Acusado de matar ex-governador Gerson Camata é condenado a 28 anos de prisão
Marcos Venício Moreira Andrade foi condenado por homicídio duplamente qualificado e porte ilegal de arma
O economista Marcos Venício Moreira Andrade, assassino confesso do ex-governador do Espírito Santo, Gerson Camata, foi condenado a 28 anos de prisão, por homicídio duplamente qualificado e porte ilegal de arma.
Também foi determinado o pagamento de uma indenização no valor de R$ 200 mil para a família da vítima, uma vez que o filho mais novo do casal era adolescente, na época do crime, e ficou traumatizado com a perda do pai.
A sentença foi proferida por volta das 16h20 desta quarta-feira (04), no Fórum Criminal de Vitória, onde foi realizado o júri popular sobre o caso. A defesa de Marcos Venício informou que vai recorrer da decisão.
Gerson Camata foi assassinado com um tiro no pescoço, no dia 26 de dezembro de 2018, aos 77 anos, na Praia do Canto, em Vitória. Marcos Venicio, que já foi assessor de Camata, foi preso no mesmo dia e confessou o crime.
Em julho de 2019, a Justiça decidiu que Marcos Venicio, denunciado pelo Ministério Público do Espírito Santo (MPES) por homicídio duplamente qualificado, por motivo torpe e mediante recurso que dificultou a defesa da vítima, fosse submetido a júri popular.
Marcos Venício é economista e era o responsável pelas finanças e pelas campanhas políticas de Camata entre os anos de 1986 e 2005. A linha de investigação do Ministério Público aponta que o motivo do crime foi financeiro.
O ex-governador moveu um processo contra o acusado por calúnia e difamação, depois que o ex-assessor foi a público apontar possíveis irregularidades no governo de Camata. Eles tinham uma briga desde então e o processo teria motivado o crime.
Como foi o julgamento do caso Camata
O julgamento teve início nesta terça-feira (03). No primeiro dia, todas as sete testemunhas de acusação e as quatro de defesa foram ouvidas. Inicialmente, seriam cinco de defesa, mas uma delas foi dispensada.
O réu confesso Marcos Venício Moreira Andrade foi o último a prestar depoimento. Apesar de confessar o crime, o acusado negou que teria o objetivo de matar o político.
Durante o depoimento, na noite de terça, o réu disse que tentou se aproximar de Camata por diversas vezes para explicar as denúncias que foram feitas contra ele, mas que sempre era recebido com agressividade pelo ex-governador.
No dia do crime, de acordo com o acusado, ele teria encontrado uma oportunidade de se aproximar de Gerson.
Sobre o porte da arma, Marcos Venício afirmou que foi uma coincidência estar com ela e que ele estaria levando a arma para ser regularizada na Polícia Federal.
Já o segundo dia de júri teve início às 10 horas, com os debates entre acusação e defesa. Conforme a legislação, o tempo destinado foi de uma hora e meia para cada um.
Pouco antes das 10 horas, a viúva do ex-governador, Rita Camata, chegou ao Fórum de Vitória para acompanhar o segundo dia de julgamento.
No início da tarde, foi feito um intervalo para o almoço e, na volta, estavam previstas a réplica e a tréplica entre as partes. No entanto, defesa e acusação decidiram encerrar os debates.
Em seguida, houve a reunião entre os jurados, promotor de Justiça e advogado de defesa em uma sala secreta, para que fosse feita a votação. Logo depois, a sentença foi lida pelo juiz para todos os presentes.
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Quem foram as testemunhas do julgamento:
Acusação:
Rita Camata: esposa de Gerson Camata e ex-deputada federal prestou um dos depoimentos mais emocionantes do julgamento. Disse que o réu era de se sentar na mesa com a família e que jamais poderia imaginar algo do tipo. Rita lembrou que Camata é um dos criadores do estatuto do desarmamento e morreu por causa do descumprimento.
Miguel Dalarmelina: primeira testemunha a ser ouvida no julgamento. Miguel disse que era amigo do ex-governador Gerson Camata há 52 anos. Ele também conhecia o réu há 40 anos e afirmou que em duas ocasiões o Venício ameaçou matar o ex-governador.
Sebastião Pelaes: foi a segunda testemunha. Sebastião é amigo do réu e da vítima. Ele afirmou em depoimento que ouviu Marcos dizer, inúmeras vezes, que estava descontente com Camata e que "cometeria uma besteira".
Cassius Valentim: delegado da Polícia Federal e terceira testemunha do período da manhã. Além do homicídio, o acusado vai ser julgado pelo porte ilegal de arma. O delegado explicou que a arma usada no crime era registrada, mas o que registro estava vencido desde 2013. De acordo com a testemunha, Marcos Venício não tinha porte de arma e, por isso, não poderia transitar armado.
Benedito Voss Neto: dono da loja em que o réu deixou a arma. Ele disse em depoimento que Marcos Venício pediu água e tomou um remédio.
Fabrizo Cancellieri Sathler: é o dono da banca onde o crime ocorreu. Ele afirmou não ter ouvido os disparos, mas ouviu parte do diálogo em que Camata manda o réu procurar o advogado dele. O réu, Marcos Venício, responde que não seria justo e dispara.
Carlos Mariano Ayres: ouviu por várias vezes que Marcos mataria Gerson Camata. Ayres esteve próximo de Camata no dia do crime e presenciou o momento dos disparos.
Defesa:
Clóvis Menescau: disse em depoimento que tomava café todos os dias com o réu, no Centro da Praia, na Praia do Canto. Ele afirmou que conheceu Venício somente após o rompimento com Camata. A testemunha disse que o ex-governador xingava o réu quando o encontrava e que estava atrapalhando Marcos a conseguir emprego.
João Nunes: afirmou que nunca viu o Marcos portando uma arma e que não sabia que ele a possuía. Segundo Nunes, a vida do réu era cuidar de Gerson Camata. Disse ainda que com o rompimento, o réu teria ficado com uma mágoa muito grande.
Antônio Carlos Franco: conheceu Camata em um acidente de trânsito nos anos 70. Durante o depoimento, reforçou que o ex-governador foi cordial e assumiu todos os prejuízos. Franco ainda disse que tomava café com o réu e que ele sempre foi prestativo.
Réu era assessor de Camata
1986 a 2005
Marcos Venício Moreira Andrade ocupava o cargo de assessor de Gerson Camata, sendo o responsável pelas finanças e pelas campanhas eleitorais do então governador.
2009
O ex-assessor vai a público denunciar supostas irregularidades durante o período em que Gerson Camata esteve à frente do Governo.
O ex-governador move uma ação contra o ex-assessor por calúnia e difamação no caso da acusação sobre supostas irregularidades durante a gestão.
2016
A Justiça entende que a acusação feita pelo ex-assessor não continha provas suficientes e dá ganho de causa para Camata.
Marcos foi condenado a pagar uma indenização de R¨$ 50 mil a Gerson Camata.
Andrade recorre da decisão da Justiça e perde em segunda instância, mas consegue reduzir a indenização para R$ 20 mil.
2018
Com o passar dos anos e com os juros cobrados, o valor da multa alcançou a quantia de R$ 60 mil.
A Justiça bloqueou as contas de Marcos Vinícius para o pagamento da indenização.