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Mulheres vão poder denunciar violência e fazer até BO em aplicativo da Ufes

App será lançado nesta sexta-feira (21); programa desenvolvido pelo grupo de pesquisa da Fordan e organizado pela Ufes visa diminuir índices de feminicídio

Redação Folha Vitória

Foto: Divulgação/ Pixabay

O programa de extensão e pesquisa Fordan, organizado pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), irá lançar oficialmente uma ferramenta gratuita para denúncias de violência contra mulheres. 

O lançamento do aplicativo acontece nesta sexta-feira (22) e possui enfoque em grupos invisibilizados. 

Segundo Rosely Pires, coordenadora geral do Fordan, o programa possui como objetivo diminuir o índice de violência contra a mulher e mapear os principais grupos afetados, principalmente entre pessoas historicamente marginalizadas.  

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“Esse aplicativo tem o objetivo de reduzir os índices de feminicídio, tendo como principal ferramenta o acolhimento à mulher, independente se ela já está em processo de violência”, destaca a coordenadora. 

O aplicativo de baixo consumo requer uma senha para acesso. Assim que é aberto, a mulher será recebida com a mensagem "Você não está sozinha", escrita em português e em guarani. 

A escolha da frase foi resultado da avaliação positiva da equipe do Fordan em relação ao trabalho realizado pelo programa na comunidade de São Pedro, em Vitória, durante a pandemia de COVID-19.

Durante esse período, foram feitos depoimentos como "vocês cuidam de nós" e "eu não me sinto sozinha", o que levou à compreensão da importância de assegurar que a periferia se sinta cuidada e acolhida.

Como funciona o aplicativo?

Após acessar o aplicativo e fornecer informações pessoais e familiares, a mulher será orientada a responder a uma série de perguntas abrangentes. 

Entre as questões abordadas, estão religiões, identidade de gênero, orientação sexual, além da existência de deficiência (e qual seria), se pertence a uma comunidade quilombola (especificando o quilombo) ou se é membro de uma aldeia indígena (indicando a aldeia). 

Com base nas respostas a essas perguntas e outras, será criado um mapeamento que permitirá identificar, por exemplo, quais mulheres estão enfrentando dificuldades com medidas protetivas, quais boletins de ocorrência não estão sendo devidamente registrados e, mais importante, identificar as principais vítimas de feminicídio.

“O aplicativo vai gerar um banco de dados que, devido a questões éticas, ficará sob os cuidados da Ufes. Assim, pesquisadores e estudiosos do tema terão acesso a dados sobre violência contra a mulher, inicialmente do estado e depois, de todo o Brasil”, destaca.

Vítima pode fazer BO on-line no aplicativo

Uma das funcionalidades essenciais do aplicativo é a capacidade de registrar boletins de ocorrência (B.O.) on-line. 

Para a coordenadora, esse recurso é crucial, pois permite que a mulher seja a protagonista de sua própria denúncia. 

Além disso, o aplicativo oferece outras opções, como a possibilidade de apresentar uma petição para ação de alimentos (pensão alimentícia) e solicitar medidas protetivas de urgência.

Os dados da mulher e solicitações são encaminhados diretamente do aplicativo para o sistema da Defensoria Pública do Estado do Espírito Santo (DPES), que cuidará de todos os procedimentos necessários. As respostas e atualizações do órgão são enviadas diretamente de volta para o aplicativo.

“A mulher, às vezes, consegue a medida protetiva, mas o documento é levado até a casa dela. Aí, ou o tempo já passou, ou o agressor recebe a medida protetiva antes dela e rasga”. 

Caso uma mulher esteja enfrentando qualquer forma de violência, ela terá a opção de acessar uma aba com a função "chamar a polícia". 

Além disso, o aplicativo disponibilizará um recurso de mapeamento das redes de apoio.

“Teremos uma conexão que consegue localizar a mulher, caso ela queira ser localizada, e chamar a polícia. Isto porque há casos em que a polícia é chamada, mas não é possível encontrar a mulher. O aplicativo permite que, caso ela queira, ela ligue o localizador. Isso traz mais rapidez na localização”.

Trabalho de diversos profissionais 

A tecnologia por trás do aplicativo Fordan/Ufes, destinado a denúncias de violência contra mulheres, foi criada por um grupo de pesquisadores e estudantes da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). 

Essa equipe multidisciplinar, composta por profissionais das áreas de direito, informática, saúde, psicologia, educação e cultura, trabalhou em estreita colaboração com 57 mulheres acolhidas e suas famílias, que desempenharam um papel ativo no desenvolvimento do programa. 

“Nós conversamos com todas as redes de apoio e instituições que recebem a mulher vítima de violência, escutamos também cada mulher. O aplicativo traz a realidades dessas mulheres”, afirma Pires.

Durante o período de setembro a novembro, o aplicativo será submetido a uma fase de testes e estará à disposição da comunidade local do bairro de São Pedro, em Vitória. 

A intenção da equipe do Fordan é que, após essa fase inicial, a ferramenta esteja acessível não apenas em todo o estado do Espírito Santo, mas em todo o território brasileiro. 

As mulheres interessadas em fazer o download do aplicativo poderão encontrá-lo no Google Play, após a data oficial de lançamento. 

A criação do aplicativo foi possível devido ao apoio do edital "Mulheres da Ciência", promovido pela Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo (Fapes). Os esforços para a implementação do aplicativo começaram em novembro de 2022.