Hilário Frasson é condenado a 30 anos de prisão pelo assassinato de Milena Gottardi
A sentença foi proferida na noite desta segunda-feira pelo juiz Marcos Pereira Sanches, que presidiu o júri dos seis acusados de envolvimento no crime
O ex-policial civil Hilário Frasson foi condenado a 30 anos de prisão pelo assassinato da ex-esposa, a médica Milena Gottardi, ocorrido em 14 de setembro de 2017. A sentença foi proferida na noite desta segunda-feira (30) pelo juiz Marcos Pereira Sanches, da 1ª Vara Criminal de Vitória, que presidiu o júri dos seis acusados de envolvimento no crime.
Hilário foi denunciado pelo Ministério Público do Espírito Santo (MPES) como um dos mandantes do assassinato de Milena Gottardi. Ela foi morta a tiros no estacionamento do Hospital das Clínicas, em Vitória, no momento em que seguia para o carro para voltar para casa.
De acordo com o juiz, o ex-policial civil foi o principal responsável pelo crime. Além disso, segundo o magistrado, era um agente da lei e, dessa forma, deveria combater o crime e não praticá-lo.
Marcos Pereira Sanches destacou ainda que o acusado era influente entre pessoas poderosas e fazia "negociações espúrias". Disse ainda que Hilário possui "personalidade desajustada, sem compaixão com a vida da sua própria esposa e mãe de suas próprias filhas".
"São consequências incalculáveis para as filhas que ficaram sem mãe, além da dor intensa da própria mãe da vítima. Acrescento também a conduta do acusado: além de deixar as filhas sem mãe, destruiu nelas a sua própria figura de pai", completou o magistrado.
Além disso, o juiz determinou a perda do cargo público para Hilário — ele já havia sido expulso da Polícia Civil no ano passado. Também decidiu pela perda definitiva da guarda das filhas, que atualmente estão com o irmão de Milena, Douglas Gottardi Tonini.
O magistrado ainda estipulou uma multa de R$ 700 mil de indenização coletiva para a família de Milena Gottardi. A multa vale para todos os seis réus julgados e condenados.
Acusado foi preso uma semana depois do crime
Hilário está preso desde o dia 21 de setembro de 2017, exatamente uma semana depois do assassinato de Milena. O ex-policial foi detido na Chefatura da Polícia Civil, em Santa Luíza, na capital.
Na época, ele atuava como assessor técnico do gabinete do Chefe da PCES, Guilherme Daré. Com a suspeita de participação no assassinato da ex-esposa, a Polícia Civil abriu um procedimento administrativo disciplinar (PAD) contra Hilário, que resultou na expulsão dele da corporação.
O ex-policial civil está preso na Penitenciária de Segurança Média I, em Viana.
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Em interrogatório, Hilário nega participação no assassinato de Milena Gottardi
Durante o julgamento sobre o caso Milena Gottardi, Hilário foi o último réu a ser ouvido no salão do júri. Ele foi interrogado na noite do último sábado (28).
Na ocasião, o ex-marido da médica negou qualquer tipo de participação no caso e contou um pouco sobre como estava a situação entre ele e Milena.
"Não mandei, não mandaria. Estávamos separados nessa época. Já tinha saído de casa para que ela ficasse com as crianças. Fiquei surpreso por ela ter entrado na justiça e saído de casa daquela forma."
Quando questionado sobre a postura agressiva e obsessiva por Milena, Hilário disse que nunca ultrapassou nenhum limite e que não monitorava a vida da ex-mulher.
"Sempre fomos amigos, sinceros. Sempre buscamos viver em família, um ajudar ao outro nos projetos que a gente tinha na vida. Sempre nos respeitamos. Tivemos alguns desentendimentos, mas, com toda sinceridade, nada que pudesse ultrapassar os limites de um casal. Sempre mantivemos um contato diário, ou por telefone ou presencialmente. Quando ia buscar ou levar nossas filhas na escola ou por outras coisas. Sempre nos falamos, sempre", declarou.
Hilário também admitiu que tinha instalado um rastreador no carro de Milena, mas garantiu que isso foi feito com o consentimento de ambos. Ele negou ter participado de reuniões com Dionathas e Valcir.
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Sobre o dia do crime, Hilário deu detalhes sobre a ligação que fez na manhã do dia 14 de setembro de 2017 a Milena e sobre como ficou sabendo da morte da médica.
"Liguei para Milena às 10h30 porque sabia que era um horário que ela poderia atender. Eu disse na ligação: 'estou te ligando porque me deu mais uma vez vontade de falar com você. Vamos voltar, vamos continuar tentando. Eu te amo'. A gente se tratava com amor. E ela disse: 'ô amor, você sabe que não dá. Não vamos conversar sobre isso por telefone não'. Enquanto esperava as meninas, liguei para Milena e depois liguei para o meu pai. Liguei para avisar que não iria na casa dele levar minhas roupas e que não dormiria lá", contou.
Hilário continuou: "Eu coloquei elas no carro e primeiro fui em uma sorveteria por perto. Descemos e tomamos sorvete. Inclusive, compramos um para levar para Milena. Passeamos um pouco pela Praia do Canto, na intenção de comprar uma blusa para a Milena. Eu sempre amei minha esposa, nunca desisti dela e da nossa família", disse o acusado.
"E quando seguia para casa, eu recebi a ligação de um amigo em comum, um médico me perguntando onde eu estava. Falei que estava chegando em casa e ele me disse que Milena havia sido assaltada e levado quatro tiros. Eu falei: 'não fala isso'! A partir desse momento, indo para casa, passei a ligar para o celular da Milena e ela realmente não atendia", completou Hilário.
Relembre o assassinato de Milena Gottardi
O assassinato de Milena Gottardi aconteceu na noite do dia 14 de setembro de 2017 e ganhou grande repercussão no Espírito Santo. A vítima atuava como pediatra oncológica no Hospital das Clínicas, em Maruípe, Vitória.
Quando saía de um plantão, acompanhada de uma amiga, a médica foi abordada, no estacionamento do hospital, por um homem armado, que chegou a anunciar um assalto.
Milena e a amiga chegaram a entregar os pertences ao suposto assaltante. Quando elas se dirigiam ao carro, o criminoso atirou em direção à pediatra, atingindo ela na cabeça e na perna, e fugindo posteriormente. A médica foi socorrida e internada em um hospital, mas morreu no dia seguinte.
A Polícia Civil agiu rápido e, dois dias após a médica ser baleada, dois suspeitos de envolvimento no crime foram detidos: Dionathas Alves Vieira, acusado de ser o executor do crime, e Bruno Rodrigues Broetto, apontado pela polícia como o responsável por conseguir a moto utilizada por Dionathas no dia do assassinato.
A prisão dos suspeitos aconteceu praticamente ao mesmo tempo em que o corpo de Milena era sepultado em Fundão, município onde a médica nasceu e foi criada, e onde grande parte de sua família ainda mora.
Com a prisão da dupla, a polícia começou a desvendar o crime e provar que Milena não havia sido vítima de um latrocínio — como fez parecer o autor dos disparos — mas sim de um crime de mando. Faltava, no entanto, chegar aos mentores do assassinato.
Para conseguir as provas necessárias, a Polícia Civil conseguiu, junto à Justiça, que as investigações corressem sob sigilo. Isso porque o principal suspeito de encomendar a morte de Milena era o ex-marido dela, o então policial civil Hilário Antônio Fiorot Frasson, que atuava como assessor técnico do gabinete do Chefe da PC, Guilherme Daré.
A ideia da Secretaria de Estado da Justiça (Sesp) era justamente impedir que Hilário tivesse acesso às provas obtidas pela Delegacia Especializada em Homicídios Contra a Mulher (DHPM), que conduzia o inquérito.
A prisão de Hilário aconteceu no dia 21 de setembro, exatamente uma semana depois do assassinato de Milena. Ele foi preso na Chefatura da Polícia Civil e encaminhado para um anexo da Delegacia de Novo México, em Vila Velha, onde ficam os policiais civis que são presos.
Mais cedo, no mesmo dia, a polícia havia prendido o pai dele, Esperidião Carlos Frasson, apontado como o outro mandante do crime, e Valcir da Silva Dias, acusado de ser um dos intermediadores do assassinato.
Segundo a polícia, o outro intermediador foi Hermenegildo Palauro Filho, o Judinho, que foi preso no dia 25 de setembro.
Todos os seis suspeitos de envolvimento no assassinato de Milena Gottardi foram autuados pela Polícia Civil, que concluiu o inquérito referente ao crime no dia 18 de outubro de 2017. O inquérito foi encaminhado ao Ministério Público Estadual (MPES), que, no dia 27 de outubro, denunciou os seis indiciados à Justiça.
A denúncia foi aceita no dia 1º de novembro daquele ano pelo juiz da 1ª Vara Criminal de Vitória, Marcos Pereira Sanches, que decretou a prisão preventiva dos seis acusados — que até então cumpriam prisão temporária.
Hilário, Esperidião, Valcir, Hermenegildo e Dionathas foram denunciados pelos crimes de homicídio qualificado, feminicídio e fraude processual. Já Bruno responde pelo crime de feminicídio.
Entenda a participação de cada réu no caso
As investigações concluíram que Hilário e Esperidião encomendaram o assassinato de Milena Gottardi por não aceitarem o fim do casamento entre ela e o então policial civil. Para isso, eles teriam contratado Valcir e Hermenegildo para dar suporte ao crime e encontrar um executor.
Ainda segundo a polícia, Dionathas Alves foi o escolhido para executar o "serviço" — como os envolvidos se referiam ao assassinato da médica. Para isso, ele receberia uma recompensa de R$ 2 mil.
Dionathas teria usado uma moto, repassada a ele pelo cunhado Bruno, para seguir de Fundão até Vitória e matar Milena.
O veículo foi apreendido em uma fazenda em Fundão, no mesmo dia em que Dionathas e Bruno foram presos. Na época, o executor confesso do assassinato disse à polícia que o crime foi planejado durante cerca de 25 dias.
O inquérito, no entanto, aponta que o planejamento do homicídio começou pelo menos dois meses antes do crime. Segundo as investigações, os seis acusados de envolvimento na morte de Milena Gottardi trocaram 1.230 ligações e formaram uma rede de comunicação antes e após o crime.
Depoimentos de quatro suspeitos de envolvimento do crime detalharam como foi o planejamento do assassinato da médica.