhos, querendo evitar qualquer sofrimento ou frustração, segundo os especialistas.

“A superproteção também é um abuso, porque a criança superprotegida aprende que não pode enfrentar a vida sozinha”, explica Canales.
"Parte do aprendizado de todo mundo é por meio do erro. E o erro gera frustração. Você tem que ensinar a tolerar a frustração, senão seu filho não vai conseguir se desenvolver na vida cotidiana", diz.

4. Negligentes

Outra característica dos pais tóxicos modernos é que "são muito permissivos e têm medo de impor limites aos filhos", o que os torna negligentes, segundo Canales, pois "negligenciam as necessidades físicas, emocionais, sociais e acadêmicas dos filhos".

Foto: Divulgação

Se o pai negligente de antigamente era o ausente, ou aquele que não dava atenção ao filho, hoje é quem "deixa ele comer o que quiser, faltar à escola, não fazer o dever de casa e desrespeitar os outros", exemplifica.

"Ao serem negligentes, eles dão às crianças um poder com o qual uma criança não consegue lidar de forma saudável. Os pequenos se tornam os adultos no sistema familiar", alerta.

Nesse tipo de educação, todo mundo sofre, acrescenta o psicólogo.

“A criança cresce sem conseguir se encaixar em uma escola, em uma universidade, em um mundo de trabalho, em uma sociedade em que não pode fazer o que quiser”, diz.

Os pais se sentem “aprisionados” pelas birras do filho.

E até a sociedade sofre, pois “está se formando uma geração de tiranos, que não respeitam a autoridade, não têm capacidade de se frustrar e, sendo crianças muito egocêntricas, têm pouquíssima empatia e capacidade de ceder ao problema dos outros e ver o bem comum", diz o psicólogo.

Como lidar com pais tóxicos

Se você cresceu com pais permissivos e superprotetores, o que você precisa fazer é “tomar a decisão de sair dessa superproteção”, diz Saraco. No entanto, ela esclarece que isso é algo que só pode ser feito quando se é adulto.

“Não se pode pedir a uma criança que saia do vínculo tóxico protetor”, adverte.

Nesse caso, há várias dicas práticas para lidar com pais abusivos, controladores e manipuladores.

"Primeiro, é importante que você perca a ilusão de que vai conseguir mudá-los."

"Também não tente argumentar com eles, nem entender como eles pensam, porque eles têm outra forma de ver as coisas, e você deve evitar entrar em discussões que não levam a lugar nenhum", diz. "Você tem que tentar sair desse lugar de tentar agradá-los e gostar deles o tempo todo, que é o que eles querem ou fazem a criança sentir."

"E é fundamental que você aprenda a estabelecer limites emocionais e, se necessário, até físicos", completa.

No entanto, o principal trabalho é consigo mesmo, afirmam os dois especialistas.

"Devemos tentar fortalecer nossa autoestima e segurança para não ceder às manipulações e não hesitar naqueles momentos em que as frases desses pais podem nos intimidar ou desestabilizar", diz Saraco.

Já Canales afirma que "o mais importante é desaprender o que te ensinaram a ser amor e reaprender o que é o verdadeiro amor, para estabelecer relações saudáveis".