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Demora para conseguir corrida por aplicativo tem estressado passageiros

Espírito Santo tem cerca de 19 mil motoristas de aplicativos, mas alguns membros da categoria têm escolhido quais corridas aceitar para evitar prejuízos

Foto: Divulgação/ Internet

Alta nos preços dos combustíveis, da mão de obra e a insegurança têm levado os motoristas de aplicativos a repensarem quais corridas irão aceitar. A consequência tem sido a demora na localização de veículos e até mesmo o cancelamento frequente de corridas, o que tem estressado os passageiros. 

Moradora de Vitória, Karen Manzoli conta que no início do mês chegou atrasada em um compromisso devido aos problemas enfrentados ao tentar fazer o pedido de uma corrida. 

“Passei uns 20 minutos na luta para conseguir alguém. Quando apareceu, a corrida não iniciava. Em um dos pedidos, eu tive que cancelar porque o motorista falou que se não ele teria que pagar uma taxa. Eu estava estressada e atrasada. Cancelei e pedi a corrida por outro aplicativo”, disse.

De acordo com o presidente da Associação dos Motoristas de Aplicativos do Espírito Santo (Amapes), Luiz Fernando Müller, os trabalhadores da área têm escolhido as corridas para evitar prejuízos. 

“Com o aumento de combustível está praticamente inviável. O motorista para sair de casa está pensando duas vezes. Agora eles começaram a escolher qual corrida fazer. Ele não pode fazer corridas que terá prejuízo”, explicou.

Política de repasse dos valores 

Além do aumento dos combustíveis, a forma como as empresas de aplicativos de transporte fazem a cobrança das tarifas aos passageiros e repassam aos motoristas também tem gerado incômodo.

O presidente da Amapes explicou que, atualmente, dos 100% do valor da corrida, as empresas podem ficar com 50% a 60% do valor. “Não há diferença se a corrida é longa ou não. Geralmente as corridas longas não interessam, pois o desconto é maior. Eles pegam quase 60% do valor”, destacou. 

Na prática, uma viagem saindo do bairro de Itaparica, em Vila Velha, para Jardim Camburi, em Vitória, costuma ficar entre R$ 16 e R$ 20. As empresas de transporte como a Uber ou a 99Pop podem ficar com aproximadamente R$ 12, se calculados os 60%. 

De acordo com Luiz, as viagens que ficam entre R$ 12 e R$ 15 têm compensado mais para os motoristas.

Como funciona o valor das corridas? 

De acordo com Luiz, os valores das corridas são calculados com base na quilometragem percorrida, no tempo do motorista dentro do veículos e por uma taxa de saída. 

Na 99, por exemplo, o valor repassado aos motoristas parceiros considera a distância percorrida e o tempo de deslocamento. A plataforma afirmou que sempre esteve e permanece aberta ao diálogo com os condutores parceiros e se preocupa com seus ganhos, e frisou que não houve alteração na taxa praticada na plataforma.

Para oferecer maior eficiência na rotina dos motoristas parceiros e, consequentemente a redução de custos variáveis, a 99 afirmou que ofereceu mais de R$ 2,5 milhões em descontos em uma rede de postos de combustíveis. 

Já a Uber informou que a taxa já foi fixa em 25% do valor da corrida. Em 2018, ela se tornou variável e passou a fazer parte da estratégia da empresa em oferecer descontos para os usuários para a incentivar viagens.

De acordo com a Uber, há uma confusão entre os motoristas parceiros sobre o valor da taxa porque em algumas viagens ela pode aumentar enquanto, em outras, pode diminuir.

Ainda segundo a empresa, para minimizar o conflito, os motoristas recebem toda semana, por e-mail, um compilado sobre os seus ganhos. Nesse e-mail, é possível conferir quanto ele pagou de taxa Uber naquela semana.

Para o representante da categoria, o passageiro acaba pagando mais para as empresas do que para o prestador do serviço, o motorista. “Eles cobram muito mais do passageiro e repassam cada vez menos ao motorista”, frisou Müller.

Menos carros nas ruas

Há no Espírito Santo cerca de 19 mil motoristas de aplicativos. Alguns motoristas têm deixado de sair às ruas ou mesmo de aceitar algumas corridas para evitar prejuízos. Para a população, isso gera a sensação de que há menos carros nas ruas.

De acordo com o presidente da Amapes, para chamar a atenção das empresas, os motoristas têm realizado uma corrente nacional não saindo para trabalhar. Dessa forma, quanto menos carros nas ruas, é maior a dificuldade de encontrar motoristas disponíveis e os preços podem aumentar.

Apesar dos problemas enfrentados, Karen afirma que entende que é uma situação isolada e, por isso, continua usando o serviço.

“Já fiz corridas muito boas com esses aplicativos. Pessoas que me trataram muito bem. Não dá para julgar só por uma experiência, porque afinal de contas, não posso negar que esses serviços são muito úteis para mim”, explicou.