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"Se forem soltos, vão matar mais gente", diz tio de Milena Gottardi, médica assassinada em 2017

Julgamento dos seis réus envolvidos na morte da médica começa na próxima segunda-feira. Geraldo Gottardi espera condenação máxima para o ex-policial civil Hilário Frasson e seu pai Esperidião Frasson

Marcelo Pereira

Redação Folha Vitória
Foto: TV Vitória
A médica oncologista Milena Gottardi foi morta em setembro de 2017 ao sair do plantão no Hospital das Clínicas, em Vi´tória

"A justiça no caso de Milena Gottardi vai acontecer se todos pegarem pena máxima, principalmente Hilário e o pai dele, o Esperidião. Eles precisam continuar presos pois são muito influentes. Se forem soltos, vão matar mais gente", afirma o tio da médica, o aposentado Geraldo Gottardi, 69 anos. 

Ele se refere ao resultado do julgamento, que começa na próxima segunda-feira (23), após quatro anos depois do crime. O júri irá definir o destino de seis réus, apontados pelo Ministério Público do Espírito Santo (MPES) como responsáveis pelo assassinato de sua sobrinha em 14 de setembro de 2017. 

O julgamento estava inicialmente marcado para 8 de março, Dia Internacional da Mulher, mas foi suspenso

Milena foi morta baleada na cabeça quando saía do plantão do Hospital das Clínicas, em Maruípe, Vitória. As investigações apontaram a participação do então marido da médica, o ex-policial civil Hilário Frasson, e o pai dele, Esperidião Frasson.

"Nossa família sofreu muito com essa demora. Já vai para mais de três anos desde o crime. Mas, foi mais uma prova de que eles (Hilário e Esperidião) têm contatos com pessoas de poder e tentam adiar o quanto podem. Mas, estaremos atentos. O Judiciário não pode dar mordomia para eles. Não tinham motivo nenhum para fazer o que fizeram. São muito perigosos", aponta. 

Ele acompanhou a sobrinha em seus últimos meses de vida e as tentativas de refazer a vida longe de Hilário Frasson. Segundo ele, Frasson e o pai agiram sob influência da ganância. 

"Milena não queria nada deles. Já havia entregue o carro e disse que não fazia questão de levar nada. Iria se separar de Hilário e sair daquele apartamento praticamente sem nada e recomeçar a vida. Já tinha decidido. Estava muito bem na sua carreira de médica e fazendo pesquisa na área de câncer infantil. Iria abrir uma clínica com outros colegas", relembra. 

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"Ela iria assinar o divórcio no dia seguinte ao que foi assassinada", recorda. Gottardi acredita que poderia ter feito algo na época. 

"De repente, andar mais com ela, dar alguma proteção, não sei de que jeito. Mas Milena disse que não era motivo para a gente ficar preocupado. Ela falava que Hilário era perigoso, mas que tudo já estava certo: ela iria se separar e se afastar dele e que seria feliz com as filhas. O destino foi outro", lamenta.

Filhas de Milena não falam sobre o pai

Após o crime e com o pai acusado de tramar o assassinato, a Justiça deu, em setembro de 2020, a guarda definitiva das duas filhas do casal ao irmão de Milena, o inspetor de solda Douglas Gottardi Tonini. Atualmente, eles vivem em Fundão. 

Foto: Facebook/Reprodução
Douglas Gottardi Tonini, irmão de Milena Gottardi, obteve a guarda definitiva das sobrinhas

Segundo Geraldo Gottardi, as meninas, agora com 13 e com sete anos, tentam seguir a vida da melhor forma possível, cumprindo o cotidiano de toda e qualquer criança e adolescente. 

"Douglas é o amparo delas e está sempre atento. Elas estão na escola, estão indo bem. De vez em quando, Douglas precisa explicar o que aconteceu, a perda da mãe, principalmente para a mais nova que ainda era muito novinha na época do crime. Mas, elas não falam ou perguntam sobre o pai", aponta. 

"A gente evita trazer esse assunto para  elas. É uma situação dolorosa e muito triste para uma criança. Se a gente que é adulto fica sem ter como entender isso, imagine uma criança. Mas elas são fortes como a mãe, estão crescendo bem", informa.

Relembre o assassinato de Milena Gottardi

O assassinato de Milena Gottardi aconteceu na tarde do dia 14 de setembro de 2017 e ganhou grande repercussão no Espírito Santo. A vítima atuava como pediatra oncológica no Hospital das Clínicas, em Maruípe, Vitória.

Quando saía de um plantão, acompanhada de uma amiga, a médica foi abordada, no estacionamento do hospital, por um homem armado, que chegou a anunciar um assalto.

Milena e a amiga chegaram a entregar os pertences ao suposto assaltante. Quando elas se dirigiam ao carro, o criminoso atirou três vezes em direção à pediatra, atingindo a mesma na cabeça e na perna, e fugindo posteriormente. A médica foi socorrida e internada em um hospital, mas morreu no dia seguinte.

A Polícia Civil agiu rápido e, dois dias após a médica ser baleada, dois suspeitos de envolvimento no crime foram detidos: Dionathas Alves Vieira, acusado de ser o executor do crime, e Bruno Rodrigues Broetto, apontado pela polícia como o responsável por conseguir a moto utilizada por Dionathas no dia do assassinato.

A prisão dos suspeitos aconteceu praticamente ao mesmo tempo em que o corpo de Milena era sepultado em Fundão, município onde a médica nasceu e foi criada e onde grande parte de sua família ainda mora.

Com a prisão da dupla, a polícia começou a desvendar o crime e provar que Milena não havia sido vítima de um latrocínio — como fez parecer o autor dos disparos — mas sim de um crime de mando. Faltava, no entanto, chegar aos mentores do assassinato.

Foto: Divulgação

Para conseguir as provas necessárias, a Polícia Civil conseguiu, junto à Justiça, que as investigações corressem sob sigilo. Isso porque o principal suspeito de encomendar a morte de Milena era o ex-marido dela, o então policial civil Hilário Antônio Fiorot Frasson, que atuava como assessor técnico do gabinete do Chefe da PC, Guilherme Daré.

A ideia da Secretaria de Estado da Justiça (Sesp) era justamente impedir que Hilário tivesse acesso às provas obtidas pela Delegacia Especializada em Homicídios Contra a Mulher (DHPM), que conduzia o inquérito.

A prisão de Hilário aconteceu no dia 21 de setembro, exatamente uma semana depois do assassinato de Milena. Ele foi preso na Chefatura da Polícia Civil e encaminhado para um anexo da Delegacia de Novo México, em Vila Velha, onde ficam os policiais civis que são presos.

Mais cedo, no mesmo dia, a polícia havia prendido o pai dele, Esperidião Carlos Frasson, apontado como o outro mandante do crime, e Valcir da Silva Dias, acusado de ser um dos intermediadores do assassinato.

Segundo a polícia, o outro intermediador foi Hermenegildo Palauro Filho, o Judinho, que foi preso no dia 25 de setembro.

Todos os seis suspeitos de envolvimento no assassinato de Milena Gottardi foram autuados pela Polícia Civil, que concluiu o inquérito referente ao crime no dia 18 de outubro. O inquérito foi encaminhado ao Ministério Público Estadual (MPES), que, no dia 27 de outubro de 2017, denunciou os seis indiciados à Justiça.

A denúncia foi aceita no dia 1º de novembro daquele ano pelo juiz da 1ª Vara Criminal de Vitória, Marcos Pereira Sanches, que decretou a prisão preventiva dos seis acusados — que até então cumpriam prisão temporária. Caso sejam condenados, eles poderão pegar até 30 anos de prisão.

Hilário, Esperidião, Valcir, Hermenegildo e Dionathas foram denunciados pelos crimes de homicídio qualificado, feminicídio e fraude processual. Já Bruno responde pelo crime de feminicídio.

Entenda a participação de cada réu no caso

As investigações concluíram que Hilário e Esperidião encomendaram o assassinato de Milena Gottardi por não aceitarem o fim do casamento entre ela e o então policial civil. Para isso, eles teriam contratado Valcir e Hermenegildo para dar suporte ao crime e encontrar um executor.

Ainda segundo a polícia, Dionathas Alves foi o escolhido para executar o "serviço" — como os envolvidos se referiam ao assassinato da médica. Para isso, ele receberia uma recompensa de R$ 2 mil.

Foto: Arte/ Júlio Lopes

Dionathas teria usado uma moto, roubada pelo cunhado Bruno, para seguir de Fundão até Vitória e matar Milena.

O veículo foi apreendido em uma fazenda em Fundão, no mesmo dia em que Dionathas e Bruno foram presos. O executor confesso do assassinato disse à polícia que o crime foi planejado durante cerca de 25 dias.

O inquérito, no entanto, aponta que o planejamento do homicídio começou pelo menos dois meses antes do crime. Segundo as investigações, os seis acusados de envolvimento na morte de Milena Gottardi trocaram 1.230 ligações e formaram uma rede de comunicação antes e após o crime.

Depoimentos de quatro suspeitos de envolvimento do crime detalharam como foi o planejamento do assassinato da médica.

De acordo com informações da Secretaria de Estado da Justiça, Hilário Frasson está preso na Penitenciária de Segurança Média I; Esperidião Frasson, no Centro de Detenção Provisória de Viana II; Valcir, no Centro de Detenção Provisória de Vila Velha; Hermenegildo, no Centro de Detenção Provisória da Serra; e Dionathas e Bruno, no Centro de Detenção Provisória de Guarapari.

Julgamento poderá durar uma semana

O julgamento do caso Milena Gottardi vai começar na próxima segunda-feira (23), às 9h, no Fórum Criminal de Vitória, na Cidade Alta, na capital. Quem comanda é o juiz da 1ª Vara Criminal de Vitória, Marcos Pereira Sanches, o mesmo que presidiu o julgamento do caso Gerson Camata.

Serão seis pessoas no banco dos réus, acusados de assassinar a médica Milena Gottardi. O crime aconteceu em setembro de 2017, no estacionamento do Hospital das Clínicas, em Vitória. 

Serão julgados pelo júri popular, o ex-marido de Milena, Hilário Antônio Fiorot Frasson, o ex-sogro Esperidião Carlos Frasson, além de Valcir da Silva Dias, Hermenegildo Palauro Filho, vulgo “Judinho”, Dionathas Alves Vieira e Bruno Rodrigues Broetto.

De acordo com o Tribunal de Justiça do Espírito Santo (TJES), o julgamento está previsto para durar uma semana. Em razão das medidas de segurança para evitar a contaminação pela covid-19, serão respeitadas as regras de distanciamento social no local.

O que dizem as defesas dos réus

Sobre o julgamento, o advogado Leonardo Gagno, responsável pela defesa de Hilário Frasson, destacou que está confiante de que a justiça será feita.

"Durante o júri, a defesa terá a oportunidade de apresentar provas importantes, aclarar os fatos e demonstrar que a imagem do Hilário foi distorcida pela acusação", afirmou.

Já o advogado Alexandre Lyra Trancoso, responsável pela defesa de Valcir da Silva Dias, disse que, no momento, prefere não dar declarações sobre o júri.

As defesas de Esperidião Carlos Frasson, Hermenegildo Palauro Filho, Dionathas Alves Vieira e Bruno Rodrigues Broetto foram procuradas pela reportagem, mas até o momento, não responderam aos questionamentos.