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Jovens transformam realidade por meio da poesia e dão voz às comunidades em Vila Velha

O projeto Coletivo Nísia tem como objetivo atender jovens e crianças da comunidade periférica, negros, vulneráveis, feministas e LGBTQ+

Foto: Reprodução TV Vitória
Espaço Coletivo Nísia no bairro Terra Vermelha, em Vila Velha

Um grupo de jovens da periferia do bairro Terra Vermelha, em Vila Velha, encontrou na cultura e na educação uma oportunidade de darem voz à comunidade e de incentivar outros através de poesias. 

O grupo Coletivo Nísia é uma organização que defende os ideais de grupos considerados minoria como feministas, LGBTQ+, negros e pessoas que vivem em comunidades periféricas. É nesse ambiente que inúmeros talentos estão nascendo. 

Foto: Reprodução / Instagram Coletivo Nísia

A Julia Ramos, moradora do bairro Ulisses Guimarães, é poeta e faz parte do grupo Nísia. Quem a vê andando pelas ruas da comunidade nem imagina que ela é referência no Slam, um movimento de batalhas de poesias. Os textos são criados pelos próprios artistas. Ela contou que a poesia a faz se sentir livre.

"Eu acho que a poesia vem para colocar nossa realidade e, a essa realidade, não nos deixa sermos felizes para sempre. Então, a poesia vem como uma liberdade, para você conseguir externar isso e colocar no papel. Mostrar que outras pessoas também se sentem dessa maneira e que você não esta sozinho", ressaltou ela.

A poeta ainda relatou que muitas colegas da escola a veem como inspiração e referência na área. Muitas delas, começaram a escrever por causa dela.

"Na escola vinham muitas meninas falando que começaram a escrever por minha causa, que gostaram muito da minha poesia e que queriam que eu lesse porque queriam minha aprovação", explicou.

Sobre o Projeto Coletivo Nísia

O projeto conhecido como Coletivo Nísia foi criado pela professora de língua inglesa e coordenadora do grupo, Daniela Andolphi que explicou que percebeu na sala de aula a necessidade de ajudas os alunos a se expressarem. 

"Eu sei que existe uma potencia artística aqui dentro, tanto dessa periferia quanto de outras. É imensurável. As pessoas também não conhecem (projeto), só gostamos daquilo que conhecemos. Antes da pandemia, fazíamos eventos culturais, de segunda a segunda, batalha de rima, slam, sarals", destacou ela.

A professora e coordenadora ainda reforçou que, além de tornar possível a expressão, o Coletivo Nísia também revelou diversos talentos. 

O Coletivo conta com um espaço criado pelo Governo do Estado para apoiar projetos que colaborem com a educação de jovens e crianças. O desafio é fazer com que tudo chegue a quem mais precisa. 

"O objetivo é alcançar um número maior de meninas e meninos, porque os meninos precisam ser educados. Precisam ouvir as meninas e pensar que eles já vacilaram para com elas em algum momento", esclareceu a professora e coordenadora do projeto. 

"Nesse ambiente que estamos temos três pessoas do Coletivo empregadas com 17 ou 18 anos. É um órgão estadual. Eles foram contratados pela competência que tem. Estamos a passos lentos, mas constantes, conseguindo modificar a vida de pessoas", afirmou.

A educação pode salvar?

Outro talento foi a Julia, de 19 anos, conhecida como "Jhu Dlyra", que também é poeta e sempre teve gosto pela leitura e escrita. Ela exaltou a salvação por meio da cultura e educação. 

"Temos que entender que a educação salva. A cultura também salva. Então, procurar esses espaços que proporcionem esses aprendizados é de suma importância".

Os jovens poetas e artistas que compõem o projeto de poesias faladas no bairro de Terra Vermelha encontraram na poesia uma maneira de colocar para fora o que sentem internamente mediante as experiências em sociedade. 

"N´os falamos da nossa vivência. Colocamos aquilo que a gente passa, o que a gente sente, pra fora. Nada mais que isso", pontuou o poeta Caio Carvalho. 

A mensagem passada pelos organizadores é que as experiências vividas pela minoria nas comunidades não se trata de algo individual, mas sim em coletivo. 

"A gente compreende aqui no Coletivo que as opressões que as pessoas passam não atuam em isolamento, mas em conjunto. Então, existem muitas coisas em comum e muitas possibilidades também de ação conjunta de grupos diferentes que passam por essas opressões, para que se encontrem realmente alternativas", esclareceu o realizador cultural Marlon Coutinho.

"É Terra Vermelha, né? Precisamos ter em mente também que existem pessoas trabalhadoras e que estão buscando. Eu encontrei na educação a minha válvula de escape", ressaltou a artista Jhu Dlyra.

*Com informações do repórter Douglas Camargo, da TV Vitória / Record TV