Geral

Ausência ou dificuldade em se adaptar aos recursos tecnológicos representa mais de 40% dos motivos de abandono no Ensino Superior

Segundo estudo, em torno de 6% dos alunos não participam de nenhuma aula on-line e 23% participam de apenas uma parte

Foto: Reprodução

O Grupo de Estudos e Pesquisas Interdisciplinares em Currículo e Sociedade (GEICS) da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM) realizou um estudo a fim de analisar a percepção do aluno do Ensino Superior (graduação e pós-graduação) sobre sua aprendizagem no período de quarentena em decorrência do novo covid-19.

O estudo "Quarentena Covid-19: a percepção de alunos sobre sua aprendizagem" realizado com estudantes de todo o Brasil matriculados em instituições públicas e privadas concluiu que a ausência ou dificuldade em se adaptar aos recursos tecnológicos representa mais de 40% dos motivos de abandono no Ensino Superior, distribuídos em falta de recursos tecnológicos ou recursos financeiros para adquiri-los, sendo responsável por 14% dos alunos não participarem de aulas on-line, enquanto possuir os recursos, mas não conseguir se adaptar a eles recebeu 27% dos votos.

Por conta disso, acredita-se que 6% dos alunos não estão participando de nenhuma aulas on-line no período de quarentena, enquanto 23% participa de apenas uma parte.

Essas estatísticas são reforçadas pelo fato de que 54% dos estudantes nunca haviam tido contato com aulas on-line e ou ensino à distância antes da quarentena. O que acaba por tornar a mudança para a aula "digital" algo com que os alunos não estavam esperando, e nem todos puderam se preparar com facilidade para continuarem seus estudos. O plano analisou o oferecimento das aulas on-line de universidade públicas e privadas e concluiu que 79,2% das instituições estão com todas as disciplinas on-line, 12,5% estão de maneira parcial e 8,3% estão com todas as aulas suspensas.

A incorporação de cultura digital nos processos de aprendizagem é um dos grandes desafios, em especial no Ensino Superior, e acontecia ainda de forma lenta. A partir do da vivência de uma pandemia houve uma ruptura brusca que levou professores de uma semana para outra a migrarem para outros formatos de sala de aula, totalmente medidas por tecnologia. "Esta realidade acelerou a demanda por efetiva educação digital que nos levou a pensar na necessidade de mudança nos paradigmas, numa realidade mais híbrida", afirma Ana Lúcia de Souza Lopes, um das líderes do GEICS.

Esse impacto direto aos alunos, seja os que não possuem os recursos, quanto aos que não estão se adaptando à tecnologia é reforçada pela crescente no uso de videoconferências - que geralmente precisam de algum aparelho eletrônico conectado à uma internet de boa qualidade. Esse formato de exposição das aulas é utilizado por 83% dos professores, segundo o estudo.

Isso é reforçado pela estatística que mostra que 24% dos entrevistados diz não aproveitar as aulas online com novas aprendizagens. Entre os motivos citados, a grande maioria (78%) comenta que falta a intensidade que o presencial proporciona; entre as outras opções marcadas estão, a dificuldade de acesso à tecnologia (29%), a não compreensão (40%) ou falta de interesse (33%) das propostas on-line. Ao todo foram entrevistados 735 alunos sendo 84,3% estudantes da rede privada e 15,7% da rede pública em sua maioria na faixa de 18 a 30 anos.

Essa dificuldade de acesso à tecnologia - ou a adaptação a elas - retorna quando a pesquisa questiona se os alunos acreditam estarem aproveitando as aulas para aprenderem novos conteúdos. 24% votaram não nessa questão, com a dificuldade de acesso representando 30% e a não compreensão da proposta sendo 40%.

O efeito disso é sentido no aproveitamento de estudos do próprio aluno, em que 28% admite tê-lo diminuído e sentido falta de um diálogo mais próximo com os professores, enquanto 22% admitem o mesmo, mas acreditam que a falta de contato com os colegas é pior. Já quem prefere estudar sozinho, mas também sente uma regressão no aproveitamento representa 15%. Por outro lado, apenas 26% acreditam terem melhorado seu desenvolvimento acadêmico.

"Entendemos que esses dados nos auxiliarão na organização de ações de acolhimento dos estudantes, bem como no apontamento de possíveis processos de reflexão com os docentes, na busca de inovar, de mudar paradigmas e de atender aos desafios da educação, a partir da compreensão da cultura escolar", finaliza Marili.