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Família luta para levar para a Argentina paciente que sofreu acidente no ES

Transporte custa cerca de R$ 150 mil, valor que os familiares não podem arcar. Ele está em estado vegetativo, quatro meses após sofrer acidente na Praia da Costa

Foto: Montagem / Folha Vitória

A família do paciente argentino Iván Pérez, internado no Hospital Estadual de Atenção Clínica (HEAC), em Cariacica, desde março, continua lutando para levar o rapaz de volta ao país de origem, após quase quatro meses do acidente que o deixou em estado vegetativo.

Iván, de 28 anos, é artista de rua e trabalhava com malabares e artesanato. Ele estava no Brasil há quatro anos e foi atropelado por um carro na Praia da Costa, em Vila Velha. Ele sofreu traumatismo craniano e deu entrada no hospital de Cariacica, ainda com a identidade desconhecida.

Tratado inicialmente como um "paciente misterioso", Iván só foi reconhecido depois que o irmão, Emmanuel, recebeu um vídeo de pessoas que buscavam identificá-lo. De lá para cá, deu-se início às tentativas de levá-lo de volta a Buenos Aires. 

A irmã do argentino, a administradora Flavia Saracho, se lembra até hoje do momento em que recebeu a notícia de que o irmão foi identificado, mas as cruéis circunstâncias do encontro ainda lhe causam tristeza. 

"A notícia me partiu a alma. Era sexta-feira, meio-dia se não me engano, quando chega um vídeo do meu irmão dizendo: encontrei o Iván. Meu mundo veio abaixo, junto ao de toda a minha família", contou. 

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Flavia revelou que o traslado do irmão de volta para a Argentina é uma questão de amor familiar, mas também de necessidade econômica, uma vez que a família já não consegue mais lidar com as despesas de tratá-lo no Brasil. 

Segundo ela, ainda que seja muito bem tratado no hospital, chegou o momento de levá-lo de volta para perto da família e dos amigos, para poder se recuperar cercado de afeto. 

"Estamos muito preocupados e angustiados, ainda que saibamos que cuidam bem dele no hospital, precisamos trazê-lo justamente porque não podemos mais custear as despesas no Brasil. Graças a Deus, ele melhora pouco a pouco e isso é muito importante para podermos trazê-lo", disse. 

"E aqui na Argentina ele tem toda a sua família e amigos, poderemos cuidar muito melhor dele. Ele precisa de seus afetos, seus entes queridos, e acima de tudo, de muito amor para superar esta situação", complementou. 

Os custos do traslado

O maior empecilho até o momento para o retorno de Iván a Buenos Aires é justamente financeiro, uma vez que todo o trajeto sairia por 26.900 dólares, ou R$ 127.750, valor este que sobe a cada dia. 

Foto: Reprodução TV Vitória
"Para lidar com os custos de um voo sanitário, precisaríamos ser milionários", afirmou Flavia, que conta ainda que toda a ajuda do Consulado Argentino se limitou a auxílios burocráticos. 

Segundo ela, quem lida com os trâmites para o sinal verde ao voo é o irmão Emmanuel, que chegou ao Brasil em maio para auxiliar Iván em sua recuperação, mas até o momento as negociações foram infrutíferas. 

"A ajuda do consulado foi puramente burocrática, até agora nada mais. Meu irmão está vendo com eles o que podem fazer, mas até sábado, quando esteve no hospital, não havia nada concreto. Eles dizem que não há fundos para cobrir um voo sanitário, mas seguimos insistindo e confiamos que poderemos fazer algo", disse. 

Prefeito de Buenos Aires oferece ajuda para tratamento

Voltar ao país de origem não significa que o tratamento de Iván terá chegado ao fim. Ele será tratado em um hospital da capital Buenos Aires, em que uma outra irmã, Silvia, trabalha.

Além disso, o próprio prefeito de Buenos Aires ofereceu ajuda à família, para tratar Iván em centros de recuperação totalmente especializados, mas tudo isso depende da resolução das questões com o traslado, que Flavia espera que sejam resolvidos nos próximos dias. 

Foto: Reprodução TV Vitória

Por fim, após o tratamento, o lar definitivo de Iván será na casa de Flavia, que afirma já conversar com a família sobre a situação do rapaz. 

"Quando tiver alta definitiva, ele vai viver comigo. Tenho várias coisas a resolver com a minha família sobre as acomodações para ele, isso é o mais importante logo após o traslado". 

Flavia também garante que os amigos serão de grande ajuda para a família e a recuperação de Iván, e que estarão a seu lado em cada passo de seu tratamento. "Os amigos e a família, mais do que tudo, são indispensáveis para que Iván se recupere. É essencial que os ajudemos e acredito que vai ser assim", afirmou. 

No Brasil, quem quiser ajudar nos custos do tratamento do rapaz pode entrar em contato com a própria Flavia por meio do email

De quem é a responsabilidade pela transferência? 

Em entrevista à TV Vitória, a doutora em Bioética e Direito Constitucional, Elda Bussinger, a responsabilidade pelos custos e pelos transportes do paciente recaem sobre o governo argentino.

"O estado brasileiro não tem responsabilidade por essa transferência, essa responsabilidade é dos familiares ou do governo argentino. Quando não há um acordo, e o Brasil tem apenas três acordos, com Portugal, Cabo Verde. Fora isso, a responsabilidade é do país de origem", explicou.

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Ainda segundo a especialista, o governo brasileiro pode entrar em contato com o consulado argentino para que a transferência seja providenciada. "A embaixada argentina no Brasil deve ser acionada para que possa providenciar a transferência para o país de origem", disse.

Procurado pela reportagem o Ministério das Relações Exteriores também afirmou que a responsabilidade pela transferência do paciente é do governo argentino e que teria poder somente para auxiliar brasileiros em território estrangeiro, e não o contrário.

O consulado argentino foi procurado para comentar a situação, mas até o momento não retornou o contato. A matéria será atualizada quando houver resposta. 

O que diz a Sesa 

A Secretaria de Estado da Saúde do Espírito Santo (Sesa) informou que o paciente continua recebendo todo o tratamento necessário para seu quadro clínico e que as questões sobre o traslado são repassadas exclusivas à família. 

Já o Hospital Estadual de Atenção Clínica (HEAC) relatou que está em contato com o consulado argentino para tratar sobre o traslado do paciente e assim como a Sesa, repassa as informações diretamente à família. 

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