JULGAMENTO DO CASO MILENA GOTTARDI

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Saiba qual foi a pena de cada réu acusado de envolvimento no assassinato de Milena Gottardi

Médica foi morta em setembro de 2017, no estacionamento do Hospital das Clínicas, em Vitória, quando saía do plantão; Ministério Público Estadual apontou o ex-marido dela, Hilário Frasson, como um dos mandantes do crime

Marcelo Pereira , Rodrigo Araújo

Redação Folha Vitória
Foto: Iures Wagmaker / Folha Vitória

Todos os seis réus acusados de envolvimento no assassinato da médica Milena Gottardi foram condenados na noite desta segunda-feira (30). A sentença foi lida pelo juiz Marcos Pereira Sanches, titular da 1ª Vara Criminal de Vitória. A pena foi estabelecida após o júri popular considerar o réus culpados.

Executor confesso do assassinato de Milena, Dionathas Alves Vieira foi condenado, inicialmente, a 28 anos e oito meses de prisão. No entanto, no entendimento do juiz, Dionathas confessou o crime e colaborou com a Justiça para a elucidação do crime. Por causa disso, sua pena foi reduzida em dez anos, passando para 18 anos e oito meses.

Bruno Broetto, acusado de ter fornecido a moto para Dionathas cometer o crime, teve a culpabilidade reconhecida e foi condenado a 10 anos e cinco dias de reclusão. Segundo o juiz, o acusado sabia que a moto seria utilizada para um crime e entregou uma motocicleta irregular ao outro réu.

Valcir da Silva Dias e Hermenegildo Palauro Filho, acusados de intermediar o crime, foram condenado a 26 anos e 10 meses de reclusão, cada um. Segundo o magistrado, Valcir foi o principal intermediário e participou de todas as tratativas do crime, além de ter contato com o executor do crime antes, durante e depois. Por fraude processual, foi condenado também a 10 meses de reclusão.

Já os dois denunciados como mandantes do assassinato de Milena — o ex-marido da vítima, Hilário Frasson, e o pai dele, Esperidião Frasson — foram condenados a 30 anos de prisão, cada um.

O magistrado ainda estipulou uma multa de R$ 700 mil de indenização coletiva para a família de Milena Gottardi. A multa vale para todos os seis réus julgados e condenados.

Arte/Folha Vitória
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Hilário foi o principal responsável pelo crime, diz juiz

De acordo com o juiz, Hilário foi o principal responsável pelo crime. Além disso, segundo o magistrado, era um agente da lei — atuava como policial civil na época — e, dessa forma, deveria combater o crime e não praticá-lo.

Marcos Pereira Sanches destacou ainda que o acusado era influente entre pessoas poderosas e fazia "negociações espúrias". Disse ainda que Hilário possui "personalidade desajustada, sem compaixão com a vida da sua própria esposa e mãe de suas próprias filhas".

"São consequências incalculáveis para as filhas que ficaram sem mãe, além da dor intensa da própria mãe da vítima. Acrescento também a conduta do acusado: além de deixar as filhas sem mãe, destruiu nelas a sua própria figura de pai", completou o magistrado.

Além disso, o juiz determinou a perda do cargo público para Hilário — ele já havia sido expulso da Polícia Civil no ano passado. Também decidiu pela perda definitiva da guarda das filhas, que atualmente estão com o irmão de Milena, Douglas Gottardi Tonini.

Já no caso de Esperidião, segundo o magistrado, ficou comprovado que ele participou do crime. Para Sanches, a acusação contra o réu é grave, já que se tratava do sogro da vítima e pai do outro mandante e, dessa forma, poderia demovê-lo da ideia de assassinar a médica. 

"Acobertou o crime e agiu para a sua cruel execução. O acusado é uma pessoa temida na região. Personalidade maldosa, sem compaixão com a sua nora e mãe de suas próprias netas", destacou o magistrado.

Julgamento durou oito dias

O julgamento do caso começou na última segunda-feira (23) e durou oito dias. Nas primeiras sessões, foram ouvidas as testemunhas de acusação e as de defesa, incluindo o delegado que investigou o caso, Janderson Lube, e o irmão de Milena, Douglas Gottardi.

Foto: Reprodução TV Vitória

A partir de sexta-feira (27), os réus começaram a ser interrogados no salão do júri. O último a depor foi Hilário Frasson, que foi interrogado no sábado à noite. Já o domingo (29) e esta segunda foram dedicados aos debates entre defesa e acusação e a apresentação das provas incluídas no processo.

Antes do início dos trabalhos do primeiro dia, o juiz que presidiu o júri, Marcos Pereira Sanches, informou que um dos advogados de defesa pediu o desmembramento do caso, para que os réus fossem julgados em separado. No entanto, o pedido foi negado. Assim, todos eles foram julgados juntos.

O júri foi composto por quatro mulheres e três homens. A definição do corpo de jurados não foi nada tranquila no momento do sorteio.

Dez mulheres foram recusadas pelos advogados de defesa. Houve ainda três recusas de homens. Os promotores do Ministério Público Estadual aceitaram a justificativa de um homem que não quis participar.

Houve ainda duas dispensas, pois uma mulher tinha um familiar envolvido no processo e outra foi dispensada por problemas médicos.

>> Veja todas as reportagens sobre o julgamento do caso

Relembre o assassinato de Milena Gottardi

De acordo com a denúncia do Ministério Público do Espírito Santo (MPES), a médica oncologista pediátrica Milena Gottardi foi baleada na cabeça quando saía do Hospital das Clínicas, no bairro Maruípe, em Vitória, no dia 14 de setembro de 2017. Ela foi socorrida, mas não resistiu aos ferimentos.

Ela morreu aos 38 anos e deixou duas filhas. A ocorrência policial militar foi iniciada para apurar tentativa de assalto. No entanto, as investigações iniciais já apontaram para um crime de mando.

Foram apontados como réus o executor, assassino confesso de Milena, Dionathas Alves Vieira; Bruno Rodrigues Broetto, que teria conscientemente emprestado a moto utilizada para a execução do crime; os que intermediaram o crime: Valcir da Silva Dias e Hermenegildo Palauro Filho, vulgo “Judinho”; além de Esperidião e Hilário Frasson, respectivamente, sogro e marido da médica, acusados de serem os mandantes do crime.

Entenda a participação de cada réu no caso

As investigações concluíram que Hilário e Esperidião encomendaram o assassinato de Milena Gottardi por não aceitarem o fim do casamento entre ela e o então policial civil. Para isso, eles teriam contratado Valcir e Hermenegildo para dar suporte ao crime e encontrar um executor.

Ainda segundo a polícia, Dionathas Alves foi o escolhido para executar o "serviço" — como os envolvidos se referiam ao assassinato da médica. Para isso, ele receberia uma recompensa de R$ 2 mil. 

Foto: Arte/ Júlio Lopes

Dionathas teria usado uma moto, repassada a ele pelo cunhado Bruno, para seguir de Fundão até Vitória e matar Milena.

O veículo foi apreendido em uma fazenda em Fundão, no mesmo dia em que Dionathas e Bruno foram presos. O executor confesso do assassinato disse à polícia que o crime foi planejado durante cerca de 25 dias.

O inquérito, no entanto, aponta que o planejamento do homicídio começou pelo menos dois meses antes do crime. Segundo as investigações, os seis acusados de envolvimento na morte de Milena Gottardi trocaram 1.230 ligações e formaram uma rede de comunicação antes e após o crime.

Depoimentos de quatro suspeitos de envolvimento do crime detalharam como foi o planejamento do assassinato da médica.

De acordo com informações da Secretaria de Estado da Justiça, Hilário Frasson está preso na Penitenciária de Segurança Média I; Esperidião Frasson, no Centro de Detenção Provisória de Viana II; Valcir, no Centro de Detenção Provisória de Vila Velha; Hermenegildo, no Centro de Detenção Provisória da Serra; e Dionathas e Bruno, no Centro de Detenção Provisória de Guarapari.

Hilário foi expulso da Polícia Civil

Hilário Frasson foi oficialmente expulso da Polícia Civil do Espírito Santo em junho do ano passado. A decisão foi confirmada pelo Conselho Estadual de Correição (Consecor), presidido pela Secretaria de Controle e Transparência do Estado (Secont).

O Consecor, última instância administrativa no Estado para servidores civis e militares, manteve, após análise do processo, a decisão do Conselho de Polícia Civil, que decidiu pela expulsão de Hilário Frasson dos quadros da corporação, no dia 25 de setembro de 2019.

Por causa da acusação de ser um dos mandantes do assassinato da médica, Hilário recebeu a pena máxima prevista do Estatuto da Polícia Civil, que é a demissão. Além disso, ele fica impedido de exercer outro cargo ou função por dez anos.

A demissão de Hilário é resultado do julgamento do Procedimento Administrativo Disciplinar (PAD) que o servidor respondia, referente ao homicídio de Milena Gottardi.