JULGAMENTO DO CASO MILENA GOTTARDI

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'Conseguimos aquilo que queríamos', diz mãe de Milena Gottardi

Na saída do Fórum de Vitória, Zilca Gottardi, mãe da médica, falou sobre a condenação dos seis acusados de envolvimento na morte da filha

Foto: Reprodução TV Vitória

Chegou ao fim, após mais de uma semana, o julgamento do caso Milena Gottardi, com a condenação dos seis acusados de envolvimento no assassinato da médica, ocorrido em 14 de setembro de 2017. 

A sentença do júri foi lida na noite de segunda-feira (30) e proferida pelo juiz Marcos Pereira Sanches, titular da 1ª Vara Criminal de Vitória. 

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Acompanhada do filho, Douglas Gottardi, a mãe de Milena, dona Zilca Gottardi, entrou no salão do júri por volta das 21h20, para ouvir a sentença do juiz. 

Foto: Marcelo Pereira / Folha Vitória

Embora a dor da perda de Milena seja irreparável, familiares e amigos se emocionaram e respiraram aliviados. Em conversa com a imprensa na saída do Fórum de Vitória, a mãe da médica falou sobre a decisão.  

"Nós conseguimos aquilo que queríamos: pena máxima, todo mundo muito envolvido, sofrendo e nos ajudaram a vencer. Jesus estava com a gente. Uma equipe maravilhosa que, unida, conseguiu chegar a esse final. Errou, tem que ter justiça", afirmou dona Zilca. 

"Como eu perdi a minha filha, as outras mães também sofrem, então tem que ser feita a justiça. Quantas estão com o coração como o meu? Partido, cortado... Eu fico com elas também", acrescentou. 

A médica Lívia Maia, amiga de Milena desde a faculdade, foi testemunha no processo e comemorou a sentença, destacando que a pena foi justa para todos os réus, principalmente para os mandantes do assassinato. 

"O julgamento foi muito justo. A acusação do dr. Renan, junto com a promotoria, provou por A mais B que todos os réus foram culpados. Eles realmente estavam com provas de que eles estavam envolvidos no crime. Não teve o que questionar. A pena foi justa para todos os réus, principalmente para os mandantes", afirmou. 

"Não é um sentimento de felicidade. Felicidade seria se ela estivesse aqui. Mas é um sentimento de justiça. O que a gente esperava, aconteceu. A gente segue hoje sem medo, sabendo que as filhas vão estar seguras com a tia Zilca e o Douglas, irmão dela. Então a paz que a Milena estava buscando para as filhas, ela vai ter hoje com a família dela", destacou a amiga. 

Pena de cada réu acusado de envolvimento no assassinato de Milena Gottardi

Todos os seis réus acusados de envolvimento no assassinato da médica Milena Gottardi foram condenados na noite de segunda-feira (30). A sentença foi lida pelo juiz Marcos Pereira Sanches, titular da 1ª Vara Criminal de Vitória. A pena foi estabelecida após o júri popular considerar o réus culpados.

Foto: Arte/Folha Vitória

Executor confesso do assassinato de Milena, Dionathas Alves Vieira foi condenado, inicialmente, a 28 anos e oito meses de prisão. No entanto, no entendimento do juiz, Dionathas confessou o crime e colaborou com a Justiça para a elucidação do crime. Por causa disso, sua pena foi reduzida em dez anos, passando para 18 anos e oito meses.

Foto: Arte/Folha Vitória

Bruno Broetto, acusado de ter fornecido a moto para Dionathas cometer o crime, teve a culpabilidade reconhecida e foi condenado a 10 anos e cinco dias de reclusão. Segundo o juiz, o acusado sabia que a moto seria utilizada para um crime e entregou uma motocicleta irregular ao outro réu.

Arte/Folha Vitória
Arte/Folha Vitória

Valcir da Silva Dias e Hermenegildo Palauro Filho, acusados de intermediar o crime, foram condenado a 26 anos e 10 meses de reclusão, cada um. Segundo o magistrado, Valcir foi o principal intermediário e participou de todas as tratativas do crime, além de ter contato com o executor do crime antes, durante e depois. Por fraude processual, foi condenado também a 10 meses de reclusão.

Já os dois denunciados como mandantes do assassinato de Milena — o ex-marido da vítima, Hilário Frasson, e o pai dele, Esperidião Frasson — foram condenados a 30 anos de prisão, cada um.

Arte/Folha Vitória
Arte/Folha Vitória

O magistrado ainda estipulou uma multa de R$ 700 mil de indenização coletiva para a família de Milena Gottardi. A multa vale para todos os seis réus julgados e condenados.

Relembre o assassinato de Milena Gottardi

O assassinato de Milena Gottardi aconteceu na noite do dia 14 de setembro de 2017 e ganhou grande repercussão no Espírito Santo. A vítima atuava como pediatra oncológica no Hospital das Clínicas, em Maruípe, Vitória.

Quando saía de um plantão, acompanhada de uma amiga, a médica foi abordada, no estacionamento do hospital, por um homem armado, que chegou a anunciar um assalto.

Foto: TV Vitória

Milena e a amiga chegaram a entregar os pertences ao suposto assaltante. Quando elas se dirigiam ao carro, o criminoso atirou em direção à pediatra, atingindo ela na cabeça e na perna, e fugindo posteriormente. A médica foi socorrida e internada em um hospital, mas morreu no dia seguinte.

A Polícia Civil agiu rápido e, dois dias após a médica ser baleada, dois suspeitos de envolvimento no crime foram detidos: Dionathas Alves Vieira, acusado de ser o executor do crime, e Bruno Rodrigues Broetto, apontado pela polícia como o responsável por conseguir a moto utilizada por Dionathas no dia do assassinato.

A prisão dos suspeitos aconteceu praticamente ao mesmo tempo em que o corpo de Milena era sepultado em Fundão, município onde a médica nasceu e foi criada, e onde grande parte de sua família ainda mora.

Com a prisão da dupla, a polícia começou a desvendar o crime e provar que Milena não havia sido vítima de um latrocínio — como fez parecer o autor dos disparos — mas sim de um crime de mando. Faltava, no entanto, chegar aos mentores do assassinato.

Para conseguir as provas necessárias, a Polícia Civil conseguiu, junto à Justiça, que as investigações corressem sob sigilo. Isso porque o principal suspeito de encomendar a morte de Milena era o ex-marido dela, o então policial civil Hilário Antônio Fiorot Frasson, que atuava como assessor técnico do gabinete do Chefe da PC, Guilherme Daré.

A ideia da Secretaria de Estado da Justiça (Sesp) era justamente impedir que Hilário tivesse acesso às provas obtidas pela Delegacia Especializada em Homicídios Contra a Mulher (DHPM), que conduzia o inquérito.

A prisão de Hilário aconteceu no dia 21 de setembro, exatamente uma semana depois do assassinato de Milena. Ele foi preso na Chefatura da Polícia Civil e encaminhado para um anexo da Delegacia de Novo México, em Vila Velha, onde ficam os policiais civis que são presos.

Leia também: Acusado de mandar matar Milena Gottardi, Hilário Frasson é expulso da Polícia Civil

Mais cedo, no mesmo dia, a polícia havia prendido o pai dele, Esperidião Carlos Frasson, apontado como o outro mandante do crime, e Valcir da Silva Dias, acusado de ser um dos intermediadores do assassinato.

Segundo a polícia, o outro intermediador foi Hermenegildo Palauro Filho, o Judinho, que foi preso no dia 25 de setembro.

Todos os seis suspeitos de envolvimento no assassinato de Milena Gottardi foram autuados pela Polícia Civil, que concluiu o inquérito referente ao crime no dia 18 de outubro de 2017. O inquérito foi encaminhado ao Ministério Público Estadual (MPES), que, no dia 27 de outubro, denunciou os seis indiciados à Justiça.

A denúncia foi aceita no dia 1º de novembro daquele ano pelo juiz da 1ª Vara Criminal de Vitória, Marcos Pereira Sanches, que decretou a prisão preventiva dos seis acusados — que até então cumpriam prisão temporária.

Hilário, Esperidião, Valcir, Hermenegildo e Dionathas foram denunciados pelos crimes de homicídio qualificado, feminicídio e fraude processual. Já Bruno responde pelo crime de feminicídio.

Entenda a participação de cada réu no caso

As investigações concluíram que Hilário e Esperidião encomendaram o assassinato de Milena Gottardi por não aceitarem o fim do casamento entre ela e o então policial civil. Para isso, eles teriam contratado Valcir e Hermenegildo para dar suporte ao crime e encontrar um executor.

Ainda segundo a polícia, Dionathas Alves foi o escolhido para executar o "serviço" — como os envolvidos se referiam ao assassinato da médica. Para isso, ele receberia uma recompensa de R$ 2 mil.

Foto: Arte/ Júlio Lopes

Dionathas teria usado uma moto, repassada a ele pelo cunhado Bruno, para seguir de Fundão até Vitória e matar Milena.

O veículo foi apreendido em uma fazenda em Fundão, no mesmo dia em que Dionathas e Bruno foram presos. Na época, o executor confesso do assassinato disse à polícia que o crime foi planejado durante cerca de 25 dias.

O inquérito, no entanto, aponta que o planejamento do homicídio começou pelo menos dois meses antes do crime. Segundo as investigações, os seis acusados de envolvimento na morte de Milena Gottardi trocaram 1.230 ligações e formaram uma rede de comunicação antes e após o crime.

Depoimentos de quatro suspeitos de envolvimento do crime detalharam como foi o planejamento do assassinato da médica.