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De barraco de madeira a imóvel regularizado na Serra: cearense celebra escritura

Francisca Benedita veio do Nordeste para morar em Jardim Carapina há mais de 30 anos. Este ano, ela foi beneficiada com regularização da escritura do seu imóvel

Tiago Alencar

Redação Folha Vitória
Foto: Divulgação
Antônio Galdino, marido de Francisca, recebeu escritura que regulariza terreno onde imóvel do casal foi constru´ído

A pensionista Francisca Benedita Saraiva, de 59 anos, mora no bairro Jardim Carapina, na Serra, há mais de 30 anos. Ela, que veio do Ceará para o Espírito Santo ainda jovem, encontrou no Estado uma chance para recomeçar.

E foi em terras capixabas que a Francisca constituiu família e, com muita luta, conseguiu o seu primeiro lar: um barraco de madeira que depois se transformou no imóvel que ela e o marido, o aposentado Antônio Galdino, mantêm em um terreno cuja escritura não havia sido regularizada até este ano, quando o casal foi selecionado no Programa de Regularização da Prefeitura da Serra.

Francisca contou à reportagem do Folha Vitória, na última segunda-feira (31), que até ter a escritura de seu imóvel regularizada, vivia momentos de dúvida e apreensão, uma vez que, segundo ela, o sentimento era o de não poder usufruir completamente de um bem conquistado com muito esforço e sacrifício.

"A gente agora pode pensar no futuro, em um financiamento para melhorar a casa, por exemplo. Antes não podíamos fazer praticamente nada, porque não tinha escritura. A situação era bem difícil. Graças a Deus, as coisas estão começando a se organizar. Este programa que regulariza as escrituras aqui na Serra vai ajudar muitas famílias a sair dessa situação de incerteza", disse.

Mesmo se dizendo orgulhosa de sua trajetória até aqui, apesar de todos os percalços enfrentados, especialmente no que se refere à concretização do sonho de ter sua própria casa, Francisca disse gostar de falar e pensar sobre o futuro. 

"Agora é olhar para frente e planejar como vamos melhorar ainda mais a nossa casa, já que, com a escritura regularizada, vamos poder fazer isso sem preocupações", frisou.

Mais de 20 mil imóveis regularizados até 2024

Programa de Regularização Fundiária da Prefeitura da Serra, pelo qual Francisca e sua família foram beneficiadas pretende regularizar, até o final de 2024, mais de 20 mil escrituras de imóveis construídos em terrenos que não tiveram a regularização efetivada, mesmo após décadas de ocupação.

A expectativa é que a iniciativa seja levada para cerca 22 bairros do município, com investimentos que alcançam os R$ 16 milhões.

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Batizado de Seu Lar Todo Seu, o programa, este ano, está sendo levado a 12 bairros do município e pretende conceder mais 11 mil escrituras até dezembro. Os investimentos para que isso ocorra somam R$ 5 milhões, somente em 2023.

Regularização fundiária como ferramenta de inclusão social

O processo de regularização fundiária tem entre os seus objetivos o combate aos problemas urbanísticos enfrentados principalmente pelas grandes metrópoles.

Nesses locais, o crescimento desenfreado da população acaba abrindo espaço para as ocupações irregulares, muitas vezes fazendo com que famílias inteiras vivam à margem da sociedade.

Estudiosos do assunto defendem que a regularização fundiária, além de solucionar problemas de ordem urbanística nas cidades, também tem o condão de proporcionar mais dignidade aos moradores, uma vez que eles saem da clandestinidade e entram no mapa social do Estado.

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Cidadania e garantia do direito das famílias

Responsável por acompanhar de perto o programa de regularização fundiária na Serra, a secretária de Habitação do município, Cláudia Silva, avalia a regularização como mecanismo de "promoção da cidadania e do bem-estar da população".

“É um instrumento de promoção da cidadania, um direito. Estamos trabalhando incansavelmente para garantir a efetividade e trazer benefícios para as comunidades”, afirma a secretária.

Escritura valoriza imóveis e garante linha de crédito

Outro ponto importante levantado pela secretária trata sobre a valorização dos imóveis que tiveram escritura regularizada e como isso ajuda no desenvolvimento dos bairros que nasceram de apropriação irregular.

"Com a regularização fundiária, o imóvel passa a ser mais valorizado. Ela (a escritura do terreno) também possibilita ao proprietário a obtenção de crédito diferenciado, taxas de juros mais baixas do mercado; prazo de pagamento facilitado; uso livre do capital levantado; e, ainda, com a possibilidade de concessão a quem, inclusive, está com restrição no nome", avalia Cláudia.

Em termos práticos, no que se refere à facilitação do acesso ao crédito, os moradores cujas residências estão em terreno com escritura regularizada poderão fazer financiamentos a longo a prazo, como para comprar automóveis, custear estudos e até mesmo investir em melhorias nos seus imóveis.

O que diz a lei sobre as regularizações fundiárias?

Atualizada em 2017, a Lei 13.465 trata sobre a regularização fundiária nos âmbitos rural e urbano.

A Fundação Instituto de Terras (ITESP), sediada em São Paulo, diz que a regularização fundiária rural e urbana, dentro dos critérios da norma atualizada em 2017, possui como principais objetivos "estratégicos":

A promoção do "desenvolvimento socioeconômico de pequenos agricultores e trabalhadores urbanos, legitimando suas posses, além fornecer ao Estado mecanismos mais eficientes para a defesa de seus interesses nas ações de desapropriação indireta nas áreas abrangidas por unidades de conservação ambiental e em ações de desapropriação para fins de reforma agrária propostas pelo Incra".